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Crítica | Música (2024)

Romances frustrados e sinestesia.

por Luiz Santiago
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Estreia de Rudy Mancuso na direção de longas-metragens, Música (2024) é uma charmosa comédia romântica musical que mistura brasilidade (Mancuso é filho de brasileira e fala português, mantendo parte dos diálogos em duas línguas, ao longo do filme) com uma interessante navegação pelas complexidades da sinestesia e as dificuldades do protagonista em relacionamentos — especialmente porque sua mãe tenta fazê-lo conhecer uma garota brasileira a qualquer custo, enquanto ele nem sabe direito o que quer da vida. Apesar de um conjunto de ideias estéticas interessantes, o filme é puxado pelo território do clichê romântico, jogando com os principais temas recorrentes em obras do gênero e perdendo parte de seu brilho no processo.

Um dos pontos fortes da película reside na representação visual da sinestesia, elemento que traz vida à proposta e basicamente é aquilo de que o espectador realmente vai se lembrar da projeção. Desde a sequência de abertura, em um restaurante, vemos o diretor traduzir suas experiências sensoriais em explosões vibrantes e caóticas de sons, aqui, não representada em cores, mas em padrões rítmicos aliados a performances, dando o delicioso aspecto musical da produção. Também merece destaque a trilha sonora original, composta pelo próprio Mancuso, que ajuda a formalizar sua jornada sensorial como uma experiência isolada dentro do filme, proporcionando sequências que combinam com a toada criativa do artista para toda a aventura amorosa, mesmo quando utilizada de maneira mais comedida, como na longa sequência da churrascaria, definitivamente uma das melhores de toda a película.

A narrativa oscila entre momentos de genuína vida musical e sequências que se perdem em clichês demasiadamente simples para uma obra com essa proposta auditivo-visual tão “fora da caixa”. Elas simplesmente não combinam! O triângulo amoroso central (elemento básico das comédias românticas), carece de uma profundidade emocional que não encontra espaço para se desenvolver. Repito: a estrela do filme é a forma diferente do protagonista em perceber o mundo, portanto, toda vez que o roteiro e a direção se afastam desse conceito, o filme desce alguns degraus em qualidade. Dividido entre duas mulheres, Rudy parece mais um personagem arquetípico do que um indivíduo em processo de formação de sua identidade, de sua maturidade, da luta pelos seus sonhos e entendimento de seus desejos. Essas motivações, embora compreensíveis, não são exploradas com a nuance necessária para gerar engajamento prolongado no espectador, e tudo acaba dependendo da sinestesia, que, apesar de costurar toda a fita, não é a única proposta em cena, infelizmente.

Fico relativamente indeciso em relação ao fantoche Diego, personagem criado por Mancuso em seu canal Awkward Puppets. O longa é biográfico, como o diretor deixa claro no início, e seria impossível que esse fantoche tão icônico na carreira do artista não aparecesse aqui. Mas entendo que, mesmo sendo a manifestação da arte e da consciência de Rudy, Diego acaba parecendo um encaixe estranho em algumas partes do filme; enquanto em outras, torna-se essencial para o dilema profissional e criativo do jovem. Seu papel como confidente e alívio cômico é intermitente, integrando a dinâmica familiar (leia-se: a relação mãe e filho) que, em igual medida, também tem seus problemas de desenvolvimento.

O que não se pode dizer é que Música não tenha momentos brilhantes. A forma como a percepção musical de Rudy é traduzida visualmente é cativante, e as escolhas estéticas feitas para representá-la destacam o promissor talento de Mancuso como cineasta. A edição dessas sequências é particularmente notável, com inesperada integração de animação e engenhosidade no uso dos cenários, que se transformam, como num palco de teatro, espelhando a intensidade dos movimentos do protagonista. Embora o filme careça de harmonia entre suas partes, não deixa de proporcionar uma experiência agradável, despretensiosa e imersa numa atmosfera musicalmente aconchegante para o espectador.

Música (EUA, 2024)
Direção: Rudy Mancuso
Roteiro: Rudy Mancuso, Dan Lagana
Elenco: Rudy Mancuso, Camila Mendes, Francesca Reale, Maria Mancuso, J.B. Smoove, Andy Grotelueschen, Camila Senna, Regina Schneider, Gregory Jones, Finn Brown, Milly Guzman
Duração: 91 min.

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