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Crítica | O 8º Doutor: Guerra do Tempo – 4ª Temporada

Timey wimey demais pra nossa cabeça...

por Luiz Santiago
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Uma das coisas que me fez gostar bastante do Finale da temporada passada de O 8º Doutor: Guerra do Tempo, foi o fato de que o Valeyard em seu loop temporal, sua batalha contra as próprias memórias e “o fim dos Daleks e da Time War” pareciam algo isolado, sequência de viagem única, um evento inédito que não seria replicado. Para a minha tristeza, porém, a produção da série dobrou a aposta e resolveu investir ainda mais nesse tipo de construção, primeiramente num caminho que é sim interessante (pelo mesmo motivo que o de A Guerra Valeyard) e depois disseminando-se por uma miríade de possibilidades, confundindo desnecessariamente o público e criando uma situação que torna as alterações na linha do tempo, os Universos paralelos e toda a “divagação temporal“, que a gente tanto gosta, uma bolha de bagunça dramática e chatice indecifráveis.

A abertura do grande arco se dá com Palindrome (dividido em duas partes, ou seja, os episódios 1 e 2 da temporada), escrito por John Dorney. Esse duo é formado por um primeiro capítulo que é obra-prima, e um segundo um pouco abaixo em qualidade, mas ainda assim, ótimo. A linha que Dorney adota é que, neste Universo paralelo, ainda no planeta Skaro, Davros é um cientista respeitado e humanitário, vivendo em paz com sua esposa da raça Thal. Ele está vistoriando uma invenção nova, um portal que pode abrir uma fenda entre realidades; e é com essa premissa que temos a justificativa para a passagem do Doutor e Bliss a este Universo (ainda como consequência direta de uma fragilidade na teia espaço-tempo, por conta das ações do Valeyard em Grahv), assim como do Dalek Estrategista e do próprio Davros de um outro Universo. Inicialmente, a trama é sublime. O cientista tem sonhos sobre o futuro e tem encontros enigmáticos com o Doutor e Bliss. É divertido e, ao mesmo tempo, inquietante acompanhar as pequenas tragédias se realizando. Mesmo na segunda parte de Palindrome, a abordagem ainda funciona, embora já um pouco desgastada. O problema é que a jornada de wibbly wobbly não para por aí.

Se as alternâncias de linha do tempo e toda a bagunça com o portal do tempo e o Dalek Estrategista tivessem sido finalizadas na segunda parte de Palindrome, muito provavelmente a temporada estaria acima da média. Ocorre que no terceiro episódio, Dreadshade, de Lisa McMullin, os nós ainda continuam. Embora não estejamos falando mais de um Universo paralelo, as referências a personagens da aventura anterior, a presença da sempre intrigante e confusa The Twelve e do Dalek Estrategista dão um chacoalhão no cérebro. A questão, porém, se torna ainda mais estranha quando o roteiro toma um ponto de vista bem peculiar em relação à Guerra do Tempo, contando com a ideia de um “apagamento do conflito“, fazendo o espectador ficar muito mais tempo tentando entender a linha de raciocínio de toda a ventura do que aproveitando aquilo que ela tem para oferecer.

A coroação vem no pior episódio da temporada, aquele que encerra toda a lambança: Restoration of the Daleks, de Matt Fitton. Este é basicamente um derivativo incompreensível dos episódios anteriores, com o retorno dos Daleks ao teatro de guerra e com o samba torto do “comportamento diferente” rondando Davros — que a esta altura do campeonato já é um obstáculo chato para a trama geral. Isso tudo é uma pena, porque o elenco todo é muito bom, e não posso deixar de destacar a atuação memorável de Terry Molloy, como Davros. É sempre gratificante ver o ator em ação, interpretando esse personagem tão importante desde Resurrection of the Daleks (1984). A trilha sonora dessa temporada também é algo que merece os devidos aplausos, com o compositor Jamie Robertson equilibrando o épico, o suspense, a música de guerra e de contrição, gerando uma identidade muito bonita e muito tocante ao longo dos 4 capítulos.

Infelizmente, a ideia geral para o quarto ano da série não é das melhores e, exceto pelo incrível episódio de abertura e o ótimo segundo episódio, todo o restante só faz nos irritar e confundir. Não espanta nada o fato de que, na temporada seguinte, a Big Finish tenha redefinido toda a estrutura do show, criando um processo narrativo diferente e destacando o protagonismo de Cass… Sim, aquela soldado que se recusou a entrar na TARDIS e acabou causando a morte do 8º Doutor, em The Night of the Doctor.

The Eighth Doctor: Time War Vol.4 (Reino Unido, 16 de setembro de 2020)
Direção: Helen Goldwyn
Roteiro (na ordem de episódios): John Dorney, Lisa McMullin, Matt Fitton
Elenco: Paul McGann, Rakhee Thakrar, Terry Molloy, Isla Blair, Nicholas Briggs, Ken Bones, Chris Jarman, Julia McKenzie, Suzanne Procter, Adèle Anderson, Jemima Rooper
Duração: 4 episódios c. 50 minutos cada

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