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Crítica | Não Se Mexa (2024)

A escolha de viver.

por Felipe Oliveira
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Chamando atenção por conta de sua premissa, desde o seu início, Não Se Mexa parece querer trazer um olhar intimista para o conhecido thriller de sobrevivência ao trazer uma introdução dramática – quase melancólica. Nesse sentido, há uma aposta visual que ilustra o estado emocional da protagonista que enfrenta um luto recente. Os planos abertos e aéreos servem como um contraponto a uma tentativa de suicídio, sendo uma forma de falar sobre a vida, esperança. É uma abertura que parte da casualidade entre dois estranhos antes do aparente apaziguador mostrar um lado diferente… a maneira que o roteiro de C. J. Cimfel e David White trabalha é só um meio de jogar em um lugar comum a fim trazer a quebra de expectativas, mas ao mesmo o filme não abre espaço para essas ideias serem sentidas e tomarem forma, o que logo assume um tom metricamente calculado entre ser um horror survival e um thriller psicológico.

Um exemplo disso é como fica fácil prever quando Iris (Kelsey Asbille) será surpreendida pelo serial killer, vivido por Finn Wittrock, que surge em um momento sensível, mas novamente, não há tensão em como acontece. A sacada de trazer um plano de fundo dramático faz a trama soar mais inerte do que se espera, uma vez que tenta trazer uma abordagem diferente para o tema, adicionando aqui um perigo maior para a protagonista, que é injetada com uma substância paralisante. Com isso, imagina-se um dose de adrenalina a mais para como será explorado o tempo de 20 minutos para a substância fazer efeito e de 60 minutos até passar, mas falta na direção de Brian Netto e Adam Schindler a urgência que a premissa pede. Há quase 5 anos, era lançado o remake do suspense sueco Gone (2011), sobre uma mulher que é perseguida por um serial killer em um momento de luto. A diferença entre Sozinha e Don’t Move está em John Hyams como diretor, que trazia uma ação corporal e tensa para o longa, ainda que cedesse aos tropos do gênero.

Aqui, Cimfel e White tentam uma leitura filosófica sobre vida e morte, sempre servindo um contraponto ao tema. Como ilustração, a cena que Iris pede para ser salva do incêndio funciona bem mais que a cena de abertura quando é convencida pelo psicopata a não pular do precipício. Não que haja uma inversão de papéis ou um olhar de humanidade, e sim como o roteiro busca momentos para contestar a própria premissa. É ótimo quando essas colocações são feitas com um teor visual, o que dá mais emoção até para alegorias — como a cena do barco. Ou seja, ainda que se tenha vários cenários em que a aposta esperada seria a briga de gato e rato, o roteiro está mais interessado nas representações emocionais. Tudo se volta para o início, uma metáfora sobre a morte e a vida, assim, é como se Iris recebesse uma oportunidade de ter outra perspectiva sobre sua dor ao ser paralisada. Há uma costura que acompanha o “morrer” e o “ressuscitar” quando ela se joga no rio antes de ficar paralisada — e o trecho no barco servindo como retorno a isso —, a perda da voz e da coordenação podendo só mexer os olhos.

Embora a direção de Netto e Schindler e a fotografia tragam ideias interessantes para trazer a perspectiva da protagonista, o filme funciona bem mais quando esquece do texto com falas expositivas e frases de efeito para enfatizar o contraponto de psicopata vs a vítima que está recebendo uma segunda chance. Nesse sentido, é como Don’t Move não consegue aplicar sua leitura para além de simular o que espera da premissa sobre uma mulher na mira de um serial killer. O resultado é anticlimático, quando desperdiça o potencial das situações, quando escapar não é uma opção se não pode se mexer. A ideia traz um desafio que não consegue dar conta ao não assumir realmente os riscos, transformando as possibilidades em um melodrama familiar com situações e desfechos genéricos. O que aconteceria se Não Se Mexa fosse mesmo um thriller psicológico e não um filme de suspense sobre luta e vingança que nunca traz as discussões morais que provoca?

Não Se Mexa (Don’t Move – EUA, 2024)
Direção: Brian Netto, Adam Schindler
Roteiro: C. J. Cimfel, David White
Elenco: Kelsey Asbille, Finn Wittrock, Moray Tredwell, Daniel Francis
Duração: 95 min

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