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Crítica | Ninguém Vai te Salvar

Tensão e reflexões.

por Felipe Oliveira
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Com uma filmografia que flerta entre o terror satírico (a exemplo de A Babá) e a ficção científica, é interessante como Brian Duffield sempre mistura suas premissas com elementos que remetem a um clássico. Em Ameaça Profunda, a jornada da pesquisadora vivida por Kristen Stewart acenava para Alien, com Amor e Monstros, o roteirista trazia a lógica do amor improvável das comédias românticas para uma luta de sobrevivência em um mundo distópico, enquanto em seu mais novo filme, Ninguém Vai te Salvar, Duffield propõe ao home invasion, subgênero do terror, uma releitura com toques de um cinema que relembra os clássicos sci-fi, como as composições de J.J. Abrams. Porém, o cineasta americano também quer fazer disso um suspense psicológico, não mais um filme de invasão domiciliar da tensão pela tensão em um jogo de gato e rato.

À medida que Duffield utiliza da premissa do home invasion, a tempo todo o filme se apresenta como uma versão diferente das convenções do subgênero, a exemplo da ambientação e caracterização da protagonista sugerirem uma linha anacrônica para história, enquanto esse é só um dos aspectos que servirão para as analogias e paralelos do roteiro. Mesmo sem querer reinventar o estilo, é ótimo que Duffield, que também atua como diretor, faça um exercício óbvio mas ainda assim instigante da invasão domiciliar quando vemos que os invasores são uma ameaça inesperada. A escolha de ter uma personagem central reclusa, com transtorno de ansiedade tentando sobreviver com poucos diálogos, aliado ao design de som e a potente música de Joseph Trapanese, começa a fazer de Ninguém Vai te Salvar uma experiência envolvente que também se mostra original.

Ainda que compartilhe de referências a Sinais, Duffield é mais sutil do que as proposições conceituais de Shyamalan, o que confere ao seu filme vários estilos e acenos, mas ainda mantendo um tom de personalidade. Há de se reconhecer uma inspiração proposital aos clássicos da ficção científica – o que é notório no visual dos alienígenas -, contudo, são apenas recursos que servem de representações para o arco dramático da protagonista, interpretada por Kaitlyn Dever. Duffield articula a fórmula raiz de mistério sci-fi que se desdobra com a ameaça de outro mundo e mistura isso a mecânica de sobrevivência que o home invasion oferece mas sem nunca fazer disso uma tentativa de homenagear os gêneros, e sim fazer dessa junção de gêneros uma análise psicológica previsível, porém, com uma visão empolgante que o diretor e roteirista coloca em suas ideias.

Embora o título sugira uma trama de sobrevivência, tanto como um suspense de mistério e ficção quanto a um thriller de invasão, No One Will Save You carrega uma ambiguidade que se direciona para sua protagonista alienada tendo que lutar contra aliens invasores. De ares Shyamalaniano, J.J Abrams e ao marcante Invasores de Corpos de Philip Kaufman, Duffield não se resume às citações indiretas ou explícitas a outros nomes do sci-fi e apresenta aqui um terror de ficção científica existencial que mesmo se esgotando em utilizar os tropos conhecidos de seus respectivos gêneros, ainda se esforça para criar sequências com visuais marcantes assim como cenas que manipulam a atenção e exposição enquanto Brynn experimenta um conflito interno sobre culpa e autoperdão.

Só em reunir dois estilos distintos para trazer uma nova abordagem a um estudo de personagem – o que soma-se ainda mais com a quebra de quarta parede da cena final com a maneira que Brynn encara a câmera – Ninguém Vai te Salvar se concentra como um thriller familiar, mas ainda ágil e criativo para explorar as possibilidades de sua premissa sobre invasão, fuga, solidão e isolamento, tudo isso sustentado pela combinação da performance expressiva de Dever com o roteiro urgente de Duffield. Nesse caminho, o filme sacrifica seu clímax esgotando as várias camadas de interpretações óbvias ao significado da trama, o que tira o resultado como uma experiência numa produção independente que se inspira e homenageia os clássicos.

Ainda que não vá ser uma referência atmosférica e intimista como Super 8, No One Will Save You é mais uma criação interessante de Duffield em combinar mundos e misturar gêneros para contar uma história previsível, mas habilmente executada em ser um filme sobre invasão: invasão domiciliar e alienígena, talvez um terror excitante e criativo desde que bandidos decidiram roubar a casa de um homem cego.

Ninguém Vai te Salvar (No One Will Save You – EUA, 2023)
Direção: Brian Duffield
Roteiro: Brian Duffield
Elenco: Kaitlyn Dever, Zack Duhame, Geraldine Singer, Dane Rhodes, Evangeline Rose, Elizabeth Kaluev, Dari Lynn Griffin
Duração: 93 min.

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