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Crítica | Monstros da Universal: O Monstro da Lagoa Negra Vive!

Transformando-se em monstro.

por Ritter Fan
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Na segunda minissérie da linha Monstros da Universal pela Skybound Entertainment, divisão da Image Comics presidida por Robert Kirkman, a editora oferece uma nova abordagem sobre o famoso Monstro da Lagoa Negra, que surgiu no icônico filme B de 1954, dirigido por Jack Arnold. Mas, diferente de Drácula, publicada entre o final de 2023 e o começo de 2024, a proposta não é uma adaptação em quadrinhos do filme, mas sim uma continuação que ignora os eventos dos dois longas seguintes, os terríveis A Revanche do Monstro e À Caça do Monstro, e estabelece a ação ocorrendo algo como 30 anos depois dos eventos originais, na mesma região da floresta amazônica onde está localizada a mítica “lagoa negra” em que vive o mais mítico ainda monstro, conhecido nos EUA como Homem-Guelra.

Na história escrita por Dan Waters e Ram V, somos apresentados à jornalista Kate Marsden que está por ali obsessivamente atrás de outro monstro, o ex-soldado e assassino em série americano Darwin Collier, que gosta de matar suas vítimas afogando-as e que quase vitimara Kate dessa forma. Não demora, porém, e Kate descobre que realmente há um monstro não humano por ali também que, assim como no longa dos anos 50, estabelece uma conexão com a “dama em perigo” que, por sua vez, arregimenta a ajuda do Dr. Edwin Thompson (personagem vivido por Whit Bissell no filme) que, ao lado de seu ajudante local Christiano, caça também obsessivamente a criatura que deformou seu rosto décadas atrás. Em outras palavras, a minissérie tenta ser um estudo sobre a podridão da natureza humana, com Kate, Edwin e Darwin representando facetas complicadas que assustam muito mais do que o suposto monstro que espreita pelas águas escuras da região.

O roteiro é particularmente feliz na forma como aborda a protagonista. Eu usei a expressão “dama em perigo” no parágrafo anterior, mas ela é tudo menos isso, ainda que ela também não possa ser facilmente caracterizada como uma heroína, mesmo que seu objetivo seja localizar um perigoso serial killer. Afinal, sua verdadeira motivação é vingança e o que ela deseja fazer com Darwin está longe de ser Justiça, e é muito interessante como o texto não se desvia do mergulho literal e metafórico de Kate em uma espiral que chega a resvalar na cegueira da insanidade. Não quero com isso dizer que ela é pior do que o serial killer que caça, longe disso, mas não deixa de ser corajoso dos roteiristas estabelecer uma protagonista por quem é difícil criar empatia. Claro que ela foi traumatizada por sua experiência com Collier, o que a torna uma sobrevivente, mas teria sido muito fácil para Waters e Ram V seguir essa linha e realmente caracterizá-la como um vítima histérica, mas eles oferecem algo mais que, de certa forma, paraleliza Kate tanto com Darwin quanto com Edwin.

Também gosto muito de como a criatura ancestral que vive por ali é mantida em segundo plano. Apesar do título, a história é muito mais sobre a natureza humana do que sobre o monstro como, aliás, era também o caso do filme de 1954. A fantasmagórica arte de Matthew Roberts faz a floresta respirar ao redor dos personagens, criando uma sensação de claustrofobia e ele sabem manter a criatura sempre “por ali” sem necessariamente mostrá-la, o que estabelece a natureza do suspense necessário para povoar a narrativa e para criar o contraste entre os humanos e o Homem-Guelra. Há uma eficiente captura da atmosfera e estilo dos filmes B da época do longa original, ainda que a paleta de cores pudesse ter sido emudecida ou, talvez até, trocada para os tons de cinza, mas emular ainda mais a película.

Por outro lado, não gosto da “reviravolta” relacionada a Darwin Collier que é revelada ao final da terceira e penúltima edição. Não descreverei o que acontece para evitar spoilers, mas basta dizer que Waters e Ram V saem da seara da metáfora e desnecessariamente entram na da literalidade, convertendo o que já não era lá tão sutil em óbvio ululante como se o leitor não fosse capaz de pescar a mensagem que eles queriam passar. É um pouco frustrante quando isso acontece em qualquer mídia e, aqui, não é diferente, ainda que a experiência da leitura não seja exatamente estragada quando isso acontece. Ela apenas perde um pouco de seu valor.

Monstros da Universal: O Monstro da Lagoa Negra Vive! é mais uma boa minissérie dessa linha editorial da Skybound que vem conseguindo oferecer muita coisa boa com material licenciado. Agora é esperar para ver o que será feito com Frankenstein, Lobisomem e a Múmia!

Monstros da Universal: O Monstro da Lagoa Negra Vive! (Universal Monsters: Monster of the Black Lagoon Lives! – 2024)
Contendo: Universal Monsters: The Monster from the Black Lagoon Lives! #1 a 4
Roteiro: Dan Waters, Ram V
Arte: Matthew Roberts
Cores: Dave Stewart, Trish Mulvihill
Letras: DC Hopkins
Editoria: Alex Antone
Editora: Skybound Entertainment (Image Comics)
Datas de publicação: 24 de abril, 29 de maio, 26 de junho e 24 de julho de 2024
Páginas: 134

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