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Crítica | Nosferatu: Uma Sinfonia de Horror, de Hughes Chelton

A convergência do clássico expressionista alemão sob a perspectiva de uma novelização francesa.

por Leonardo Campos
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Uma obra-prima do cinema expressionista, dirigida por Murnau em 1922. Nosferatu: Uma Sinfonia de Horror, adaptação não autorizada do clássico romance Drácula, de Bram Stoker, deu o que falar em sua época de lançamento e ainda promove intensos debates na contemporaneidade, sendo uma das grandes referências não apenas dos primeiros passos do cinema em seu processo de formatação de linguagem, mas também da história do horror enquanto atrativo nesta arte ainda muito proeminente na atualidade. Quando lançado, o filme em questão causou alvoroço e teve um percurso peculiar para chegar até os nossos tempos. Processados pela viúva de Stoker por plágio, os realizadores faliram a produtora que tinha da narrativa o seu primeiro investimento, tendo sido ainda obrigados a destruir todas as cópias do filme, algo que não se efetivou, para o bem da preservação desta pérola da sétima arte considerada um dos patrimônios da linguagem cinematográfica. O impacto foi tamanho que, em 1925, o misterioso Hughes Chelton recebeu a incumbência de transforma-lo em novela, sendo a primeira publicação aqui no Brasil, disponibilizada apenas em 2023, a edição que apresento por aqui, caro leitor.

Ao mencionar o autor e trata-lo como misterioso, não delineio apenas o seu traço enquanto escritor, muito competente, por sinal. Digo isso com base no desenvolvimento dos textos complementares de Nosferatu: Uma Sinfonia de Horror, mais abundantes que o texto literário em si, material de enorme riqueza, contemplado mais adiante nesta reflexão. Segundo as pesquisas empreendidas em torno desta novelização, pouquíssimos rastros foram deixados por Hughes Chelton, dados que impedem uma contemplação mais profunda diante deste processo de novelização que é parte do que debatemos hoje como cultura da convergência. Em resumo: um filme que resulta em livros, games, pacotes de viagens turísticos e outras demandas que permitem a ampliação do universo temático da produção. Sendo assim, sem mais informações para descortinar o modo de operação do autor, nos resta analisar a sua assinatura nesta transformação menos comum entre as artes: o cinema que metamorfoseado em literatura.

Dividida em duas partes, a novelização traduzida por Bruno Anselmi Matangrano se desenvolve em Nosferatu, o Vampiro e O Espectro da Morte Negra. Com muitas ilustrações provenientes das passagens do filme, o texto flui de maneira muito dinâmica e envolve o leitor nas abordagens do assombroso ser maligno que devasta não apenas a vida do casal Jean Hutter e Hélene, mas de todos aqueles que atravessam o seu caminho.  Até mesmo para os acostumados com o gênero em questão, conhecido por seus tópicos temáticos sombrios e violentos, a novelização deste clássico de oferta como eficiente. Os detalhes na descrição dos espaços, o emprego adequado de adjetivo, bem como as escolhas dos personagens, tudo flui de maneira muito envolvente, demonstração de um trabalho de tradução entre suportes narrativos realizado com esmero. A primeira parte, enigmática, estabelece o tom e nos apresenta melhor o Conde Orlok, sendo a segunda mais fincada no horror gráfico, haja vista a presença do vampiro em seu projeto de destruição de outras vidas além do casal que lhe causou fascínio.

Publicado por aqui pelo Sebo Clepsidra, editora que demonstra um cuidado fascinante com a primeira edição desta clássica novelização em nossa língua, o livro entrega uma capa dura com tons pretos, numa superfície adornada por um prateado brilhante que dialoga bem com sua lombada preta, suporte que torna a leitura mais agradável, indo além da qualidade de seu conteúdo interno em si para seduzir aqueles que admiram uma jornada literária que também decora bem a estante e é prazerosa de se ter em mãos. Tais detalhes, talvez considerados superficiais para muitos, reforçam o caráter de obra-prima desta sofisticada edição que ainda traz, como prefácio, o denso e elucidativo A Recriação Transnacional do Vampiro, de tradutor Bruno Anselmo Matangrano, além de uma coletânea de posfácios igualmente importantes: anúncios e resenhas da época, artigos sobre a trilha sonora do filme, reflexões sobre vampiros e outros tópicos temáticos integram as 304 páginas deste livro obrigatório para amantes do cinema e da literatura.

Nosferatu: Uma Sinfonia de Horror (Nosfératu le Vampire – França, 1925)
Autoria: Hughes Chelton
Editora no Brasil: Sebo Clepsidra
Data de publicação no Brasil: janeiro de 2023
Tradução: Bruno Anselmi Matangrano
Páginas: 304

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