Um filme bizarro e cheio de excessos. Talvez “lotado” seja uma adjetivação mais pertinente. Num flerte com o horror corporal e com péssimas escolhas narrativas, Natal Sangrento 4: A Iniciação, deixa de vez a perspectiva slasher do Papai Noel assassino para investir numa história de terror que “livre associa” sobre um amontoado de tópicos ao longo de seus monótonos 87 minutos de duração. Para não dizer que o elo foi cortado totalmente e a única vinculação é o oportunista título da franquia, há uma cena que referencia Natal Sangrento 3: Noite do Silêncio, exibido na televisão e assistido por algum personagem. É uma passagem metalinguística descartável, nada oportuna, tão fora do tom quanto o próprio filme. Sob a direção de Brian Yuzna, cineasta que também assume o roteiro em parceria com a dupla formada por S. J. Smith e Arthur Gorson, esta quarta parte tem pouquíssimos momentos natalinos e poderia se passar em qualquer época do nosso calendário, mas, como sabemos, os realizadores acharam que seria vantajoso pongar numa franquia que rendeu algum dinheiro, então, temos a existência desta “pérola do cinema”.
O filme começa com a inquietação da protagonista, Kim Levitt, interpretada por Neith Hunter. Ela é uma jornalista obstinada, que vivencia em seu ambiente de trabalho, o maior horror do filme: a misoginia. Seu chefe não lhe dá oportunidades interessantes de evoluir profissionalmente e os melhores editoriais sempre ficam com os homens. Nesse ambiente hostil, dominado pela atmosfera tóxica de personagens masculinos babacas, Kim tenta superar os desafios e seguir acreditando que um dia as coisas mudem. Não por lá, mas talvez em outro lugar. Por isso, quando surge a oportunidade de investigar um incidente curioso, ela faz por conta própria. E, ao adentrar nesse terrível cenário de ocultismo, bruxaria e muito mistério, acaba colocando a sua vida em risco. A investigação? Sim, precisamos voltar um pouco para que você entenda.
Logo na abertura, a protagonista testemunha uma cena absurdamente violenta e horripilante. Ela contempla uma mulher que pula do terraço de um prédio e se espedaça na calçada toda queimada. Seria um caso do fenômeno da combustão espontânea? Ao passo que avança em sua investigação, Kim se coloca em perigo constantemente, em especial, depois que visita uma livraria e conhece a sua dona, uma mulher aparentemente inofensiva, mas que esconde muitos segredos por detrás da fachada de empreendedora literária. Ao se observar com espanto, inserida em um culto de bruxas que realiza sacrifícios durante o período natalino, Kim parece antecipar, salvaguardadas as devidas proporções comparativas, o clima erótico e onírico das aventuras noturnas de Tom Cruise em De Olhos Bem Fechados.
Diversos objetos fálicos dominam as passagens obscuras dos cultos, situações de estupro, além de elementos grotescos do subgênero horror corporal. Com design de produção de Gilbert Mercier, setor responsável por administrar a maquiagem das cenas com distorções corporais, alucinações, insetos abjetos e gigantescos, dentre outros elementos do universo do terror, aqui espalhados como uma bagunça num quarto de crianças, Natal Sangrento 4: A Iniciação conta com uma trilha sonora que não ajuda, textura percussiva assinada por Richard Brand, além de amargar com a direção de fotografia de Philip Holahan, profissional que faz alguns esforços para exercitar com dignidade a linguagem cinematográfica, mas que, infelizmente, não possui material dramático o suficiente para conceber um bom trabalho. Lançado em 1990, diretamente para o mercado das videolocadoras, a quarta parte da franquia é um autêntico espetáculo de rasura: deixa de lado as propostas antecessoras e toma alguns elementos não inseridos no interessante Adoradores do Diabo, produção que contou com Yuzna como parte integrante do projeto. Assim, em seu esquema de colagem de ideias avulsas, o resultado foi tenebroso.
É, disparado, o pior dos cinco filmes da franquia. Chato e sem uma gota de emoção.
Natal Sangrento 4: A Iniciação (Silent Night, Deadly Night 4: The Initiation, EUA – 1990)
Direção: Brian Yuzna
Roteiro: Arthur Gorson, S. J. Smith, Brian Yuzna
Elenco: Neith Hunter, Clint Howard, Tommy Hinkley, Hugh Fink, Reggie Bannister, Glen Chin, Richard N. Gladstein
Duração: 87 min