Embora Noites de Violência (1965) não tenha, assim como o seu diretor, Roberto Mauri, entrado para a “lista quente” da filmografia do giallo, seu conteúdo traz uma das primeiras abordagens para aquilo que o gênero traria como ingrediente recorrente: a presença de um assassino mascarado. É curioso observar que no mesmo ano, outro filme e diretor escanteados (O Monstro de Veneza, de Dino Tavella), igualmente apresentaram esse tipo de personagem, e mesmo que possamos dizer que em nenhum dos dois casos a abordagem estética e narrativa são inteiramente voltadas para o desenvolvimento e ações do mascarado — é por isso que Torso, de Sergio Martino, se mantém como o primeiro filme verdadeiramente importante a explorar um assassino mascarado, embora não tenha sido de fato o primeiro a fazê-lo — há algo aqui que é impossível de se ignorar.
O roteiro de Mauri e Edoardo Mulargia (que no mesmo ano lançaria Só Contra Todos, um western spaghetti, gênero no qual se destacaria) adota um caminho que nos deixa em estado de atenção desde os primeiros minutos, a partir da afirmação de uma personagem de que ela se sentia observada. A música de Aldo Piga, muito bem utilizada no primeiro ato, tem um papel importante na construção dessa atmosfera de medo, focando num inimigo que pode atacar a qualquer momento.
Infelizmente, porém, o roteiro não dedica real atenção ao modus operandi do assassino, deixando uma boa quantidade de reticências no caminho e fazendo-nos duvidar ou desacreditar da ação desse mascarado, que acumula tentativas frustradas de assassinato e parece querer colocar a culpa em alguns atores de cinema do momento, já que utiliza máscaras com suas feições, como uma espécie estranha de Diabolik, ao menos nesse aspecto do disfarce. É de se lamentar que o roteiro não dê espaço para o personagem e siga de maneira tão mal estruturada a investigação policial, que parece apenas cumprir protocolos sem um sentido maior, o que vai pouco a pouco enfraquecendo o filme.
Por outro lado, o roteiro expõe de maneira interessante os bastidores da prostituição, tráfico de drogas e corrupção policial, mas esse lado mais ligado à ação também não tem fôlego o bastante para seguir em frente. Na verdade, esse é o sintoma de uma doença que o texto intenta discutir, mostrando como o submundo das grandes cidades possui braços podres que podem chegar até os mais altos patamares da pirâmide (a filha de um diplomata é a primeira vítima e também atuava, por chantagem, como prostituta) e engajar agentes da lei para encobrir os mais diversos crimes. Como espaço corrompido, esse cenário é bem construído e valida ações como as do mascarado que ataca mulheres. O que falta ao texto é realizar as devidas ligações e dar o mínimo de contexto para cada uma das partes, antes de direcioná-las a um único ponto, já no desfecho.
A revelação do assassino aqui é uma grande surpresa para o espectador. Ela nos faz questionar, e depois nos acalenta com a estranheza de sua existência, uma justificativa que eu nunca vi em um giallo (disfarçada com uma espécie de horror à la Fantasma da Ópera) e que mesmo não se encaixando perfeitamente a esse Universo, acaba tendo um papel de choque válido e também aceitável. Vale ainda dizer que a culpa do vilão assume um caráter bem diferente na parte final da obra, além do fato de trazer uma motivação que ganharia mais coerência se estivesse pontualmente colocada ao longo da narrativa.
Em uma linha constante de tensão, Noites de Violência aborda uma porção de temáticas críticas que encontraríamos com muita frequência nos gialli ao longo dos anos, temas esses que espelham feridas e horrores sociais persistentes até os dias de hoje. É um filme sobre diferentes crimes, sobre dominação aos mais fracos e também sobre desejos frustrados. A obra falha porque não dá o necessário espaço para alguns de seus melhores blocos, mas no todo, constitui um bom exercício da primeira leva do giallo.
Noites de Violência (Le Notti Della Violenza / Night of Violence) — Itália, EUA, 1965
Direção: Roberto Mauri
Roteiro: Roberto Mauri, Edoardo Mulargia
Elenco: Alberto Lupo, Marilù Tolo, Lisa Gastoni, Hélène Chanel, Cristina Gaioni, Nerio Bernardi, Elisa Mainardi, Aldo Berti, Dada Gallotti, Alberto Cevenini, Gepi De Rosa, Tullio Altamura, Franco Pesce, Gianni Medici, Ugo Fangareggi
Duração: 91 min.