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Crítica | Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais

A novela sobre um crime.

por Felipe Oliveira
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Já faz algum tempo desde que Ryan Murphy trouxe para o formato de antologia histórias baseadas em crimes reais que chocaram a America. Diferente de American Crime Story, com a alta de documentários nos moldes de true crime, a intitula Monsters tem como foco casos de serial killers. Enquanto a primeira temporada da atração criada por Murphy e Ian Brennan carregava uma densidade ao abordar o modus operandi de Jeff Dahmer e humanizar suas vítimas, o segundo ano da série esbanja mais do Murphy noveleiro e exagerado ao colocar como ponto principal as nuances que acompanharam o caso de Erik e Lyle, jovens que assassinaram os pais, Jose e Kitty Menendez a tiros de espingarda em 1989. Muito do tom da série é definido pelas personalidades distintas dos protagonistas sociopatas,  sendo Lyle temperamental e Erik, emotivo.

O primeiro episódio é essencial ao transmitir o ar de incerteza quanto às informações do caso, pois a narrativa se concentra no ponto definitivo que causou a condenação dos irmãos: a confissão de Erik (Cooper Koch) para seu psicólogo. A retratação para como os eventos foram a público está presente, mas fica evidente que Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais não está preocupada em trazer alguma veracidade em sua dramatização e sim contar essa história por uma ótica novelesca. Em Dahmer, havia o cuidado para como o serial killer seria apresentado, por isso, parte da narrativa percorria seus crimes em diferentes linhas de tempo até chegar na descoberta, enquanto Murphy jura de pés juntos que tudo que está na serie – o que põe em dúvida a certeza da suposta relação homoerótica dos irmãos que se tornou chamativa desde a divulgação – aconteceu.

O ponto em questão é que esta parece ser a dramatização mais fraca desde que Murphy começou a trazer as histórias de crimes reais para as telas, tanto pela abordagem caricata quanto pelo excesso de conveniências que fazem a temporada nunca encontrar seu equilíbrio. Se antes tinha o cuidado para não romantizar um pedófilo e assassino, aqui é true crime sobre dois sociopatas num nível pastelão. O segundo episódio é o maior exemplo em como a escrita da série foi utilizando os eventos em torno do crime, injetando diferentes situações que não soam interessantes para a premissa, como se não se levasse totalmente a sério, se dividindo em contar essa história por um viés dramático ou por um conteúdo fabricado. Em comparação ao capítulo inicial, onde a elaboração e como o crime aconteceu era o momento chave, o episódio seguinte é o que mostra o caminho que a temporada irá desenvolver: um crime por um prisma novelesco e incestuoso. 

Para um caso que se estendeu por anos por ter chocado Beverly Hills, Assassinos dos Pais troca a dramaticidade por uma abordagem que quer ser de tudo um pouco; da caricatura à comédia, porém, com um texto afetado. A forma que o episódio inaugural de Dahmer foi feito encontrou seu ápice no sexto capítulo, um dos momentos mais inspirados e criativos, enquanto aqui tudo parece solto e despreocupado de definir uma narrativa mais consistente. Embora as performances de Koch e Nicholas Alexander Chavez se destaquem – sendo o quinto capítulo o trecho mais contido – parecem consequências isoladas dentro da fraca abordagem da série sobre um caso que teve grande repercussão, afinal, soava como uma novela: dois irmãos ricos que mataram os pais, encobriram o crime e seguiam uma vida de pós-luto ostentando a herança. Se em algumas escolhas a temporada bebe de thrillers policiais genéricos para fazer seu momento melodramático, em outros, o exagero simplesmente torna o show em uma comédia – seria essa a única abordagem sobre dois sociopatas mimados? – que ora se inclina em lembrar da investigação do crime, ora é apenas Murphy expandindo o que era impreciso sobre o caso, principalmente a orientação sexual de Erik.

A ideia é abordar o contexto psicológico e emocional e examinar as diferentes dinâmicas que antecederam o crime, fazendo disso a peça para movimentar o suspense, trazendo a típica alternância de perspectivas para tornar a narrativa mais complexa a fim de explorar a ambiguidade familiar que tornou o caso tão divisivo, contudo, Murphy propõe aqui uma abordagem não tradicional, variando até mesmo no tom. São tantos os absurdos que esta não poderia ser nada menos que uma dramatização sobre um crime real, a ponto de fazer querer assistir o documentário que a Netflix traz como dobradinha ao lançar a versão orquestrada por Murphy e a versão com relatos dos réus, autoridades e profissionais envolvidos com o caso – tudo como pretendido. Enquanto a temporada é tudo, menos um recorte sério do que está contando, fica claro que Murphy trata sua nova antologia como um universo expansivo ao citar trabalhos antigos e dá dicas sobre os próximos – possíveis – cenários. Até então, a saga Monsters tem a garantia de mais um ano, pronta para contar a história do serial killer que mais inspirou a criação de outros monstros na história do cinema: Ed Gein, semente essa plantada em Dahmer.

Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais (Monsters: The Lyle and Erik Menendez Story)
Criação: Ryan Murphy, Ian Brennan
Direção: Paris Barclay, Carl Franklin, Michael Uppendahl, Ian Brennan, Max Winkler
Roteiro: Ryan Murphy, Ian Brennan, David McMillan, Reilly Smith, Todd Kubrak
Elenco: Cooper Koch, Nicholas Alexander Chavez, Javier Bardem, Chloë Sevigny, Ari Graynor, Dallas Robert, Marlene Forte, Nathan Lane, Leslie Grossman, Larry Clarke, Jason Butler Harner, Charlie Hall, Jeff Perry, Enrique Murciano
Duração: 58 a 65 min (9 episódios, cada)

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