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Crítica | No Táxi do Jack

Um retrato muito vago do trabalhador comum.

por César Barzine
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Talvez, com exceção de uma ou duas cenas, tudo em No Táxi do Jack é dispensável. É um filme cujas sequências nada acrescentam, sejam na progressão da história ou no mero deleite estético. Não que o longa seja uma produção genérica sem nenhuma originalidade, é um trabalho bem singular no tratamento dado ao seu tema; que é a vida de proletário tanto na terra natal do protagonista (Portugal) quanto em terra estrangeira (Estados Unidos). O roteiro não se decide para qual dos dois lados vai, e acaba misturando esses dois núcleos sem criar uma coesão entre eles.

O que é problema também da montagem, em que a fusão de flashbacks impossibilita absorver um desenvolvimento pleno do personagem presente no título. A sensação é de que ele não aprende nada com a vida e seus passos em meio ao mundo. O roteiro demonstra potencial para construir um personagem forte e com uma progressão de pequenas transformações que seja estimulante e o torne mais ambíguo, porém isso nunca acontece. O espectador, então, permanece preso e se questionando quando que o personagem vai começar a ficar interessante?.

Por outro lado, se não há desenvolvimento por parte de Jack, pelo menos há uma abordagem diferenciada em relação a ele. Ao contrário de outras obras que também possuem a pretensão de formar um retrato social do trabalhador contemporâneo em um contexto de crise – Dois Dias, Uma Noite, O Valor de Um Homem e Eu, Daniel Blake -, No Táxi do Jack entrega um clima mais leve, sem aquele peso dramático tanto visto nos filmes citados. A direção e o roteiro de Susana Nobre não fazem uso da melancolia e nem mesmo de uma visão pessimista. Jack vai vivendo a sua vida com dificuldades, mas conserva um tom sereno dentro de si que é a principal atração do longa.

A interpretação dele, carregada por Joaquim Veríssimo, possui uma dicção arranhada, difícil de entender, mas a imagem que o protagonista sempre transmite não é a de um homem na qual temos que sentir pena a cada minuto. É um personagem mais natural, de atuação sóbria e sem uso de artifícios. O que passa longe de salvar a produção, já que faltam atritos em torno das situações da narrativa. Não necessariamente situações intrigantes, mas com um peso maior ao filme; que na ausência de substância acaba sendo extremamente morno. A narração de Joaquim fica a cargo de fornecer essa substância, mas é justamente o oposto do que o filme precisa: muita descrição e pouca ação.

No Táxi de Jack não é lá um estudo de personagem – ou pelo menos não tem força para sê-lo de modo eficiente. A obra, apesar de semelhanças no argumento, é o oposto de um filme como Arábia – que também acompanha o percurso do trabalhador comum de forma naturalista -, pois, além da ausência de uma abordagem melancólica, nunca sabemos o que Susana Nobre quer entregar. O longa parece estar incompleto, mas não por ter um roteiro simples, e sim por ser simplesmente vazio. Jack trabalha de taxista e motorista particular nos Estados Unidos, estuda inglês, convive com algumas pessoas, vai em busca de auxílio trabalhista em Portugal, procura emprego em sua terra natal, reencontra a sua família e, no decorrer de tudo isso, habita a sensação de que o filme se encontra deslocado, sem rumo e sem saber o que mostrar.

Daí alguém teve a brilhante ideia de dar um verniz experimental à produção adicionando um joguinho cênico de quebra de transparência na narrativa que deixa o espectador transtornado com a falta de coesão desse artifício dentro de sua unidade. A apresentação da produção de No Táxi do Jack em um plano fora da história chega a ser bizarra de tão arbitrária. Diante de tamanha ineficiência, a conclusão mais evidente acerca do trabalho de Nobre é que “a falta do que mostrar” não funciona – ao contrário de outros filmes de gênero semelhante – numa abordagem contemplativa que apenas busque apresentar as coisas com calma. O que a execução desta produção de fato indica é literalmente a ausência do que dizer.

No Táxi do Jack (idem) – Portugal, 2021
Direção: Susana Nobre
Roteiro: Susana Nobre
Elenco: Maria Carvalho, Amindo Martins Rato, Joaquim Veríssimo
Duração: 70 minutos.

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