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Crítica | Nada (2017)

por Davi Lima
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Entre o movimento e a pausa há o nada ou a descoberta. No curta-metragem do diretor Gabriel Martins (No Coração do Mundo, Contagem), que ganhou um prêmio na La Quinzaine des Réalisateurs de Cannes 2017, o tema da juventude não é julgado, é colocado em suspenso da indecisão do início ao fim. A personagem principal Bia, que faz parte dessa juventude, é confrontada pelo seu campo de visão e por toda a sua realidade composta  pela linguagem artística realista ao redor. 

Para essa composição desse universo, a primeira montagem do curta de uma cena longa, mostrando a cidade no sentido horizontal da esquerda da câmera gravando, transfere o senso do tempo na dúvida de indo ou retroagindo na história. Enquanto a construção da narrativa da protagonista é um entrelaço entre a música que movimenta seu momento e pausa para a trivialidade do ordinário. Toda a contextualização do período do ENEM no tempo em que se passa a obra é o ponto chave social e realista para introduzir o conflito da personagem sem necessariamente colocá-la diretamente no campo de visão do espectador. Um exemplo claro disso é o processo paulatino de representar a realidade escolar, com aspectos documentais que vão entrevistar os alunos na sala de aula sobre suas futuras profissões. Mesmo sendo centro de um cenário evidentemente ficcional, é o segundo passo, após a primeira montagem do curta, de propor o movimento temporal como linguagem para ser confrontado com as posições da protagonista Bia. 

No entanto, o confronto não se vale de uma cisão, e sim de uma constante sensação de nada. Toda vez que o diretor foca especificamente em Bia é como na cena do seu aniversário, tudo no escuro, para depois a cena ser iluminada numa progressão lenta e um zoom da câmera. A história nunca parece progredir de maneira incisiva, sempre colocando a protagonista centralizada com um campo de realidade mais desenvolvido em especificações. Os conflitos dramáticos ficam explícitos pelo contexto, mas Bia parece ter um drama em contínuo ajuste. Na verdade, o sentimento de nada vem daí, como uma proposta dramática mais implícita de compreender mentalmente o incômodo da protagonista, numa suspensão temporal emocional que toda hora parece ser pressionada, mas sem direção de expurgação.

A ideia, dessa forma, é evitar o julgamento do momento da jovem de 18 anos, mesmo que os personagens de maneira bem realista tentem compreender num limiar de pressão em diferentes níveis, mas que sempre parecem sinceros quanto a uma preocupação que o espectador pode sentir, de qual caminho a história da protagonista vai caminhar. Se na primeira cena o movimento da câmera da direita para esquerda coloca a ordinariedade da representação da rua da cidade como semelhante ao processo regressivo, que pode incomodar quem tem uma mente mais positivista e objetiva da escrita da história da esquerda para a direita, Bia é a pausa disso tudo, e por isso seu drama automaticamente se torna importante para o espectador encontrar respostas no universo do curta que não progride. Após uma música e um encontro com uma cena animada, o corte para um gato bebendo água é desolador, e a abrangência dos conflitos quanto ao tempo da personagem, e a progressão da história sem explicações mastigadas para onde a personagem caminha, não cessa. 

Por fim, a indecisão do chamado nada, diante de uma linguagem realista do curta, pode alcançar o espectador numa experiência emocional inimaginada dentro de uma história dita comum entre os jovens. Não há respostas, pois entre o movimento e a pausa a suspensão é a reflexão permanente se vale a pena tomar decisões em um determinado tempo, determinado por alguém. Esse é o dilema juvenil profundo que Bia sente, que nem mesmo o curta, usufruindo a compreensão cinematográfica da dinâmica da imagem estática e o vídeo em movimento consegue captar por completo. Há muitas elipses e suspensões que o tempo não pode contar e muito menos conseguimos julgar.

Nada (Nada) – Brasil, 2017
Direção: Gabriel Martins
Roteiro: Gabriel Martins
Elenco: Clara Lima, Rejane Faria, Carlos Francisco, Karine Teles, Bárbara Sweet, Pabline Santana, Renato Novaes
Duração: 27 minutos

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