Home TVEpisódio Crítica | Agatha Christie’s Poirot – 9X03: Morte no Nilo

Crítica | Agatha Christie’s Poirot – 9X03: Morte no Nilo

O lado humano de Poirot.

por Luiz Santiago
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Este filme-episódio da série Agatha Christie’s Poirot foi a segunda adaptação para o audiovisual do romance Morte do Nilo, escrito por Agatha Christie em 1937. Em seu nono ano de existência, a série britânica já tinha uma longa tradição de transpor com competência para a pequena tela as histórias da Rainha da Crime protagonizadas pelo seu mais famoso detetive; e mesmo que existam alguns capítulos nada louváveis ao longo do show (a terrível versão de Assassinato no Expresso do Oriente que o diga) o resultado geral de todo o trabalho feito pela produção, pelos diretores, pelos técnicos e especialmente pelo elenco é digno de aplausos, sendo esta transposição de Morte do Nilo um desses muitos (ótimos) casos.

Feita por Kevin Elyot, a transposição do enredo literário para o televisivo manteve duas interessantes linhas, uma de fidelidade à obra original (até onde foi possível, claro) e outra de leves mudanças ou condensação de eventos maiores em favor da intriga romântica principal, em outras palavras, o triângulo amoroso protagonizado por Linnet Ridgeway (Emily Blunt), Jacqueline De Bellefort (Emma Griffiths Malin) e Simon Doyle (JJ Feild), com todos os atores em excelentes performances. Aqui, a hostilidade em relação à herdeira milionária se dá a partir da briga com Jacqueline, em pleno solo egípcio. Depois de duas cuidadosas cenas de abertura, passamos para a estadia de todo um grupo de pessoas no país africano e, dentre elas, estão os que se envolverão diretamente em uma empreitada verdadeiramente trágica.

Sem pressa para apresentar os pontos mais intensos do drama, o diretor Andy Wilson faz um interessante trajeto a fim de acostumar o espectador com os personagens e suas idiossincrasias. Nesse meio tempo, os muitos encontros do detetive Hercule Poirot contextualizam o personagem e mostram um pouco da personalidade, vontades e aversões dos passageiros do Karnak. Nenhum dos coadjuvantes aqui parece deslocado. É um verdadeiro prazer assistir a uma produção com um elenco tão afiado e interpretando os seus personagens de um modo a fazer sentido para o tempo retratado e para o contraste necessário com seus parceiros de viagem. E notem que os contrastes abundam aqui, o que torna os conflitos, as ameaças e as motivações para os assassinatos ainda mais interessantes e impressionantes — mesmo para quem já leu a obra original.

Acredito que o diretor perdeu a oportunidade de explorar melhor as cenas nos lugares históricos. As visitas que vemos o grupo de turistas fazerem são excelentes e mostram que um pouco mais de contexto e de fortalecimento do problema nesse cenário poderia fazer muito bem ao filme. Com isso, não quero dizer que todo o longo período passado a bordo do Karnak seja ruim, porque não é. O desenho de produção merece aplausos pela maneira como pensou todo o espaço e Andy Wilson certamente soube aproveitar a movimentação dos atores por aquele grande palco flutuante, de modo que nada parece enjoar o público, graças aos bons movimentos de câmera, às boas escolhas de posicionamento em ambientes que precisam se repetir e principalmente e às boas escolhas na passagem entre o “falso final” e o “verdadeiro final” da fita.

O único ponto falho que vejo aqui — considerando toda a dinâmica do filme, julgando o que seria melhor depois de tudo o que havia sido construído com o elenco — está no formato de revelação dos assassinos, que é um pouco decepcionante pela falta de mais personagens presentes no grande momento de descoberta (a adaptação para o cinema, em 1978, explorou muito bem esse tipo de “clichê poirotiano” que a gente adora). Ao fim de tudo, porém, todos presenciam o último suspiro dos culpados e o caminho para esse final coloca Poirot, mais uma vez, como um romântico e justo investigador que sabe entender a personalidade dos criminosos e deixar que eles tomem o caminho da justiça… mesmo que seja uma justiça nada nada ideal.

Death on the Nile (Agatha Christie’s Poirot 9X03) — Reino Unido, 12 de abril de 2004
Direção: Andy Wilson
Roteiro: Kevin Elyot (baseado na obra de Agatha Christie)
Elenco: David Suchet, James Fox, Emma Griffiths Malin, JJ Feild, Emily Blunt, Judy Parfitt, Daisy Donovan, Barbara Flynn, Daniel Lapaine, David Soul, Frances de la Tour, Zoe Telford, Alastair Mackenzie, Steve Pemberton, George Antoni, Elodie Kendall, Félicité Du Jeu
Duração: 97 min.

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