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Crítica | Mulher-Hulk: Defensora de Heróis – 1X03: The People vs. Emil Blonsky

Uma condicional mágica.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios. 

Em minha crítica anterior, disse que Mulher-Hulk estava rapidamente acomodando-se no sofá quentinho do estilo sitcom. O que eu não disse, porém, era que eu achava que, lá no fundo, essa acomodação pararia por ali, não conseguindo melhorar de verdade, com a série ficando destinada a uma espécie de limbo narrativo, sem encontrar um ponto de equilíbrio, ou seja, por vezes acertando, mas por outras vezes errando. Claro que ainda estamos no primeiro terço da temporada, mas fico feliz em constatar que The People vs. Emil Blonsky vem para mostrar que meu receio parece infundado, com o comando criativo de Jessica Gao cada vez mais revelando que a série tem sim um caminho e uma identidade bem definidos, com Tatiana Maslany simplesmente acertando demais tanto como Jennifer Walters quanto como a Mulher-Hulk.

E, da mesma maneira que a série vem se acertando a olhos vistos, a fusão de Walters e de seu alter-ego vem se tornando algo constantemente mais natural, mesmo que ainda exista um certo Vale da Estranheza causado pela necessidade de se ter um único personagem em CGI cercado de humanos reais, o que é perfeitamente natural e aceitável se o espectador não for um daqueles ranhetas que reclamam por qualquer coisa. Até mesmo a narrativa didática de cunho feminista deixou de ser algo artificial como no primeiro episódio, ganhando, aqui, um excelente momento que é o equivalente audiovisual a bem distribuídos tapas na cara da galera que se contorce quando se depara com protagonismo feminino, especialmente quando ele vem para aparentemente (só aparentemente já basta) substituir um personagem masculino. Falo da brevíssima montagem em que basicamente vemos vídeos de “fãs” reclamando justamente desse protagonismo que são claramente metalinguísticos e que quebram mais a quarta parede do que a própria protagonista.

Falando em quebrar a quarta parede, esse episódio também nos brinda com dois ótimos usos desse hoje batido artifício. Um é completamente autoconsciente quando Walters, dirigindo, mas sem segurar no volante, nos diz que a série é dela apesar das várias pontas célebres que apareceram nos três episódios até agora, ou seja, ela usa as referências para nos dizer que ela sabe que são referências e que, no final das contas, por sua expressão de resignação, elas são inevitáveis. O outro momento é brevíssimo, quando ela se encontra com Nikki e Pug no restaurante e afirma para nós que esse é o momento em que as tramas convergem. Alguns podem até ver didatismo ali, mas o que eu vi foi uma ótima e construtiva brincadeira com basicamente a “arte” de se fazer TV.

E que tramas são essas? Bem, a primeira e principal é a continuada tentativa de Walters de conseguir a liberdade condicional para Emil Blonsky apesar de sua fuga da prisão para ir lutar na China contra Wong. Isso torna possível trazer o quase onipresente Mago Supremo (Benedict Wong) para a série em um papel atrapalhado e, por isso mesmo, muito simpático e irresistível. Aliás, tudo que gira ao redor do personagem de Tim Roth é impagável, seja sua postura zen, sua aparentemente franca mudança desde O Incrível Hulk até agora, a presença salvadora de Wong, e, claro, a tropa de mulheres que se apaixonaram por ele via correspondência enquanto ele estava na prisão. É tão bobo que é impossível não abrir um sorriso com a interação de todos ali na cela de alta tecnologia do ex-Abominável.

A outra trama consegue ser mais boba ainda, aliás. Trata-se de Runa (Peg O’Keef), uma elfa da luz transmorfa de Nova Asgard que vive de dar golpes, tendo como vítima mais recente o insuportável promotor Dennis Bukowski que contrata o escritório de Walters para representá-lo, sobrando para Pug a missão. A questão é que Dennis gastou uma pequena fortuna com a elfa disfarçada de Megan Thee Stallion (que, somente nos créditos, descobri que não era uma personagem fictícia, mas sim uma pessoa real, aparentemente uma rapper…) e, agora, vendo a fraude, quer o dinheiro de volta. A ironia de tudo é que a ojeriza que Walters sente por ele é o que acaba dando-lhe a vitória (olha a convergência narrativa aí!), ainda que eu espere que, em algum momento, ele tenha o que merece por simplesmente ser o tipo de pessoa que é.

O que não funciona muito bem é o final, que coloca a heroína brevemente contra a Gangue da Demolição finalmente dando as caras do Universo Cinematográfico Marvel e, surpreendentemente, de maneira bem fiel à original, ainda que com vilões menos… musculosos… Entendo a necessidade de se criar uma continuidade narrativa e até mesmo de introduzir uma ameaça maior que, pelo visto, está atrás do sangue da Mulher-Hulk, mas o problema é que esse final pareceu um apêndice não muito diferente da aparição completamente aleatória de Titânia ao final do episódio inaugural. Faltou organicidade para aquele ataque, pois a gangue poderia ter sido apresentada antes, sem os apetrechos asgardianos, talvez, recebendo a missão de quem quer que seja o mandante deles ou algo nessa linha. Gao pode até querer uma série composta de episódios semi-independentes, no estilo “caso da semana”, mas ela precisa criar ritmo com essas aparições mágicas de vilões que parecem só existir de verdade para permitir que a Mulher-Hulk encha alguém de sopapos.

Mesmo assim, The People vs. Emil Blonsky parece encontrar um bom equilíbrio entre comédia e ação, sem recorrer a diálogos explicativos demais e abrindo generoso espaço para Maslany mostrar sua latitude dramática com as duas cores de pele que tem na série. Ainda fico com a mesma dúvida que tive no episódio anterior, sobre o formato que a showrunner deseja realmente adotar, mas ainda assim essa questão não vem atrapalhando a experiência divertida que é assistir Mulher-Hulk: Defensora de Heróis (e de Vilões, né?).

Mulher-Hulk: Defensora de Heróis – 1X03: The People vs. Emil Blonsky (She-Hulk: Attorney at Law – EUA, 1º de setembro de 2022)
Criação: Jessica Gao
Direção: Kat Coiro
Roteiro: Francesca Gailes, Jacqueline J. Gailes
Elenco: Tatiana Maslany, Ginger Gonzaga, Josh Segarra, Tim Roth, Benedict Wong, Steve Coulter, Drew Matthews, Megan Thee Stallion, Nick Gomez, Justin Eaton, Peg O’Keef
Duração: 34 min.

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