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Crítica | Nurses – 2ª Temporada

Melhoria substancial em sua estrutura dramática.

por Leonardo Campos
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Responsáveis, em linhas gerais, pela anamnese, bem como acompanhamento dos pacientes da entrada ao momento da saída durante a permanência num hospital, os enfermeiros possuem vida longa na ficção cinematográfica, mas com exceção da popular Nurse Jackie, brilhante série em sete temporadas, protagonizada por Edie Falco. Na televisão, por sua vez, tais profissionais que são a base da dinâmica hospitalar não tiveram programas globalmente conhecidos, sendo os médicos as figuras mais representadas ficcionalmente. Assim, a proposta canadense Nurses estreou em 2020, não necessariamente com a missão de preencher esta lacuna, mas com interesse em fazer uma abordagem na seara dos dramas médicos que não tivessem os cirurgiões ou médicos e médicas como pontos nevrálgicos. Tais profissionais, pontes entre setores no cotidiano hospitalar, ganharam uma primeira temporada morna e sem magnetismo, seguida de uma nova empreitada de episódios mais envolventes e interessantes, demonstração da possibilidade de evolução dramática quando os momentos preambulares parecem sem chances de permissão para a renovação e o cancelamento é algo quase inevitável.

Criada por Adam Pettle, a segunda temporada de Nurses traz 10 episódios que gravitam em torno dos 42 minutos de duração. Em sua sala de roteiristas, Laura Good e Anusree Ray continuam como dois dos roteiristas mais constantes na temporada, responsáveis pelos textos dramáticos dirigidos por Winnifred Jong, Kelly Makin, Sherry White, dentre outros, sendo o trio as presenças mais predominantes na função de gerenciamento do programa. A equipe de enfermeiros ainda se mantém sob o olhar experiente e insuportável do propositadamente antipático Damien Sanders (Tristan D. Lalla), mais importante na temporada anterior, agora eclipsado pela administração da nova diretora de enfermagem, Kate Faulkner (Rachael Ancheril), uma mulher inicialmente compreendida como algoz, dona de uma liderança verticalizada e aparentemente agressiva, mas que ao passar dos episódios, demonstrará que há estratégias assertivas por detrás da sua maneira de ver e gerir as coisas ao longo dos acontecimentos da temporada, mais uma vez veiculada pelo canadense Global Television Network.

O padrão da narração em off continua sendo de uma das enfermeiras mais centrais da história, Grace (Tiera Skovbye), algo já costumeiro no meio dos dramas médicos, elemento de destaque das dezoito temporadas de Grey’s Anatomy. Como mencionado no texto sobre a primeira temporada, ela é uma jovem idealista, muitas vezes, sonhadora, mas por debaixo desta superfície há alguém que passou por situações constrangedoras em sua experiência profissional anterior, algo devidamente resolvido para a chegada de novos dramas na jornada em questão. Em suma, uma situação do passado que ficou como lembrança, não desejável, mas na seara da terapia e da busca por superação. Para os realizadores da série, Grace é o coração, o elemento que bombeia as emoções do programa. Naz (Sandy Sidhu), jovem enfermeira oriunda de família rica, mas que deseja a sua própria emancipação, sem ser dependente, vive a jornada em busca de sua casa própria, mantendo-se como o cérebro da série, sempre organizada, observadora e quase em todos os momentos, cautelosa. Keon (Jordan Johnson-Hinds), considerado pelos realizadores como a coluna vertebral, porta-se como alguém que permite a sustentação de muitas situações do hospital, diferente de Wolf (Donald MacLean Jr.), o pulmão do programa, jovem envolvido constantemente em situações ofegantes, perigosas para si e para os demais. A melhor da equipe continua sendo Ashley (Natasha Calis), segura de si, firme em seu lado profissional e pessoal e sempre a tomar as rédeas das situações mais conflituosas. Ah, e questionadora.

No Hospital St. Jude, ao longo da temporada, não faltará emoção: os habituais casos de assédio sexual e representatividade ganharam passagens muito adequadas, com discussões que vão além do superficial para debater, com firmeza, tais problemas que parecem ser a sina da humanidade. O momento novelesco fica por conta de um jovem sequestrador, abalado e sem a guarda da filha, a circular com a menina pelo local até ser desmascarado, perseguido, colocando não apenas a sua vida em risco, mas a da criança, bem como da enfermeira que decide bancar a heroína para resolução da situação. O trecho “Instagram” é estabelecido após o acionamento do Código Laranja, quando um acidente num show de uma dupla de artistas pop causa estrago e deixa um monte de gente ferida. Algumas vítimas, em especial, quatro adolescentes bobas e desvairadas, criam o clima de humor para quebra da tensão dramática, desde os seus diálogos pueris, mas engraçados, ao desejo de tornar tudo postagem para as redes sociais. Temos ainda um emocionante episódio com um paciente vitimado por queimaduras e a costumeira chegada de um ranzinza que não quer ficar internado, implicando com tudo e com todos, alguém que representa o velho clichê do homem chato que esconde, por detrás, um lado adorável.

No que tange aos aspectos estéticos, Nurses apresenta boa condução audiovisual. O design de produção continua por conta de John Dandertman, setor do programa que mantém padronizado o diálogo com as regras básicas da visualidade nas séries médicas: predominância do azul em consonância com o branco para a criação de contrastes. Com jornada acompanhada pela música de Ian LeFeuvre, a trilha sonora ao longo da segunda temporada continua seguindo os passos do primeiro ano, sem aparecer muito intrusiva. Na direção de fotografia, Thom Best entrega o esperado deste tipo de material, isto é, planos mais próximos nos momentos de exasperação dramática, iluminação que reforça os tons empregados pela cenografia e direção de arte, juntamente com enquadramentos mais abrangentes a cada passagem de cena, tendo em vista contemplar a dinâmica geral do hospital em questão, espaço cênico para os dramas destes enfermeiros que aparentemente possui gás para mais temporadas. Se souber continuar trabalhando adequadamente os dilemas pessoais e profissionais sem sobreposições excessivas e manter o ritmo mais agitado, ao contrário do tom morno quase frio da primeira temporada, há grandes chances de crescimento para este drama médico situado em Toronto. Basta esperar.

Nurses (idem, Canadá/202).
Criação: Adam Pettle
Direção: Ken Girotti, Grant Harvey, Kelly Makin, Jordan Canning
Roteiro: Laura Good, Anusree Roy, Adam Pettle
Elenco: Tiera Skovbye, Natasha Calis, Jordan Johnson-Hinds, Sandy Sidhu, Donald MacLean Jr., Cathy White, Ryan-James Hatanaka, Tristan D. Lalla, Nicola Correia-Damude, Alexandra Ordolis
Duração: 45 min. (cada episódio – 10 episódios no total)

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