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Crítica | Nas Dobras da Carne

Uma reviravolta a cada 10 minutos.

por Luiz Santiago
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Neste longa de Sergio Bergonzelli, o assassinato é tratado como uma diversão macabra, às vezes motivada por crimes de outras pessoas (ou seja, um criminoso se defendendo de outros criminosos) ou às vezes por puro prazer dos algozes, que possuem uma dinâmica familiar completamente bizarra. A cena de abertura da película é marcante e apavorante, provavelmente dando as notas de terror que inspirariam Dario Argento em Prelúdio Para Matar, lançado cinco anos depois. A partir dessa primeira leva de violências, temos a sugestão de que muitas cicatrizes psicológicas foram deixadas nos envolvidos, e é em torno das consequências disso que o roteiro trabalha, mostrando-nos o cotidiano de Lucille (Eleonora Rossi Drago), viúva e herdeira de um palacete; Falaise (Pier Angeli, creditada como Anna Maria Pierangeli), filha do homem falecido; e Colin (Emilio Gutiérrez Caba), filho de Lucille.

A definição de “nada é o que parece” torna-se simplória diante do que temos de verdade na fita. Como dito anteriormente, o caminho dramático é profundamente ancorado em questões emocionais, comportamentais e psicológicas, mas isso é apenas o grande motivador para as ações cada vez mais questionáveis do trio protagonista, que vai matando diferentes homens, com muitos momentos de surpresa para o espectador. Como a introdução nos entrega uma cena de trauma, o desenvolvimento parece não ter muito mais motivação para além disso. Ou, de certa forma, a motivação adicional é o medo da família do palacete de ir presa, agindo, portanto, de forma defensivamente mortal.

Um crime adormecido criou uma interação, entre os personagens centrais, que flerta com elementos do giallo e dos dramas moralmente desafiadores, misturando sangue, crueldade, desejo e incesto. Todos os personagens são problemáticos, todos sofrem de algum desequilíbrio emocional e todos são envoltos numa linha de codependência terrível, que fica cada vez mais forte à medida que o tempo passa. Ao menos Falaise tenta romper com esse status, mas é um rompimento que troca apenas uma prisão por outra, especialmente na chegada de Pascal Gorriot (Fernando Sancho) ao palacete, o pior arco de todo o filme, com uma montagem que não traz nenhuma novidade, uma atuação principal completamente errática e uma direção que não consegue criar muita coisa chamativa.

Apesar do excesso de eventos impactantes, Nas Dobras da Carne se sustenta na linha da mediocridade justamente pela expectativa que cria em torno desses momentos intensos, todos compostos de assassinatos visualmente interessantes, e do surgimento de detalhes cada vez mais comprometedores sobre o que de fato aconteceu anos antes. O bloco final explica em detalhes o que realmente se passou, mas as cenas se alongam demasiadamente e o desfecho para os personagens principais é estranhamente moralista e sem graça para um filme que apostou em tanta coisa fora do convencional. Com enredo frágil, quase inexistente; um bloco inteiro que é o máximo da irritação narrativa (a presença de Gorriot no palacete) e um final “incoerentemente feliz“, o filme consegue divertir em partes e, mais uma vez, mostrar que mentes e corações feridos e perturbados podem fazer coisas tenebrosas.

Nas Dobras da Carne (Nelle pieghe della carne / In the folds of the flesh) — Itália, Espanha, 1970
Direção: Sergio Bergonzelli
Roteiro: Fabio De Agostini, Sergio Bergonzelli, Mario Caiano
Elenco: Eleonora Rossi Drago, Pier Angeli, Fernando Sancho, Alfredo Mayo, Emilio Gutiérrez Caba, María Rosa Sclauzero, Víctor Barrera, Giancarlo Sisti, Gaetano Imbró, Luciano Catenacci, Bruno Ciangola, Luciano Arrigoni, Augusta Di Vincenzi
Duração: 92 min.

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