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Crítica | Natal Sangrento (2017)

Uma narrativa excessivamente genérica sobre assassinatos sangrentos numa noite natalina.

por Leonardo Campos
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A noite natalina é, por convenção, um período de celebração da vida, da reunião entre amigos e familiares, dos festejos e renovação de ciclos. Para algumas narrativas ficcionais, mesmo diante das habituais confusões e obstáculos que pretendem atrapalhar esta magia, a alegria é garantida e o desfecho geralmente traz uma série de resoluções de conflitos para transformar a jornada dos personagens. É o que acontece em muitas tramas cômicas e dramáticas. Noutros casos, temos a reversão da simbologia do período natalino. Há sangue, mortes e muita violência, numa quebra das expectativas diante dos padrões mencionados anteriormente. Este é o caso de Natal Sangrento, slasher norueguês que segue a linha das produções de natalinas encobertas de sexo e grafismo na aniquilação de suas vítimas incautas. Dirigida por Reinert Kill, também responsável pela concepção do roteiro, a história trivial desenvolve, ao longo de seus 104 minutos, a saga de um assassino trajado de Papai Noel, a perseguir jovens durante uma fria e sombria noite de véspera de Natal. Por trivial, caro leitor, leia-se mortes inventivas e motivações banais.

Sendo o slasher um subgênero essencialmente estadunidense, torna-se muito interessante contemplar outras nacionalidades investindo no segmento. Os realizadores aqui saem de suas respectivas zonas de conforto, mas o esforço não consegue alcançar a assertividade. Natal Sangrento, título brasileiro para a trama norueguesa não deve ser confundida e associada com os demais filmes da franquia do Papai Noel assassino, nem de longe é um filme envolvente. Há carência no desenvolvimento dos personagens, a duração é longa demais para um slasher com pouca coisa para dizer, além da misoginia excessiva de algumas mortes, em especial, numa época em que este subgênero tem revertido padrões e mudado a concepção da mulher no cinema. Machadadas nas regiões íntimas e outros ataques bizarros demonstram o quão ainda há muito para se aprender nas cinematografias diversas ao redor do planeta.

Na trama, acompanhamos um grupo de pessoas se reunindo para o Natal. Há situações misteriosas envolvendo o passado de cada uma delas, em especial, a de uma das jovens, alguém que precisa de todo cuidado das amigas, pois atravessou um trauma relativamente recente, o suicídio de sua mãe. Neste esquema, os personagens interagem com drogas, álcool e muito sexo, além dos habituais palavrões de indivíduos desbocados que, conforme a cartilha slasher, serão veementemente punidos mais adiante. O que sabemos do assassino é que há 13 anos ele tem deixado um rastro de sangue pela região e, agora solto mais uma vez, voltou a usar o traje do bom velhinho para executar as suas mortes coreografadas, quase todas com um afiado e imponente machado. Assim, histeria, perseguições, sangue esparramado e um clima desnecessário de sequência delineiam o desenvolvimento narrativo deste slasher abaixo da média.

Mesmo com sua falta de qualidade dramática, Natal Sangrento consegue alguns momentos estéticos dignos de alguma apreciação. Interessante a maneira como o músico Kim Berg compôs a textura percussiva da narrativa, nos entregando alguns bons momentos de tensão. Há um esforço do design de produção de Jim-Andre Taaje em conceber os espaços pelos quais os personagens atravessam as suas jornadas de horror, banhados com muito sangue. A direção de fotografia de Benjamin Mosli também entrega alguns enquadramentos, planos e movimentação que seriam ainda mais interessantes se nós tivéssemos um roteiro melhor para acompanhar. Diante de tantas produções de terror embasadas na época natalina como pano de fundo para o estabelecimento do medo e do pavor, Natal Sangrento se apresenta ao público como mais um filme slasher para ser assistido e, provavelmente, esquecido. A sua base é excessivamente genérica, o que não é um problema quando a proposta é bem trabalhada, algo que não acontece por aqui. Em linhas gerais, um terror morno, abaixo da média, com raríssimos bons momentos.

Natal Sangrento (Christmas Blood) —Noruega, 2017
Direção: Reinert Kiil
Roteiro: Reinert Kiil
Elenco: Jørgen Langhelle, Marte Sæteren, Sondre Krogtoft Larsen, Haddy Jallow, Stig Henrik Hoff, Helene Eidsvåg, Karoline Stemre, Kylie Stephenson, Yassmine Johansen
Duração: 104 min.

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