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Crítica | Nossos Sonhos de Marte

Nada de novo, mas não tão previsível quanto você pensa.

por Roberto Honorato
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O primeiro grande indicativo do que podemos esperar do enredo desse filme está logo no título original, Nossos Sonhos de Marte (algo como “Tiro na Lua”, uma expressão para algo pouco provável de acontecer), que acaba sendo uma brincadeira esperta com a relação confusa entre as personagens do filme, mas considerando o fato de que a trama inteira envolve apenas uma viagem para marte, fica um pouco desnecessário criar essa piada no título. Entendo que parece uma comparação tão estranha quanto as decisões do longa, mas ela serve para deixar claro como esse é um drama mais voltado para a comédia romântica, onde a ciência não é importante – e nem precisa, já que o próprio filme não procura esse compromisso com os elementos mais científicos (é só dar uma rápida olhada em qualquer um dos pôsteres estampando a cara do Cole Sprouse e da Lana Condor em típica pose “será que eles ficam juntos no final?”).

Em um futuro onde a humanidade foi capaz de colonizar Marte, Walt (Cole Sprouse) tenta de tudo para ser escolhido por uma grande empresa para visitar o planeta e provar seu valor, mas sem dinheiro ou mesmo o talento, tem todas as suas inscrições para o programa espacial rejeitadas. Quase desistindo e trabalhando em um emprego que não suporta, um dia Walt encontra Sophie (Lana Condor), que pretende visitar o planeta para trabalhar ao lado de seu namorado, fazendo com que Walt tenha a ideia de acompanhá-la “clandestinamente” para conseguir uma vaga na nave para o espaço.

Com certeza, o parágrafo anterior parece faltar alguns fios condutores, e isso está mais ligado ao péssimo trabalho do filme em estabelecer uma premissa sólida. O roteiro do estreante Max Taxe tem sucesso quando procura alívios cômicos ou momentos românticos entre as personagens, mas toda vez que precisa retornar para qualquer linha dramática atrelada à trama principal das personagens e suas maracutaias para se infiltrar em marte, o filme dá tropeços difíceis de disfarçar.

Em algumas situações, dá pra sentir que o roteiro foi constantemente reescrito ao ponto de perder consistência narrativa, e isso fica visível logo nos primeiros minutos, com Walt indo de um jovem com o sonho de “ser alguém” na colônia para ter como motivação reencontrar uma ex-colega de classe por quem se apaixonou nas últimas 24 horas. Essa subtrama do interesse amoroso de Walt, além de ser quase desnecessário para as resoluções da obra, foi jogado de forma tão gratuita que tinha esquecido completamente dela na descrição da premissa. 

O enredo não é consistente, a direção pode ser preguiçosa e a música não consegue complementar o tom ou ambientação de forma eficaz (a parte técnica toda não tem muito brilho), mas estaria mentindo se dissesse que o romance e a comédia não funcionam, seja pelas atuações ou o próprio roteiro, que até entrega boas piadas. Tem um tipo de zombaria com narrativas de ficção científica que sempre me diverte: o uso exagerado de termos como “espaço” sendo utilizado quase como um prefixo para qualquer palavra, seja ela espaço-cozinha, espaço-garfo e faca ou espaço-banho, por exemplo, do mesmo jeito que a expressão “quântico” é utilizada em quase todo diálogo de Homem-Formiga.

É importante reforçar que a maioria dessas piadas não funcionaria sem alguém como Cole Sprouse falando coisas estúpidas com a maior confiança do mundo enquanto Lana Condor tenta manter a seriedade. A combinação faz com que o filme tenha um bom equilíbrio entre comédia e romance por conta do repertório de cada ator (Sprouse mais conhecido pelas séries de Zack & Cody e Riverdale, e Condor pela trilogia Para Todos os Garotos que já Amei), então se você estiver procurando apenas um filme para passar a hora com seu próprio interesse amoroso, talvez esse sirva para divertir.

Nossos Sonhos em Marte não tem sucesso em diversos departamentos, e pode ser um pouco repetitivo depois de uma virada na trama que, admito, não vi chegando. Ainda assim, algumas atuações de um elenco acertado fazem com que a comédia funcione talvez melhor do que o próprio roteiro propôs, considerando como ele parece mais confuso que as personagens do filme.

Nossos Sonhos de Marte (Moonshot | EUA, 2022)
Direção: Christopher Winterbauer
Roteiro: Max Taxe
Elenco: Cole Sprouse, Zach Braff, Lana Condor, Peter Woodward, Henson Milam, Likas Cage, Sarah Stipe, Kabby Borders, Mason Gooding, Drez Ryan, Christine Adams, Chelsea Alana Rivera, Emily Rudd, Katherine Barnes, Cameron Esposito
Duração: 104 minutos.

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