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Crítica | O Aleijadinho (1978)

Tragédia e grandeza.

por Fernando JG
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O derradeiro curta-metragem de Joaquim Pedro de Andrade vem com menos fórmula e mais fluidez. Ou melhor: mais objetivo, menos ambicioso, não obstante seu tema. Sabe-se que desde o início de seu projeto cinematográfico, ainda antes de ter suas obras-primas, Joaquim Pedro almejara escrever sobre e para o Brasil. Nisso, encontramos O Mestre de Apipucos e O Poeta do Castelo, filmes curtos que tinham como objetivo ler grandes personalidades nacionais e colocá-las em foco. Os ecos da sua proposta reverberam pela última vez aqui, em O Aleijadinho.

O modernismo tardio, se podemos pensar assim o Cinema Novo, concebe essa obra barroca como uma espécie de vitrine da arte local mais elevada e meticulosa, do processo criativo mais expressamente dramático que a arte plástica brasileira já atingiu com a finalidade de valorizar o objeto local. O filme é ambientado em Minas, no berço da tradição barroca, com roteiro de Lúcio Costa e fotografia de Pedro de Moraes, sob financiamento-encomenda da Unesco e fundos do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Não há inovação. Esqueça o traço estilístico que marca sua prosa cinematográfica. O curta é contemplação de um passado supostamente glorioso que enaltece, por imagens gerais, o artista que, barroco, esculpiu Jesus e seus anjos em graça nas capelas de Vila Rica. 

Primeiro plano. Narração em off (Ferreira Gullar). Câmera-eye. Contemplação. As imagens emulam a visão de um alguém que vê tamanho fascínio. O filme é simples. Simples até demais. Na verdade, ele conta uma pequena cronologia da vida e obra de Antônio Francisco Lisboa. Sua sina trágica, que antecede o destino dos românticos, está inclusa no pacote. A sua tragédia é sua grandeza e isso o filme-documentário bem destaca. Como Jesus na cruz, Aleijadinho também fora carregado por homens e também teve sua redenção. Tudo está posto em imagens que utilizam conceitos de alegoria e agudeza, ideias barrocas por natureza. O filme passeia bem ao estilo das épicas oitocentistas, num estilo de homenagem e exaltação. 

No mais, não é possível ver desenlace e desenredo de uma carreira nesta obra de fim de festa de Joaquim Pedro. Seu final feliz encontra-se em O Homem do Pau-Brasil, no qual obtém a síntese de toda uma trajetória. O Aleijadinho, por sua vez, presta sua homenagem a um gênio artístico em forma de gênero estritamente epidítico e Joaquim P. entrega um cinema demonstrativo e uma carta de amor à brasilidade que tanto abraçou em seus trabalhos. 

O Aleijadinho (Brasil, 1978)
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Roteiro: Lúcio Costa
Duração: 30 min.

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