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Crítica | Mythic Quest – 4ª Temporada

Nada de novo nessa expansão.

por Ritter Fan
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Depois de uma temporada inaugural espetacular e de um segundo ano quase tão bom, Mythic Quest tropeçou um pouco em sua terceira temporada, talvez já mostrando que o frescor de uma versão de The Office no mundo dos videogames estava acabando. Obviamente que apenas uma temporada de qualidade fora da curva das imediatamente anteriores não era prova suficiente desse problema, apenas uma possível indicação dele. Infelizmente, porém, o quarto ano da hilária série criada por Rob McElhenney, Charlie Day, Megan Ganz para o Apple TV+, que tem se consolidado como um lar de excelentes comédias serializadas, ainda que seja um canal de streaming inexplicavelmente pouco assistido, confirma minhas suspeitas e acende o sinal de alerta de que talvez tenha chegado a hora de encerrar a produção.

E não é que a quarta temporada seja ruim, vejam bem, mas ela, como aconteceu com Ted Lasso em seu terceiro ano, representa uma queda brutal de qualidade, com a narrativa girando como um pneu atolado em um lamaçal, ou seja, sem conseguir efetivamente sair do lugar e, com isso, sujando todo o ótimo elenco no processo que ganha um verniz que apenas palidamente lembra a dinâmica anterior. Ao longo de oito dos 10 episódios da temporada – dois deles são episódios “de garrafa” e, portanto, apenas margeiam as narrativas centrais – as histórias que são contadas já haviam sido contada antes na série, uma delas envolvendo os criadores do jogo que dá nome à série Ian Grimm (McElhenney) e Poppy Li (Charlotte Nicdao) tentando entender a natureza de seu relacionamento enquanto trabalham secretamente em uma nova e aparentemente brilhante expansão do jogo e a outra lidando, em linhas gerais, com David Brittlesbee (David Hornsby) tentando de seu jeito atabalhoado e insensível manter a empresa funcionado, o que inclui explorar as criações de Dana Bryant (Imani Hakim) e extrair o máximo de dinheiro do PlayPen com a ajuda de Rachel Meyee (Ashly Burch), jogo que rapidamente se tornou mais lucrativo que o MQ.

As dinâmicas são idênticas, com a sempre insana Jo (Jessie Ennis) e o sempre maquiavélico Brad Bakshi (Danny Pudi) funcionando com os temperos que dão o real gosto a uma comida requentada que luta para desenvolver seus personagens e sua narrativa, mas sem realmente conseguir. O máximo que a equipe de roteiristas conseguiu fazer foi inserir na temporada a gravidez real de Nicdao para evitar não usar a atriz ou filmá-la em ângulos que não mostrassem a barriga, uma decisão sábia que, porém, resultou em um linha narrativa cansada que, se pensarmos bem, não ajuda muito na forma como a tensão amorosa existente entre ela e Ian é trabalhada, servindo mais como uma forma de criar sequências apartadas de Poppy com seu namorado artista Storm (Chase Yi) que não realmente conversam com o tema central para além de obviedades já usadas ad nauseam em séries e filmes que lidam com situações análogas.

Por incrível que pareça, o mais divertido e bem resolvido núcleo de personagens é a trinca formada pela gerente de RH e de Diversidade e Inclusão Carol (Naomi Ekperigin) e os dois testadores de jogos de meia-idade Andy (Andrew Friedman) e Mikey (Michael Naughton) que entraram na temporada anterior. Entre a dupla de testadores completamente perdida no que fazem, com direito a Andy ter problemas com vício em álcool, o que insere um elemento sério e relevante na comicidade, há a própria relação deles com Carol que ganha um clímax muito interessante no último episódio, mesmo que autocontido e sem maiores consequências. O restante do elenco, como disse, apenas repete seus papeis, sem desvencilhar-se do que eles sempre foram, ainda que ver David com o novo penteado dele – com mullet!!! – seja obviamente cômico, mas não o suficiente para sustentar sua própria narrativa de um tom só que só funciona de verdade quando ele algumas vezes (bem mais do que precisava, vale dizer) quando a acidez de seu humor é elevado ao volume 11 com suas saudades da COVID e o dinheiro  que a pandemia fez para a indústria de games.

Os bottle episodes, um deles funcionando como uma versão rápida, mas muito bem produzida, de Os Sete Suspeitos e outros whodunnits cômicos e o outro focado em Pootie_Shoe (Elisha Henig) que desanca “influenciadores” e seus espetáculos idiotas de mídia que inexplicavelmente geram milhões de dólares, são, talvez, os pontos altos da temporada, o que não é exatamente novidade em Mythic Quest, mas que, aqui, amargam a experiência como um todo, já que os demais episódios, diferente do que acontece nos dois primeiros anos da série, não chegam perto em termos qualitativos mesmo que, claro, haja bons momentos aqui e ali como o depoimento perante uma CPI sobre uso de trabalho infantil em videogames e dia de renovação de Ian que ele passa com David e Jo. E isso sem falar que os referidos episódios soltos também não alcançam a excelência que a série já foi capaz de colocar na telinha.

O quarto ano de Mythic Quest, que acabou no mesmo dia que uma série derivada de quatro episódios foi ao ar (Side Quest), é uma decepção. Não uma decepção intragável, daquelas de dar vontade de desligar a televisão, mas sim uma que muito claramente mostra que o que tinha a ser feito com a premissa que um dia revelou-se excelente já foi feito e que continuar a insistir na mesma fórmula é dar murro em ponta de faca. Ou a série encontra um novo caminho para renovar de verdade sua história ou ela poderia ficar por aqui mesmo, ainda com um saldo positivo no geral.

Mythic Quest – 4ª Temporada (EUA, 29 de janeiro a 26 de março de 2025)
Criação: Rob McElhenney, Charlie Day, Megan Ganz
Direção: Todd Biermann, Charlotte Nicdao, Megan Ganz, Ashly Burch, Heath Cullens, Imani Hakim, Danny Pudi
Roteiro: Megan Ganz, David Hornsby, John Howell Harris, Humphrey Ker, Ashly Burch, Brian Keith Etheridge, Amelie Gillette, Elisha Henig, Asmita Paranjape, Javier Scott
Elenco: Rob McElhenney, Charlotte Nicdao, David Hornsby, Danny Pudi, Jessie Ennis, Imani Hakim, Ashly Burch, Naomi Ekperigin, Caitlin McGee, Elisha Henig, Andrew Friedman, Michael Naughton, Alanna Ubach, Chase Yi, Karolina Szymczak
Duração: 262 min. (10 episódios)

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