Penso que foi positiva a mudança de foco que a Big Finish fez entre a 4ª Temporada da série O 8º Doutor: Guerra do Tempo, e esta aqui, subtitulada Cass. A personagem central é alguém que conhecemos por um breve instante nos primeiros minutos de A Noite do Doutor (2013), levando à morte do 8º Doutor e fazendo nascer, com a ajuda das irmãs de Karn, o Doutor da Guerra. Quando vi o subtítulo da temporada, fiquei receoso. Claro que a BF não iria reescrever os eventos canonizados pela TV, porque essa é uma das restrições impostas pela BBC à empresa, mas ainda assim, alguma mudança precisaria ser feita para que o Doutor tivesse conhecido e viajado com Cass, em algum momento de suas vidas. E, para ser sincero, o caminho que o trio Tim Foley, Lou Morgan e James Moran fizeram para sustentar essa visão é sim muito interessante.
Meu episódio favorito da temporada é Meanwhile, Elsewhere, de Tim Foley. Nele, temos bem estabelecida a jornada que o 8º Doutor está fazendo com o seu bisneto Alex (filho de Susan e David, citado inicialmente em Mary’s Story e estreando oficialmente no Universo Expandido em An Earthly Child — ambas histórias de 2009). É uma trama com uma mudança rápida de espaços de ação, com chegadas e partidas de pessoas e naves e um mistério que nos intriga desde os primeiros minutos. Gosto imensamente de tudo o que o roteiro desse episódio apresenta, porque as dúvidas são bem trabalhadas pelo texto e, mesmo que não tenhamos ainda nenhuma resposta, já conseguimos entender a ideia por trás da presença de Cass aqui. E acreditem, tanto este episódio quanto o último fazem A Noite do Doutor ser ainda mais triste.
Em Vespertine, de Lou Morgan, vemos a linha narrativa central da temporada ganhar corpo. Ken Bentley, o diretor, não tem mais a seu favor a ação inteligente de diversos eventos acontecendo em lugares distintos, mas tem a estreia de Cass na TARDIS, mantendo uma excelente química com o Senhor do Tempo e Alex, que se revela um fantástico companheiro, com postura muito boa em momentos de pressão, crise e necessidade de uso de habilidades especiais. As coisas ficam mais sérias quando a equipe chega a uma instalação de pesquisa clandestina erguida sobre os destroços de uma nave exploradora desaparecida há muito tempo. É um episódio que começa a mostrar claramente o desenho imaginado pela produção para a temporada, e já podemos ver a situação que levará Cass e o Doutor a se esquecerem. É um paradoxo temporal cheio de tristeza, do início ao fim.
James Moran tenta seguir os passos de Tim Foley criando o seu episódio em duas partes e encerrando a temporada. Previously, Next Time me traz algumas ressalvas na apresentação dos personagens, mas quando o conceito geral é finalmente fixado, as pontas soltas, os paradoxos, as linhas do tempo e os encontros e desencontros durante a Guerra do Tempo são finalmente explicados. Não digo que morro de amores por essa conclusão, mas acho-a sólida e respeitosa com a proposta geral da temporada. Pela forma como termina esse duo, talvez ainda haja a possibilidade de usarem Cass em outra temporada. No entanto, já temos claro o motivo da postura dela em A Noite do Doutor: assim como muitas coisas durante a Guerra do Tempo, a memória dela e do Doutor foi reescrita; suas linhas do tempo foram reescritas. Tiveram uma história juntos. Viajaram e viveram coisas interessantes juntos. Mas por particularidades da guerra (e sim, tudo acaba se voltando para os Daleks), esqueceram de tudo. É triste ou não é?
The Eighth Doctor: Time War – Cass (Reino Unido, 18 de janeiro de 2023)
Direção: Ken Bentley
Roteiro (na ordem de episódios): Tim Foley, Lou Morgan, James Moran
Elenco: Paul McGann, Emma Campbell-Jones, Sonny McGann, Jaye Griffiths, Nicholas Boulton, Greig Johnson, Simon Shepherd, Indigo Griffiths, Homer Todiwala, Ian Cunningham, Nadia Albina, Gareth Armstrong, Nicholas Briggs, Michael Chance
Duração: 2 episódios c. 70 minutos cada e 1 episódio de 130 min.
