Alguns desaparecimentos misteriosos ocorrem nas proximidades de Brown Hill, uma região na fronteira do Território (lugar já explorado na série, no arco Terra Queimada e Os Predadores do Deserto). Contratado por Christen Smith, jovem que teve seus pais e seu irmão sequestrados, o agente Nathan Never inicia uma investigação já com coisas muito estranhas acontecendo à sua volta. Desde as primeiras páginas dessa história, o leitor tem a forte impressão de que os vilões estão controlando absolutamente tudo e que não há muito espaço para o mocinho trabalhar. Até mesmo quando o eremita Hepzibah, que acredita estar fazendo contato com marcianos através de ondas de rádio, entra em cena, o leitor não tem muita esperança de que uma informação fornecida “sem querer” irá derrubar essa misteriosa uma organização militar com uma base secreta e experimentos com vírus desconhecidos.
O toque épico da aventura vem pela forte semelhança desse roteiro de Michele Medda com filmes de espionagem envolvendo armas biológicas e um mistério ainda maior, possivelmente com a mão oculta do governo, embora a gente não tenha nada no texto que nos guie exatamente para esse lado… apenas uma sugestão. Tendo como base o livro O Enigma de Andrômeda, de Michael Crichton, a camada do texto que explora a contaminação pelo vírus deixa tudo um pouco mais assustador, somando à força bélica e aberta desumanidade desses cientistas militares, a possibilidade de verdadeiras armas mortais se espalharem e contaminarem muita gente, escalando a situação para níveis impensáveis.
O que falta aqui, em essência, é uma motivação maior e melhor explorada para os vilões. “Apenas” a descoberta por acaso do vírus parece ter impulsionado a tal pesquisa, e mesmo que algumas coisas ligadas à especulação imobiliária causada por uma contaminação acidental apareça aqui, nada de mais sólido surge para justificar um investimento tão grande como o que uma determinada empresa está fazendo para esta causa. É evidente que a gente pode aludir a algumas dezenas de motivos óbvios, mas se eles não estão na história como impulsionadores narrativos, então são apenas hipóteses pessoais, aí não contam para melhorar o enredo.
Encontramos na casa de Hepzibah algumas referências visuais a Star Wars e Star Trek (em forma de brinquedos) e Blade Runner e Alien (em forma de cartazes), coisas que ajudam a formar uma sensação de cenário futuro povoado por elementos culturais e problemas sociais que conhecemos muito bem em nosso momento presente. No todo, porém, Sobrevivência Zero não se fortalece porque falta-lhe algo que melhor explique a atuação dos vilões. E também é válido dizer que o salvamento final dos mocinhos foi um conveniente e chateante Deus Ex Machina. Não uma das melhores, mas ainda assim, trata-se de uma boa trama de Nathan Never.
Nathan Never #17: Sopravvivenza zero (Itália, outubro de 1992)
Sergio Bonelli Editore
Roteiro: Michele Medda
Arte: Francesco Bastianoni
Capa: Claudio Castellini
100 páginas