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Crítica | Ms. Marvel – 1X06: No Normal

Retornando ao normal.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios da série.

Com o retorno de Kamala Khan para Nova Jersey para o encerramento de Ms. Marvel, a série também volta ao seu normal, apesar do título que diz que não há um “normal”. Afinal, aquela deliciosa e genuína abordagem teen que vimos em Generation Why e em Crushed, com a protagonista aprendendo a lidar com seus poderes começou a desaparecer na medida em que a aventura foi deslocada para o Paquistão para um mergulho na origem do misterioso bracelete que ela herda de sua avó, mesmo que a viagem para o oriente tenha vindo como uma maneira de dar ainda mais legitimidade a uma história tão preocupada com as raízes muçulmanas e paquistanesas da família Khan, com direito à abordagem da Partição da Índia, fato histórico que é pouco (ou seja, nunca) lembrado nas escolas do ocidente.

Em No Normal, toda a família de Kamala já sabe que ela é a super-heroína que apareceu nas redes sociais e televisões locais e sua mãe, revelando-se como uma costureira de mão cheia como Peter Parker, finalmente presenteia a filha com seu uniforme que adota os tecidos e as cores que aos poucos foram conectadas com a personagem e que, claro, ecoam às de sua heroína favorita, a Capitã Marvel. E, paramentada como Ms. Marvel, ainda que sem ainda usar esse nome, Kamala parte para ajudar Kamran a fugir da cada vez mais obcecada Sadie Deever do Departamento de Controle de Danos  ajudada por seus melhores amigos Bruno e Nakia, seu irmão Aamir e, finalmente, sua ex-inimiga e vlogueira Zoe.

O que funciona, aqui, é justamente o “estilo Goonies” de aventura, ou seja, uma espécie de brincadeira descompromissada em que adolescentes (e um adulto, eu sei) precisam lidar com vilões atabalhoados com o uso de apetrechos improvisados da escola onde se escondem. Claro que No Normal não chega ao patamar da obra infanto-juvenil clássica de Richard Donner, mas ela captura seu espírito com bastante sagacidade se o espectador souber embarcar na proposta leve que evidentemente retorna à estrutura dos dois primeiros episódios da série, estilo esse que, reconheço, deveria ter sido mantido por toda sua duração, sem a necessidade, no momento, da aventura no Paquistão.

Claro que Ms. Marvel, sendo uma série socialmente engajada como foi desde o primeiro segundo de projeção, não perde nenhuma oportunidade de lidar com a perseguição, por autoridades, de grupos étnicos minoritários, com o roteiro pecando um pouco pelo didatismo nesse aspecto, mas sem realmente atrapalhar a narrativa como um todo, até porque há relevância efetiva nessa abordagem dessa maneira. Afinal, a protagonista é uma heroína que representa uma das minorias mais estigmatizadas e perseguidas por aí, normalmente associada com terrorismo e é sempre bom lembrar que esse tipo de preconceito não é, como alguns insistem em afirmar, imaginário, exagerado ou coisas do gênero.

Com Kamala usando seu uniforme e Kamran tendo recebido os poderes da mãe (ou da Dimensão Noor enviados pela mãe, ainda não estou certo), há uma dependência maior de CGI no episódio e, entre mortos e feridos, todos acabam se salvando, com efeitos decididamente simples, mas que acabam dando conta do recado de maneira eficiente. Confesso que, assim como os poderes originais de Kamala dos quadrinhos, não vejo tanta graça nessa versão “cristal Swarovski lilás”, como um leitor uma vez pontuou, mas eles pelo menos são diferentes do usual e, em tese, ainda sendo usados de maneira acanhada pela heroína e também por Kamran. Aliás, gostei que o rapaz não foi transformado magicamente em vilão pela revelação de que sua mãe morreu, mantendo uma certa ambiguidade até o fim e evitando o que aconteceu com os demais Clandestinos.

Sobre Kamala ser uma mutante, como Bruno revela a ela no final (e que as breves notas da trilha do desenho animado noventista dos X-Men não deixam margem à dúvida), não sei muito o que pensar ainda. Minha reação imediata é achar estranho a introdução efetiva do tão importante conceito de mutantes no Universo Cinematográfico Marvel dessa maneira, com um linha de diálogo em uma série de TV. Por outro lado, considerando que Kamala é uma inumana nos quadrinhos e que os Inumanos, em linhas gerais, assemelham-se muito aos mutantes, faz sentido que essa conexão seja feita (considerando, claro, que a introdução dos inumanos na ótima Agents of S.H.I.E.L.D. e, depois, seu uso naquela horrorosa série de TV sobre a família real deles serão/já foram esquecidos). O que eu realmente acho estranho é que essa revelação dá a entender que os mutantes estão começando a aparecer no UCM, o que pode ser estranho em termos cronológicos. Seja como for, deixo esse julgamento em suspense para ver como Mr. Feige planeja desenvolver isso…

Finalmente, temos que falar sobre o aparecimento de Carol Danvers na cena de meio de créditos. Toda aquela sequência parece servir não apenas para conectar a história com o vindouro filme The Marvels, como para homenagear a clássica conexão de Rick Jones com o Capitão Marvel original da Marvel Comics (que por sua vez, claro, referenciava o Capitão Marvel realmente original da Fawcett Comics, hoje Shazam), com um trocando de lugar com o outro a partir do uso de braceletes. O que ficou parecendo considerando aquele flashback em que o bracelete foi encontrado em um braço azul, provavelmente Kree, é que a origem de seu poder é cósmica e realmente conectada com o povo alienígena de onde Mar-Vell saiu. Gosto dessa homenagem, mas temos por sua complexidade ou, pior ainda, sua transformação em algo rasteiro. Novamente, vamos ver até onde Mr. Feige vai com isso…

No Normal, então, encerra Ms. Marvel fazendo a série retornar ao que era em seu começo, uma simpática e colorida aventura adolescente com preocupações de natureza religiosa e étnica e, ao mesmo tempo, consegue lidar com uma informação bombástica que vem completamente de surpresa para introduzir todo um conceito novo no UCM e com a ligação com o filme em que veremos as três heroínas que carregam o nome da editora (ou que um dia carregaram, pois a Capitã Marvel de Monica Rambeau provavelmente não será “alguma-coisa Marvel”). Não foi o que poderia ter sido, mas, pelo menos, resgatou o que um dia ameaçou ser. Menos mal.

Ms. Marvel – 1X06: No Normal (EUA, 12 de julho de 2022)
Desenvolvimento: Bisha K. Ali
Direção: Adil El Arbi, Bilall Fallah (Adil & Bilall)
Roteiro: Will Dunn, A. C. Bradley, Matthew Chauncey
Elenco: Iman Vellani, Matt Lintz, Yasmeen Fletcher, Zenobia Shroff, Mohan Kapur, Saagar Shaikh, Laurel Marsden, Azhar Usman, Arian Moayed, Alysia Reiner, Travina Springer, Rish Shah, Nimra Bucha, Samina Ahmad, Farhan Akhtar, Aramis Knight, Mehwish Hayat, Zion Usman, Fawad Khan
Duração: 49 min.

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