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Crítica | No Ritmo do Natal (2024)

Uma comédia romântica clichê que não tem o ritmo do Natal.

por Arthur Barbosa
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“Não é se apresentar que importa, e sim para quem você se apresenta.” É com essa frase do filme No Ritmo de Natal – ou The Merry Gentlemen, nome oficial, em inglês – que eu começo esta minha Crítica do mais novo longa natalino da Netflix, estrelado por Chad Michael Murray, o Lucas da série One Tree Hill. Obviamente, eu só assisti ao filme por conta dele, afinal de contas atire a primeira pedra quem nunca assistiu algum produto televisivo só por conta de algum membro do elenco? Ainda mais que mostra excessivamente ele sem camisa dançando e rebolando em cima do palco. Logo, eu não poderia perder a oportunidade de acompanhar essas cenas instigantes e calorosas, risos. Brincadeiras à parte, a trama gira em torno de Ashley (Britt Robertson), uma dançarina da Broadway que trabalha há anos em um show especial de Natal, em Nova York, nos Estados Unidos da América (EUA), com o espetáculo das Jingle Bells. No entanto, ela é surpreendida com uma demissão inesperada – repleta de etarismo, o preconceito contra a idade – e, com isso, a moça acaba retornando à casa dos pais, na cidade de Sycamore Creek, sendo trocada por uma bailarina mais nova.

Contudo, no interior, o ritmo de vida também não dança conforme a música (desculpem pelo trocadilho, eu não resisti), pois lá ela também tem uma surpresa um tanto amarga: o Clube do Ritmo, um bar/restaurante dos pais, Lily (Beth Broderick) e Stan (Michael Gross), está à beira da falência, com uma dívida de US$30 mil dólares, juntamente à necessidade de reformas urgentes. A dançarina, então, decide assumir a responsabilidade de pagar as despesas atrasadas na tentativa de salvar o estabelecimento do fechamento até o Natal. Para isso, ela cria um espetáculo natalino, composto de um grupo de homens dançarinos para arrecadar a renda necessária mencionada. Ashley consegue convencer o marceneiro Luke (Chad Michael Murray), o cunhado Rodger (Marc Anthony Samuel), o barman Troy (Colt Prattes) e o taxista Ricky (Hector David Jr.) a fazerem um trabalho extra como gogo boys, homens com corpos esculturais e musculosos que dançam para o público em troca de dinheiro, justamente para reerguer o bar, antes tão tradicional na cidade pacata.

Nesse quesito de dança e de sensualidade, vale ressaltar que não há nada de erótico ou um conteúdo acima dos 18 anos de idade, muito pelo contrário: apesar de eles apresentam muitas cenas descamisados e gritos, principalmente do público feminino, indo à loucura ao vê-los rebolando, chega a ser até engraçado de acompanhar, embora as coreografias não sejam tão surpreendentes e chamativas, e sim somente os dançarinos. Eles não são profissionais, mas se esforçam, e pelo salvamento do bar os homens desajeitados dão à vida nos movimentos e na conquista da plateia. Em meio a isso, à medida que as apresentações vão ocorrendo, eles aprimoram as performances e, claro, o figurino ou a ausência dele, pelo menos da camisa. Essa parte da história é divertida e envolvente, mostrando que o trabalho em equipe é mais do que bem-vindo: ele é extremamente necessário para alcançar um objetivo final. Tudo isso sendo embalado por números musicais e um toque de humor irreverente enquanto o gráfico da dívida só aumentava, e a gente ficava na torcida para que o Clube do Ritmo atingisse o valor da dívida o mais rápido possível.

Como em qualquer obra de Natal, conforme a nossa Coluna Entenda Melhor não me deixa mentir, não tem como escapar dos deslizes natalinos e das fórmulas prontas dessa época do ano tão especial e iluminada. Houve, dessa maneira, a necessidade de recuperação da magia natalina, por meio da recuperação do estabelecimento comercial, e o retorno de um parente que há muitos anos não passa a virada da noite do dia 24 para o dia 25 de dezembro com a família. Entretanto, ainda que a química entre o casal protagonista tenha sido assertiva, faltou uma profundidade no  amor que um sentia pelo outro. Acredito que o defeito disso seja em função de o roteiro não ter fornecido muito espaço para trabalhar esse quesito, o que acarretou em uma pressa para que eles ficassem juntos nos minutos finais. Outra problemática é a pouca atuação inspirada da atriz Britt Robertson, porque houve uma dificuldade de conexão do público com a sua personagem, não tendo uma torcida para que ela de fato retornasse à Broadway para seguir com a carreira, por exemplo. Infelizmente, a direção de Peter Sullivan buscou equilibrar a comédia leve com momentos de emoção, porém acabou esbarrando em escolhas óbvias e previsíveis.

Ademais, ainda nos pontos negativos, não posso deixar de mencionar duas incoerências: na sessão de fotos com o Papai Noel, a qual ocorreu no horário de fechamento do bar, ou seja muito tarde da noite, e na esquisita decisão de Marie (Marla Sokoloff), irmã da protagonista, escondendo de Rodger o seu passado de namoro com um stripper, sendo o marido dela está mais do que disposto a tirar a blusa na frente de um bando de mulheres histéricas e loucas pelos homens. Somado a isso, há também a questão do não uso das redes sociais, como o TikTok e o Instagram, para divulgar os shows do espaço, já que Ashley decide distribuir panfletos na praça da cidade e espera, desse jeito, que as pessoas apareçam no bar. Pode até fazer um pouco de sentido, afinal o estabelecimento é localizado em uma cidade pequena, isto é, não se trata de Nova York, entretanto, como a trama se passa em 2024, nada mais coerente do que utilizar as mídias digitais tecnológicas, com o uso abundante de celulares, e incorporá-las ao universo do filme. Por falar em incorporação, não há ao menos um personagem LGBTQIAPN+ que poderia ser um dos dançarinos ou potencial namorado de um deles, por exemplo, caracterizando mais uma falha imensa da “gigante do streaming”, que não se preocupou em ser diversa e progressista, e sim heteronormativa. 

O filme tinha tudo para ser uma comédia romântica quase perfeita, no entanto, nos minutos derradeiros ele apela para um clichê um tanto ultrapassado em pleno século XXI: a mulher que deixa de lado o sonho e a carreira só para ficar com o galã protagonista. Sério, Netflix?! Sabemos que o ator Chad Michael Murray é muito bonito, contudo o marceneiro que ele interpreta não é tão convincente a ponto de modificar a narrativa da trama, não. Inclusive, o casal principal nem passou tanto tempo juntos ou tiveram situações dramáticas para que ele de fato se apaixonasse perdidamente pela bailarina da cidade grande, por mais que tenha ocorrido diversas trocas de olhares entre os poucos ensaios até o espetáculo No Ritmo de Natal, o qual até mesmo dá nome ao longa cinematográfico. Chegou até ser cômico a birra que ele fez ao saber que a moça estava praticamente decidida em retomar a carreira profissional em vez de engatar um romance com o rapaz. Um verdadeiro menino adulto egocêntrico, conseguindo ser pior que uma criança mimada de cinco anos de idade.

Houve, portanto, a subtração da força feminina em prol da valorização dos desejos masculinos, um tanto egoístas e nada satisfatórios, visto que  era quase um hobby essa nova vida do Luke dançarino, e não necessariamente a essência do personagem estava ligada de forma íntima a essa profissão do personagem. A trama em si é morna e a maioria dos atores são poucos carismáticos, aspectos que deixaram o espírito natalino mais como uma obrigação do que uma celebração, como ocorre na grande maioria dos filmes natalinos que são lançados todos os anos. No Ritmo do Natal poderia ter nos surpreendido ao fazer o bonitão indo assistir ao espetáculo da amada na Broadway, todavia preferiu usar um clichê antiquado da mocinha que abre mão de tudo e de todos para ficar com o namorado, acarretando um um final amargo e agridoce. 

A cena da Ashley dentro do táxi rumo ao aeroporto é equivalente à da Rachel (Jennifer Aniston), em Friends (1994 – 2004), descendo do avião ao desistir do em emprego dos sonhos em Paris, na França, para ficar com o Ross (David Schwimmer). É um recurso que promoveu o suspiro de emoção mais profundo dos românticos há 30 anos, mas que já não condiz com a realidade de 2024. Desse modo, diferentemente da maioria dos filmes que são lançados do gênero natalino, No Ritmo do Natal – que tem praticamente o mesmo nome do filme brasileiro Ritmo de Natal, lançado pelo Globoplay, em 2023 – sem sombras de dúvidas, estava fora do ritmo de natal (me perdoem mais uma vez pelo trocadilho infame), pois o Natal aqui é só um pano de fundo para a história e, com isso, o filme, infelizmente, é mais uma obra natalina que pode ser esquecida e mofada no vasto catálogo da Netflix.

No Ritmo do Natal (The Merry Gentlemen) | EUA, 2024
Diretores: Peter Sullivan
Roteiristas: Peter Sullivan, Jeffrey Schenck, Marla Sokoloff
Elenco: Britt Robertson, Chad Michael Murray, Marla Sokoloff, Michael Gross, Beth Broderick, Maxwell Caulfield, Maria Canals-Barrera, Marc Anthony Samuel, Colt Prattes,  Hector Rivera Jr., Meredith Thomas, Rivkah Reyes, Michael Gaglio, Dominique Domingo, Bella Shepard, Katie Amanda Keane
Duração: 87 minutos

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