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Crítica | New Amsterdam: Toda Vida Importa – 2ª Temporada

A jornada eletrizante da equipe emergencial do New Amsterdam.

por Leonardo Campos
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Durante a escrita e reflexão sobre a primeira temporada de New Amsterdam: Toda Vida Importa, fui tomado por pensamentos voltados ao clima de apocalipse social presentes nos dramas médicos que apresentam os seus conflitos internos e externos no bojo do atendimento emergencial. Desta vez, ao passo que ia avançando em cada um dos formidáveis episódios deste novo ano, a linha de pensamento em torno dos acontecimentos da série gravitou por um dos centros nervosos da estrutura dramática da série em sua segunda temporada: o luto, tema debatido cuidadosamente pelos roteiristas e contemplados durante os penosos e tensos meses da pandemia da covid-19 que mudou as nossas perspectivas para 2020, 2021 e quem sabe, os próximos anos. Isso não significa, no entanto, que o acelerado esquema deflagrador da crise no sistema de saúde esteja de fora dos 18 episódios. E sim, antes que haja o questionamento do leitor, a problemática é apresentada pelo viés do sistema de saúde estadunidense, mas a crise na área e o problema da falta de aceso é algo em escala global, aqui alegórico para nosso mundo. Na contramão do que muitos podem achar sobre “mais uma série médica”, a produção tem conteúdo de valor para mais um ano, conflitos que podem ganhar ainda mais espaço no esquema de realização televisiva se souberem manipular o conteúdo em sua terceira temporada.

Diferente do padrão estabelecido nas demais análises dos dramas médicos, começarei pela contemplação estética e logo depois, seguirei o caminho da análise exclusivamente dramática. O programa que adentrará em sua terceira temporada já confirmada investiu em espaços cênicos mais externos que seu ano anterior, haja vista a ampliação das necessidades dramáticas dos personagens e seus conflitos e perfis pessoais e psicológicos. Na direção de fotografia de Andrew Voegeli, os tons hospitalares continuam presentes, com luz verde, azulada e branca constantemente presentes nos corredores, salas de atendimento e demais espaços do centro hospitalar, num paralelo com a luz amarelada dos ambientes domiciliares de alguns médicos e personagens gravitacionais. A casa do protagonista agora é mais explorada pela câmera que se movimenta e enquadra com toda a eficiência do setor, tendo em vista que este é o local onde a intimidade do Dr. Max Goodwin (Ryan Eggold) é atenuada, haja vista o seu estado de luto arrebatador. Sai Craig Wendren e entra Jefferson Friedman na condução musical, igualmente eficiente em sua dinâmica que flerta com momentos de pura tensão e outros de exaltação da melancolia. São setores que possuem bom material para captar (fotografia) e adornar (trilha sonora), haja vista o ótimo design de produção de Alan E. Muraoka, tão funcional quanto o trabalho de Kristi Zea no ano anterior.

Ademais, os responsáveis pelos figurinos, cenografia e direção de arte continuam mantendo o padrão de design da série, em especial, a maquiagem e seus efeitos especiais, supervisionados com excelência por Derek Bird, necessários para criar o tom realista proposto por um programa que apresenta o ser humano em dilemas sociais, celeumas psicológicas, mas também impactado pelo corpo devastado por acidentes, atentados, problemas microbiológicos e parasitológicos. Como exposto na crítica da temporada anterior, New Amsterdam: Toda Vida Importa foi criada por David Schulner, baseado no livro 12 Pacientes: Vida e Morte no Hospital Bellevue, de Eric Manheimer, profissional que enfrentar um câncer devastador enquanto gerenciava um hospital tomado por obstáculos demasiadamente estressantes em seu cotidiano dividido entre uma doença agressiva e uma dinâmica de trabalho sufocante. Caos e dor, mesclados em experiências de vida ideais para a criação de um produto ficcional no padrão dos dramas médicos.

Com desfecho prejudicado pela pandemia que mudou o cenário da indústria do entretenimento, New Amsterdam: Toda Vida Importa, produção exibida pelo National Broadcasting Company, trouxe novos personagens, tais como o cirurgião Cassian Shin (Daniel Dae Kim), presença desafiadora para o grupo de médicos da emergência e presença garantida na vida de Helen Sharpe (Freema Agyeman), oncologista que atravessa um período de provações ao responder processo interno com o conselho e acaba rebaixada em sua função gerenciadora de projetos, material que gera conflitos importantes para a criação de tensão na série. Ela, magnética em cena, é um dos melhores pontos da produção, tópico importantíssimo ao longo de todos os episódios atuais e vindouros. O carismático Dr. Iggy Frome (Tyler Labine), ótimo em aconselhar e cuidar dos demais, agora atravessa um momento de compulsão alimentar e crise em seu casamento, pois ao tentar de qualquer forma trazer uma nova criança para o lar, enfrenta a opinião contrária de seu companheiro que considera a atitude leviana, principalmente depois que ele dá entrada em documentos sozinho, sem o apoio que causará estremecimento na relação.

O Dr. Floyd Reynolds (Jocko Sims) atravessa também uma crise com a sua companheira, da mesma maneira que a Dra. Lauren Broom (Janet Montgomery), acometida por vícios que colocam a sua carreira em risco cotidianamente. Feito este panorama que contém um panorama geral da segunda temporada, conjunto de episódios que ainda trazem uma situação microbiológica gravíssima, além de debates breves sobre a mulher e o negro no exercício da medicina, temos como foco central da produção, o luto e o desenvolvimento do Dr. Max. A série se inicia três meses após os acontecimentos fatídicos do desfecho no ano anterior. Um sinistro de trânsito grave com a ambulância que levava ele e parte da equipe, juntamente com a sua esposa, capota e causa a morte da companheira, ficando apenas o bebê recém-nascido para esse pai enlutado criar sozinho, com o apoio dos amigos e colegas do hospital, pessoas que o consideram parte da família. Em remissão, os produtores solicitaram que na sala de roteiristas, os obstáculos dele fossem agora de outra ordem, tendo em vista aumentar a carga dramática da série.

Depois da morte de Georgia (Lisa O’Hare), personagem querida pelos espectadores e produtores de New Amsterdam: Toda Vida Importa, o Dr. Max Goodwin se vê diante daquilo que conhecemos por estágios do luto. Ele se envolve em causar maravilhosas, tais como o vídeo Go Fund Me, com foco em crownfunding para ajudar uma criança acometida por um problema bastante raro, bem como conhece uma mulher que promete ser a faísca para o seu interesse por outro alguém que o salve da condição enlutada, responsável por torna-lo um homem opaco diante do brilho de algumas boas coisas da vida. Neste processo, enquanto assistia aos episódios, lembrei-me da divisão que alguns especialistas fazem sobre a dinâmica do luto. Segundo a maioria das teorias, temos a negação, seguida da raiva, da barganha, da depressão e da aceitação. São etapas que variam em suas intensidades para cada indivíduo. Pelo caminhar da temporada, Max vive a negação, período marcado pela defesa psíquica. A pessoa nega a existência do problema, foge do assunto, não muda a sua rotina e continua trabalhando, estudando, etc., como se nada tivesse acontecido. Vamos esperar, então, a temporada seguinte, provavelmente em diálogo com a covid-19 e seus desdobramentos pandêmicos.

New Amsterdam – 2ª Temporada (Idem, Estados Unidos/2019).
Criação: Peter Horton
Direção: Michael SlovisLaura Belsey, Peter Horton, Darnell Martin, Jamie Payne, KateDennisAndrew McCarthy, Jonas Pate, Ellen S. Pressman
Roteiro: Joshua Carlebach, Shaun Cassidy, Cami Delavigne, David Foster, Aaron Ginsburg, Eric Manheimer
Elenco: Ryan EggoldJanet Montgomery, Jocko Sims, Zabryna Guevara, Anupam Kher, Tyler Labine, Lisa O’Hare, Margot Bingham
Duração: 45 min. (cada episódio – 18 episódios no total)

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