Home FilmesCríticas Crítica | Não Fale o Mal (2024)

Crítica | Não Fale o Mal (2024)

Mais um filme da Blumhouse.

por Felipe Oliveira
12,K views

Odiado pelos mesmos motivos que foi aclamado, o terror psicológico de Christian Tafdrup, Speak no Evil, tinha em sua essência uma abordagem desconfortável ao colocar como observação a tomada de decisões de seus personagens. Há quem resuma a experiência na linha do absurdo ao irritante, mas enquanto gerava várias discussões, Tafdrup tocava em temas como amoralidade, passividade e convenções sociais, temas esses refletidos na educação e boa impressão que o casal principal queria transmitir para evitarem conflitos. Olhando para o remake, todo o dilema proposto no filme dinamarquês foi convertido para uma versão que se contenta em ser um thriller com reviravoltas — mastigadas — do que causar alguma conversa sobre o que foi visto. Poderia dizer que o longa serve como uma perspectiva alternativa, uma resposta ou uma versão que muitos gostariam de ter assistido ao contrário de um desfecho pessimista, mas como refilmagem, se torna apenas um filme genérico nas mãos da Blumhouse.

Enquanto Tafdrup abria seu filme introduzindo a trilha sonora como forma de inserir a audiência na atmosfera inquieta, James Watkins usa de elementos semelhantes, mantendo a familiaridade entre as produções a fim de fazer do desfecho um ato inesperado. Mesmo com as semelhanças, o remake vai dando dicas de que está seguindo um caminho diferente ao pegar momentos pontuais do longa original e transformar em piadas. O humor no roteiro escrito por pelos irmãos Tafdrup era cínico, algo envolto também no sadismo dos personagens, e Watkins reimagina os temas explorando a tensão psicológica dos casais por uma ótica mais escrachada: se a cena da dança no bar ilustrava a conformidade do casal dinamarquês, a refilmagem brinca com as diferenças de personalidades para gerar incômodos, sendo essa a forma encontrada por Watkins de suavizar os temas e deixar o longa num lugar comum.

Um bom exemplo de como o texto aqui perde o peso pela forma que simplifica os temas é na cena no carro com Bjørn e Patrick em que Tafdrup refletia a masculinidade — onde um era influenciado a ser mais reativo e se sentia atraído pelo estilo do outro — se resumir a um desabafo sobre traição e um olhar bromance ao som de Eternal Flames, de The Bangles. É clara a intenção de gerar um humor desconcertante ao mesmo tempo que joga com um bromance enquanto o personagem franzino conformado de Scoot McNairy perde espaço para um James McAvoy turbulento, agressivo e inescrupuloso, mas essa a reimaginação de Watkins: explorar uma dinâmica de casais, como uma espécie de terapia doentia que se desenrola em situações tensas entre os personagens. Tudo isso se desenvolve por um texto que quer ser imprevisível mas se apoia numa linha expositiva, explicando as mudanças feitas de uma produção para outra.

Tendo feito um filme visto com o mesmo olhar pessimista que caiu sob Speak no Evil, Watkins quis fazer uma versão pensando no que mais satisfizesse a audiência do que manter um terror psicológico genuinamente atmosférico. Nesse caso, cenas como a abertura, o jantar no bar são só referenciais para como ele iria intensificar ou modificar esses momentos para algo menos denso ou com mais dose de humor, mas ainda assim, ser um thriller psicológico que alterna entre gêneros e ainda assim, quer fazer do final o ponto chave da experiência. Watkins não se desfaz totalmente do sadismo e brutalidade visto em Eden Lake ao fazer da tragédia e violência de sua versão de Não Fale o Mal algo mais nos termos do popular e apelativo, colocando a inversão pra jogo e trocando a conformidade pela reação.

Se esse era o filme que uma parte da audiência queria ver, é também a versão que Tafdrup evitou fazer quando imaginou as situações propostas em Speak no Evil ao sustentar por quase toda duração o desfecho incerto para os personagens: não entregar um filme genérico. De inspirações pessoais, a também a títulos como Eden Lake e o neerlandês Spoorloos, a fita era sobre análise e indução na atmosfera, e menos sobre reviravoltas. As escolhas de Watkins é pensada para aproximar o longa de uma abordagem mais palpável a nível de entretenimento, e é nesse ponto que concentra o trunfo de sua visão: um suspense pipoca que entrega reviravoltas e tensão esperadas, tudo para no fim gerar um sabor de satisfação por assistir um filme familiar bem no estilo Hollywood.

Quando se fala em remakes, é fácil questionar a necessidade, principalmente com dois anos da estreia de Speak no Evil, mas se não for reproduzir o impacto que foi criticado no original, nada melhor do que fazer um thriller genérico para aproveitar o hype  manter o título, mesmo que sem sentido — em torno de uma produção polêmica, e dessa vez ser menos polêmico, mas ainda assim, ter um pouco de violência e momentos chocantes para chamar de seu. 

Não Fale o Mal (Speak no Evil – EUA – Dinamarca, 2024)
Direção: James Watkins
Roteiro: James Watkins
Elenco: James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy, Aisling Franciosi, Alix West Lefler, Dan Hough, Motaz Malhees
Duração: 110 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais