Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Motorista Fantasma: Especial de Natal 2016 (Infinite Comics)

Crítica | Motorista Fantasma: Especial de Natal 2016 (Infinite Comics)

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

Há muitos e muitos anos, em uma das paredes de Lascaux, um homem pré-histórico chamado Rii-aan, pintou uma série de símbolos estranhos. Centenas de milhares de anos depois, os estudiosos conseguiram traduzir esses símbolos para o texto abaixo. Rii-aan, hoje, é conhecido hoje pelos becos como “Ritter Fan”, o mais pré-histórico dos velhos nerds.

Obs: O nome do personagem, em inglês, é Ghost Rider, originalmente traduzido no Brasil como “Motoqueiro Fantasma”, já que a versão mais clássica do anti-herói, Johnny Blaze, usava (e ainda usa) uma moto. No entanto rider é uma palavra em inglês que pode ser usada para designar “motoqueiro”, “motorista” e até “cavaleiro” e a melhor tradução seria, talvez, “Piloto Fantasma”. Mas, para ficar próximo à versão original em português e considerando que [essa edição] ainda não foram publicada por aqui, não tendo, portanto, um nome oficial, decidi usar o nome “Motorista Fantasma”, nome esse que já vem sendo usado informalmente internet afora para designar o novo personagem.

***

O nível de simpatia macabra de Robbie Reyes e sua “possessão” Eli Morrow tem nessa história é tamanho, que mesmo sendo um especial de Natal rápido, com o mínimo de diálogos possíveis e menos narrativas que exploram o enredo — um ponto constante nos quadrinhos ágeis lançados com a tag Infinite Comics, lançamentos digitais desenhados exclusivamente em painéis (formato “horizontal”, por assim dizer) dando uma maior sensação de movimento na passagem de uma página para outra –, o volume acaba nos engajando por completo nessa jornada sombria do personagem para salvar o Natal.

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Às vezes é preciso ser simples para conseguir bons resultados.

Tendo como suporte de roteiro o adorável Gabriel Reyes, irmão do Motorista Fantasma, Papai Noel e, como vilão, o sempre interessante mito do Krampus — figura folclórica oposta ao Papai Noel, que fala para as crianças os seus atos ruins e as pune. No Brasil nós temos uma versão do Krampus, em Santa Catarina, onde é chamado de Pensinique (e também “Papai Noel do Mato”), corruptela de Pelznickel, que é como o Krampus era chamado no sul da Alemanha –, que nesta história está sequestrando crianças e levando-as para o Pólo Norte, a fim de castigá-las.

Vale destacar que o roteiro do rapper Method Man e Anthony Piper não é inovador e nem traz coisas absurdamente novas para esse tipo de cenário. A presente revista é um Especial de Natal no Universo de um personagem macabro, e isso é bem desenvolvido, mas algumas situações são bastante ingênuas, até meio bobas. Talvez se estivesse dentro de um cenário diferente, isso poderia tornar o roteiro menos interessante. Todavia, se olharmos com mais cinismo para a ação do Krampus, um sequestrador e devorador de crianças rebeldes, veremos que há muito mais no Especial do que está à vista.

A arte de Piper, com finalização de Balak, é um pequeno espetáculo à parte e muitas vezes nos presenteia com situações impagáveis do protagonista com Eli e cenas de grande fofura dele com o irmão Gabriel, já no começo da HQ, quando Robbie vai buscar o irmão, que está em uma cadeira de rodas, e eles trocam algumas palavras e se abraçam ternamente. Seguindo a proposta dos Infinite Comics, os artistas fizeram sequências lógicas e às vezes muito criativas marcando a passagem de um painel para outro, com alterações coesas de cenário ou localização de pessoas no carro, em casas e outros ambientes. Claro que é impossível fazer essa passagem fluída todo o tempo, senão a história não mudaria de cena, mas cada bloco dramático recebe um bom tratamento visual, além de excelente coloração, a cargo de Andres Mossa, em parceria com Anthony Piper.

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Krampus prestes a cozinhar uma criança mal-comportada.

Com as sempre esperadas mensagens morais — não aquelas chatas, umas bem bonitinhas, por sinal –, boa sequência de ação, um pouco de nonsense e um diferente espírito natalino em pauta (nada tãaaao diferente como este quadrinho, mas mesmo assim…) Motorista Fantasma: Especial de Natal 2016 é o tipo de leitura que nos deixa com um sorriso meio bobo nos lábios, talvez por termos visto o Natal e as coisas que ele traz dentro de uma realidade impensada; ou talvez por vermos que mesmo nos mais insanos e impossíveis cenários — se o escracho e a sátira não são o motor principal do enredo — é possível ter o reencontro de pessoas que se amam, ou seja, o verdadeiro espírito do Natal.

Mas claro que isso não termina sem antes aparecer uma ameaça (ou seria um “quem avisa, amigo é“?) feita por alguém que sabe dar uma segunda chance, mas não ficaria feliz em ver que o “resgatado de ontem” fazendo as mesmas besteiras amanhã. Pensando bem, seria muito bom que existisse um personagem assim no nosso cotidiano. Além da vida, que já faz esse papel para todos nós desde que aprendemos o significado da palavra não.

Motorista Fantasma: Especial de Natal 2016 (Ghost Rider X-Mas Special Infinite Comic Vol.1 #1 – Infinite Comics) — EUA, dezembro de 2016
Roteiro: Method Man, Anthony Piper
Arte: Anthony Piper
Arte-final: Balak
Cores: Andres Mossa, Anthony Piper
Letras: Travis Lanham
80 páginas

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