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Crítica | Mythic Quest – 3X05: Playpen

Reencontrando o espírito gamer.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as demais críticas.

Como um velho gamer que começou com o Atari e não sobreviveu ao aparente requinte das gerações mais modernas, talvez mais preocupadas com visuais embasbacantes do que com o jogo em si, consigo muito facilmente simpatizar com o dilema de Poppy desenvolvido em Playpen, episódio que marca a estreia de Danny Pudi na direção da série. Preocupada em criar o seu próprio legado, ela vinha mergulhando em seu novo jogo – Hera – que em tudo se parecia com o próprio Mythic Quest, mas sem realmente lembrar de se divertir em seu desenvolvimento e, mais importante ainda, de divertir os jogadores.

Playpen foi algo que ela criou de má vontade para entregar Dana que, por seu turno, distribuiu online para seus grupos, logo criando uma pequena comunidade que usou a programação para criar diversos jogos “simples” (a pescaria ejaculadora é hilária!) em realidade virtual. Poppy, concentrada em seu novo grande projeto, não é capaz de perceber o potencial de sua pequena criação e é necessário que a subutilizada Dana acorde-a para a realidade das coisas, levando sua chefe a ser até aplaudida em um auditório virtual em um momento muito bacana da série que finalmente enxerga Poppy não apenas como uma genial programadora, mas, também, como uma visionária, algo que Ian sempre foi e que ela sempre admirou e quis ser. E o melhor é notar que o próprio Ian, daquele seu jeito quase desdenhoso, apoia Poppy quando ela decide alterar o caminho que estava seguindo para focar no Playpen e não em Hera, uma obviamente radical guinada em sua carreira da qual, espero, Dana possa participar mais.

No lado de Ian, sua preocupação é com a adaptação cinematográfica do jogo que criou. Ele interpela David que, inicialmente demonstrando superioridade, basicamente dispensa Ian em um diálogo muito bem arquitetado pelo roteiro de Kyle Mack, que, de forma muito fluida, usando, de um lado, a insegurança crônica de David, e, de outro, a confiança exacerbada de Ian, leva à inversão completa de posições, com Ian ganhando mais do que apenas o direito de ser consultado sobre o projeto, mas uma razoavelmente relevante participação nos pormenores da vindoura produção audiovisual. Essa breve cena, que tem Jo como uma espécie de facilitadora, é um primor na forma como as personalidades de David e Ian são manobradas para criar algo que realmente parece natural e lógico dentro da estrutura que conhecemos e que, ao mesmo tempo, consegue manter o timing do humor quase que sem querer que a interação gera.

O terceiro núcleo do episódio, formado por Carol, Brad e Rachel, vem se tornando surpreendente e merecidamente importante nas engrenagens da série. Novamente o assunto relevantíssimo da satisfação profissional é trazido à tona, com a sensacional Carol de Naomi Ekperigin assumindo a “culpa” pelos NFTs inicialmente vistos como fiascos e, como consequência, sendo promovida pela holding canadense para um novo cargo daqueles com título bonito, mas de pouco significado prático, com ela brilhantemente classificando o movimento como “fracassando para cima” ou algo nessa linha, com a diferença que, agora, ela ter orçamento para fazer contratações, o que significa tudo para Brad e Rachel.

Inicialmente, eu tinha certeza de que o retorno de Brad para o MQ significaria que o personagem faria de tudo para retornar à sua posição de poder de forma a se vingar de seus colegas. No entanto, estamos na metade da temporada e, apesar de eu não exatamente amar o que parece ser um arco genuíno de redenção para o personagem, por gostar de ver Pudi como vilão, começo a mudar de ideia. Afinal, o ator, agora, como bem classifica Rachel, faz de seu Brad não mais um vilão, mas sim um cara misterioso, que parece fazer o mal pela forma como age e como todos (inclusive os espectadores) foram “treinados” a percebe-lo, mas que, na verdade, vem fazendo só o bem, ainda que de seu jeito. E Pudi consegue fazer um “vilão-lutando-para-se-tornar-mocinho-sem-deixar-seus-hábitos-pretéritos” como ninguém, algo que parece chegar a seu ápice quando ele manobra Rachel de forma que ela própria se convença de que o melhor nome para ser chefe do departamento de monetização é o dela. A interação de Pudi com Ashly Burch em frente aos monitores de indicações financeiras é preciosa e, se pensarmos bem, pode altera a dinâmica dentro da empresa mesmo à revelia completa de David.

Playpen consegue, em uma tacada só, mostrar a qualidade de Danny Pudi atrás e a frente das câmeras, especialmente ao metamorfosear seu Brad em uma inusitada força do bem, reposicionar Carol como uma executiva que pode ser capaz, afinal de contas, de mudar a dinâmica da empresa em que trabalha e ao lidar muito bem com os dilemas de Poppy e Ian, a primeira tendo uma revelação merecida e, o segundo, precisando lidar com sua posição menor – ou inexistente, na prática – dentro da MQ. E tudo isso sem perder o humor ácido de vista que, como de costume, não deixa ninguém sair ileso, não interessando de que geração gamer o espectador seja.

Mythic Quest – 3X05: Playpen (EUA, 02 de dezembro de 2022)
Criação: Rob McElhenney, Charlie Day, Megan Ganz
Direção: Danny Pudi
Roteiro: Kyle Mack
Elenco: Rob McElhenney, Charlotte Nicdao, David Hornsby, Danny Pudi, Jessie Ennis, Imani Hakim, Ashly Burch, Naomi Ekperigin, Caitlin McGee
Duração: 22 min.

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