Lançada em janeiro de 2014, quando os zumbis já estavam de volta ao centro do palco graças ao sucesso explosivo de The Walking Dead, Night of the Living Deadpool aproveita a temática para colocar um de seus personagens mais cômicos dentro de uma ambientação survival horror, o que por si só já diferencia esta história de Marvel Zombies, cuja atmosfera é consideravelmente mais descontraída e cômica. Por mais que tenhamos aqui Wade Wilson, a minissérie é de dar algumas reviravoltas no estômago do leitor.
A ausência da comédia como elemento central da obra, contudo, não significa que o roteirista Cullen Bunn a tenha deixado de fora por completo. Os comentários de Deadpool muitas vezes nos trazem as boas e velhas risadas de volta, o mesmo ocorre com algumas situações, como é o caso das velhinhas assassinas fundamentalistas, em cujos detalhes não entrarei para não estragar uma pequena parcela do enredo. O aspecto mais inteligente, porém, dessa seriedade com humor pontual é a forma como o roteiro utiliza os diálogos/ monólogos do protagonista como uma forma dele próprio lidar com o apocalipse, tentando ao máximo resgatar o clima do “velho mundo”, no qual ele não era o último super-herói, característica que garante ao personagem uma gigantesca responsabilidade.
O pesado clima que aos poucos se instaura nas quatro edições de Night of the Living Deadpool também contrasta de forma gritante com seu início. O antiherói se encontra naquela situação graças a um coma alimentar (basicamente ele comeu tanto que hibernou por alguns dias, se encontrando posteriormente em um apocalipse zumbi), realizando, portanto, um paralelo escrachado com os primórdios de The Walking Dead e Extermínio. As referências, porém, não cessam por aí, ao passo que a própria arte traz um visual que remete imediatamente à Noite dos Mortos-Vivos, de Romero, cujo título também é utilizado em brincadeira.
O interessante dessa arte de Ramon Rosanas é a forma como a cor representa a condição atual do mundo. Enquanto tudo é preto e branco, Deadpool mantém seu marcante vermelho destacado, representando que ele é o elemento fora do lugar, o resquício do velho mundo. Essa escolha ainda funciona a favor da elaboração de um traçado bastante limpo, trazendo ações bastante resumidas que permitem uma leitura dinâmica e um entendimento fácil do que se passa em cada quadro. O visual do traçado também permite um fácil deslocamento de tom dentro da história, de uma hora para a outra vemos os personagens em situações tiradas de um filme de terror, transição a qual ocorre de forma orgânica, garantindo uma nítida tensão no leitor, que voa da primeira edição até a última.
Night of the Living Deadpool é, portanto, um quadrinho que nos engana – seu título remete a uma obra mais bem-humorada, mas o que recebemos é um survival horror repleto de tensão e melancolia, claro que bem intercalados com o alívio cômico proveniente do protagonista. Certamente é uma história que merece ser lida, com um tom bastante circular que une o início ao fim da história.
Night of the Living Deadpool – EUA, 2014
Roteiro: Cullen Bunn
Arte: Ramon Rosanas
Cores: Ramon Rosanas
Letras: Joe Sabino
Capas: Jay Shaw
92 páginas