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Crítica | Nova Luta Sem Código de Honra: Últimos Dias do Chefe

por Ritter Fan
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De 1973 a 1976, Kinji Fukasaku, em parceria com a Toei, colocou nas telonas japonesas nada menos do que oito longas-metragens focados na história da Yakuza após a Segunda Guerra Mundial tendo Bunta Sugawara como protagonista, um feito impressionante sob qualquer ângulo de análise. Os cinco primeiros filmes contavam, em grande parte, uma história única ao longo de três  décadas localizada em Hiroshima e arredores, refletindo os artigos jornalísticos escritos por Koichi Iiboshi, por sua vez baseados nas memórias de Kōzō Minō, membro verdadeiro da máfia japonesa. Os três filmes seguintes ao contrário dos anteriores, contam três histórias auto-contidas e sem base direta em fatos reais, mas mantendo Sugawara como protagonista, mas em três papeis diferentes.

Nessa segunda fase, se pudermos chamar assim, Fukasaku fez Nova Luta Sem Código de Honra, lançado no mesmo ano de Episódio Final, ainda seguindo a estrutura familiar da pentalogia original, ou seja, usando linguagem jornalística para emular as reportagens e para tornar mais fácil a navegação pelos diversos personagens apresentados de maneira frenética, pertencendo a várias famílias e sub-famílias diferentes da organização. No entanto, o cineasta não gostou muito do roteiro de Fumio Kônami e, no segundo longa, Nova Luta Sem Código de Honra: A Cabeça do Chefe, entregou o material a Susumu Saji que fez um primeiro tratamento, mas que acabou refinado por Kôji Takada, roteirista de Episódio Final trazido de volta por Fukasaku com essa intenção. E é Takada que, sozinho, acabou escrevendo o último capítulo da trilogia, Últimos Dias do Chefe, que consegue ser não só um dos melhores da série que ficou conhecida no Ocidente pelo nome amplo The Yakuza Papers, como também o mais diferente.

No longa, Sugawara vive Shuichi Nozaki, um mafioso leal à família Iwaki, mais especificamente ao seu chefe (vivido por Jun Tatara) que o prepara para ser seu herdeiro e substituto. No entanto, o chefe Iwaki é morto como parte dos usuais conflitos internos e Nozaki fica obcecado em vingá-lo a todo custo, mas os negócios da Yakuza o fazem perder apoio, o que só recrudesce sua vontade de ver sangue. O filme, portanto, é uma longa narrativa clássica de vingança, com Nozaki e sua gangue tentado de tudo para alcançar seu objetivo e perdendo gente a cada nova tentativa que, por sua vez, retroalimenta a raiva auto-destrutiva do protagonista.

Em termos de estrutura e linguagem, este é sem dúvida o longa mais objetivo e direto de todos os oito da série, mas isso não o torna menos interessante ou relevante, pois Sugawara tem, aqui, seu mais amplo espaço para construir seu personagem, que vai de um bandido grato pelas chances dadas por seu chefe até um enlouquecido assassino sanguinário capaz de qualquer coisa para fazer o que acha que precisa fazer. Por seu turno, Fukasaku também tem espaço para inventar, largando de vez sua pegada jornalística e partindo para sequências de ação que não havia ainda tentado.

Claro que o diretor mantém sua assinatura clássica – a câmera na mão em meio à confusão, lutas e tiroteios -, mas ele dá um passo além e consegue coreografar excelentes perseguições automobilísticas que não deixam muito a desejar a diversos filmes de James Bond, mas sempre mantendo os pés no chão, o que imprime realismo, e com toda aquela energia impressionante que cada sequência de seus longas da série transmite. Pela natureza das sequências automobilísticas, os planos são mais longos e com menos cortes, o que permite uma melhor impressão de fluidez, mesmo quando o cineasta alonga talvez um pouco demais as perseguições, provavelmente empolgado com o resultado.

Últimos Dias do Chefe é um excelente encerramento para a “octologia” sobre a Yakuza capitaneada heroicamente por Fukasaku em velozes e furiosos três anos. Poucos cineastas teriam o gabarito para fazer o que ele fez mantendo a qualidade no alto e entregando obras icônicas que, sozinhas, criaram um sub-gênero de filmes policiais baseados em fatos reais que passariam a ser uma febre no Japão.

Nova Luta Sem Código de Honra: Últimos Dias do Chefe (Shin Jingi Naki Tatakai: Kumicho Saigo no Hi, Japão – 1976)
Direção: Kinji Fukasaku
Roteiro: Kôji Takada
Elenco: Bunta Sugawara, Koji Wada, Chieko Matsubara, Isao Bito, Takuya Fujioka, Eitaro Ozawa, Mikio Narita, Kenichi Sakuragi, Rie Yokoyama, Hiroshi Nawa, Jun Tatara, Michiro Minami, Eiji Gō
Duração: 91 min.

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