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Crítica | Nós Sempre Teremos Papagaios (Meg Langslow #5), de Donna Andrews

Papagaios e macacos em uma conferência.

por Luiz Santiago
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Depois da minha enorme decepção com Urubu Agachado, Mergulhão Saltando (2003), o livro anterior da série Mistérios de Meg Langslow, acabei me divertindo muitíssimo com este Nós Sempre Teremos Papagaios (2004), que no título original, We’ll Always Have Parrots, faz uma referência à famosa frase proferida em Casablanca, trocando apenas a palavra “Paris”, no final. Esses trocadilhos serão frequentes na série a partir de agora, mas o leitor não deve esperar uma ligação solidamente orgânica e até diretamente necessária entre o animal utilizado na referência e a participação dele na aventura. Falo isso porque os papagaios desse título (e mais alguns macacos, para incrementar a bagunça) estão apenas como um ponto lúdico e cômico, tendo participação pontualíssima no núcleo duro da obra.

Já se passaram 7 anos desde os eventos de Assassinato com Pavões (1999), quando Meg conheceu Michael. Aqui, eles estão namorando firme e falam de casamento (mas ela resiste à convenção social). Ela segue trabalhando como artesã (ferreira); e ele dá aula de dramaturgia em uma Universidade, além de atuar na série Porfiria, Queen of the Jungle, um programa televisivo de fantasia que mistura elementos de Conan, Tarzan, Senhor dos Anéis e História Medieval. O programa segue em sua 3ª Temporada, e a ação do livro se passa numa convenção para fãs, onde inúmeros painéis com a equipe criativa e o elenco da série falam sobre os mais diversos assuntos. O crime, dessa vez, demora para acontecer, mas eu não achei que a autora percorreu um caminho chato até a tragédia. Ao contrário, o início do livro é bem espirituoso e introduz com bastante ironia e cinismo as situações nessas convenções de fãs, indo da desorganização aos incidentes mais absurdos.

Mesmo com Meg narrando o livro, o leitor tem uma abordagem muito boa para todos os personagens, inclusive os coadjuvantes. Seja através de diálogos, de descrição de fotos dos anos 1970, de depoimentos de outras pessoas, observações da própria Meg ou ações desses indivíduos, os personagens acabam tendo o essencial de si nas páginas. Eu gostaria que Michael tivesse um pouco mais de presença no livro, mas esse não é um ponto colossalmente negativo. O trabalho de Donna Andrews ao representar a convenção, a maneira realista como ela descreve os bastidores do cinema B dos anos 70 e a discussão sobre o envelhecimento dos artistas, a ponto de alguns chegarem aos anos 1990 com complexo de Peter Pan e muita mágoa ou vergonha do próprio corpo, cumpre bem o papel de preencher com coisas importantes e interessantes o espaço dedicado aos conflitos internos dos personagens.

O assassinato de QB, para mim, já estava certo. Por ser a produtora e dona da série, além de interpretar a rainha Porfiria, ela era de um gênio intragável e odiada pela quase totalidade das pessoas com quem trabalhou. A autora não torna, porém, essa obviedade num drama barato. Como o humor é parte essencial dessa série, ela se utiliza dos macacos e dos papagaios (nesse caso, papagaios-cinza, aparentemente os mais inteligentes do mundo) para criar um caos na convenção, incrementando os momentos de mistério com coisas inesperadas e também estabelecendo diversas situações de susto. Algumas dessas são meio covardes (embora eu não veja, nessa série, uma coisa ruim acontecendo com um personagem definitivo), a exemplo da quase morte do cãozinho da família de Meg, pela onça Salomé; mas por se tratar de um cozy mystery, entendemos de onde vem a escolha da autora, mesmo que não funcione muito bem no enredo.

A revelação do assassino foi uma boa surpresa. Também gostei da investigação, porque ela varia entre passado e presente. Os comentários sobre a indústria da beleza (e a crueldade dessa indústria com a mulher que envelhece) é um ponto à parte para se considerar. Toda essa equipe é marcada por traumas, e isso vemos até nos destinos paralelos, nos “pequenos problemas aleatórios” colocados para nos distrair do foco principal. Decepciona um pouco o fato de os papagaios não terem uma participação mais efetiva na história, até porque eles são citados no título, mas isso talvez seja algo mais pessoal, possivelmente outros leitores não sintam esse incômodo e achem a participação desses pássaros adequada à história. É certo, porém, que estamos diante de um enredo divertido e de uma investigação que surpreende. Para mim, a série dos mistérios de Meg Langslow voltou a subir de nível!

Mistérios de Meg Langslow – Livro 5: Nós Sempre Teremos Papagaios (Meg Langslow Mysteries #5: We’ll Always Have Parrots) — EUA, fevereiro de 2004
Autora:
Donna Andrews
Edição lida para esta crítica:
Minotaur Books
354 páginas

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