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Crítica | Nariz Sangrando, Bolsos Vazios

por Luiz Santiago
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Bill Ross IV e Turner Ross são irmãos. Autores de um cinema que sempre visita a nostalgia e a melancolia, possuem uma maneira muito íntima de se aproximar daquilo que filmam, transformando facilmente os seus documentários em histórias de partilha de tempo e emoções das pessoas na tela com o espectador. Aqui em Nariz Sangrando, Bolsos Vazios, eles conseguem um pouco mais que isso.

Falamos de uma despedida. Na casca do projeto, o The Roaring 20’s, um bar em Las Vegas que, devido aos novos tempos (supõe-se que por motivos financeiros e diminuição do público), está prestes a fechar as portas. O documentário serve então como um registro das últimas horas de vida desse espaço, um bar que durante anos reuniu pessoas que acabaram envelhecendo juntas, compartilharam luto, felicidades, conquistas e derrotas na vida. Com uma câmera que está sempre olhando para diferentes pontos do bar, pegando diferentes conversas e mostrando um pouco a mais de cada um desses indivíduos, os irmãos Ross constroem um projeto empático e logram transformar Nariz Sangrando, Bolsos Vazios em uma metáfora para a vida.

SPOILERS!

Mas há algo de muito curioso nesse documentário e que diz respeito ao seu objeto de estudo. Em entrevistas concedidas por ocasião da exibição do longa no Sundance Film Festival, em 24 de janeiro de 2020, os diretores falaram que não pretendiam entrar em discussão semântica quanto à classificação da obra. Isso porque o The Roaring 20’s nunca existiu e as pessoas filmadas aqui são atores contratados para viverem essa situação, passando uma noite de bebidas e outras drogas, conversas, confissões e muita filosofia e demonstração de afeto típicas de bêbados, tornando todo o filme uma jornada que certamente irá tocar fundo naqueles que já tiveram uma noite de bebedeira com os amigos, em um local querido por todos.

A escolha do gênero documentário para expor esses eventos acabou sendo o melhor caminho porque, encenados ou não, os dilemas pessoais e as histórias de vida são universais. Justamente pela demonstração imersiva, os cineastas conseguem fazer com que o público compre e compare muito do que acontece aqui com histórias pessoais ou que ocorreram ao seu redor. É como eu disse no início do texto, um exercício de intimidade ressaltado pela mescla de cinema verdade com cinema direto e que nos faz pensar em nossa própria vida, no envelhecimento, nas conquistas e no legado que deixamos, tudo isso a partir de histórias desse grupo de pessoas que festejam o fim da existência de um local.

Alguns empurrões ideológicos e o momento da quase-briga parecem reticentes e deslocados em relação ao todo, mas ao mesmo tempo mantêm coisas que esperamos em um bar com muitas pessoas bebendo e conversando por muitas horas (e vale ainda citar a ótima escolha para a trilha sonora e que os takes da TV são maravilhosos, com trechos que vão desde programas locais até cenas de O Encouraçado Potemkin, Quando Voam as Cegonhas, Os Desajustados, Somente Deus por Testemunha e por aí vai). A vitalidade de Nariz Sangrando, Bolsos Vazios vem da forma honesta como cada personagem é erguido, de como esses atores se entregam ao papel, e de como os diretores plasmam essa “reunião de adeus” e de memória de tempos vividos, olhando ao mesmo tempo com dúvida e com uma pitada de esperança para o futuro. Esse baú de incertezas à nossa frente.

Nariz Sangrando, Bolsos Vazios (Bloody Nose, Empty Pockets) — EUA, 2020
Direção: Bill Ross IV, Turner Ross
Roteiro: Bill Ross IV, Turner Ross
Elenco: Peter Elwell, Michael Martin, Shay Walker
Duração: 98 min.

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