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Crítica | Monstros da Universal: Frankenstein

O todo a partir de suas partes.

por Ritter Fan
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A linha editorial licenciada Monstros da Universal, pela Skybound Entertainment, extremamente bem-sucedida empresa de Robert Kirkman dentro do ecossistema da Image Comics, poderia muito, mas muito facilmente mesmo enveredar por caminhos genéricos, pouco inventivos que dependem única e exclusivamente do interesse do público leitor pelas famosas criaturas que são abordadas a cada minissérie. E é justamente por se recusar a cair nessa tentadora armadilha que eu acabei admirando tanto o caminho tomado por Alex Antone na editoria que consegue ao mesmo tempo manter-se fiel ao material base e inovar em cada abordagem.

Em Drácula, James Tynion IV e Martin Simmonds criaram uma belíssima e cativante versão do clássico filme de 1931 estrelado por Bela Lugosi.  Já no caso do Monstro da Lagoa NegraDan WatersRam V e Matthew Roberts optaram por criar uma continuação do longa de 1954 que, sabiamente, ignora a existência dos dois filmes seguintes. Agora, em Frankenstein, Michael Walsh, no roteiro e na arte, reconta o icônico filme de 1931 que fez de Boris Karloff a versão que ainda é a definitiva do Monstro, mas sob o ponto de vista das “origens” das partes de cadáveres obtidas pelo Dr. Henry Frankenstein com a ajuda de seu obediente faz-tudo Fritz, mais especificamente, das mãos, do cérebro, do coração e dos olhos usados para “construir” a criatura.

Trata-se de uma ideia muito interessante que, porém, traz consigo muitas limitações narrativas, a mais importante delas sendo o óbvio, ou seja, todas as partes de cadáveres foram obtidas antes de o Monstro nascer pela corrente elétrica de um raio durante uma tempestade. Isso leva a uma narrativa cíclica, com cada uma da quatro edições da minissérie de alguma forma retornando ao começo da história central, mas sempre acrescentando alguns breves momentos em que vemos de quem e em que circunstâncias esses “pedaços humanos” foram obtidos. Com isso, o que temos não é exatamente uma adaptação do longa, mas sim um apanhado de suas sequências mais icônicas – estão todas lá, podem ter certeza – que é costurado pela inserção de um personagem novo, um menino que acabara de perder o pai, cujas mãos são, então, usadas como as mãos do Monstro. É o jovem que, sob diversos aspectos, protagoniza a história, mesmo que sua presença tenha que ser paralela à narrativa do filme, já que ele não aparece por lá.

Walsh, então, fornece ao leitor o que poderia ser melhor descrito como uma visão de bastidores do longa de James Whale, com o garoto transitando entre o fantasmagórico laboratório do Dr. Frankenstein, tendo que se deparar com Fritz e com a criatura, o vilarejo próximo e a casa do pai de Henry, para onde Elizabeth, noiva de Henry, o leva quando descobre de sua existência e de seu estado de penúria. Com isso, o roteirista e desenhista consegue inventivamente circumnavegar os entraves que sua própria escolha narrativa impõe, criando uma minissérie que não é exatamente fluida, mas que garante a manutenção do interesse do espectador ao longo de toda a jornada, ainda que exija, para seu aproveitamento completo, que o filme em que é baseada tenha sido assistido.

A arte de Walsh tem curiosamente o mesmo tipo de estilo gótico da de Mike Mignola, o que é muito apropriado para a proposta da HQ, com humanos levemente caricaturais, construções frias e onipresentes que prendem os personagens em seu interior e um trabalho de cor de Toni Marie Griffin que constantemente mantém a atmosfera lúgubre e doentia da história do médico que brincou de deus vista pelos olhos de um menino horrorizado. O Monstro pouco aparece, mas, quando aparece, sua presença é tão magnética, assustadora e melancólica quanto no filme, com as feições inesquecíveis de Karloff debaixo do soberbo trabalho prostético de Jack P. Pierce sendo obviamente mantidas por ser da essência de qualquer adaptação do referido longa.

Mais um acerto da Skyboynd em sua linha Monstro da Universal, Frankenstein parte de uma ideia inteligente de Walsh para uma execução que, apesar de estranha e por vezes necessariamente repetitiva, consegue recontar a mais famosa versão audiovisual do romance de Mary Shelley sob nova e refrescante perspectiva. Como seria bom se toda franquia fosse pensada desde seu começo com o objetivo de oferecer novas experiências a seus consumidores e não apenas mais do mesmo, não é? Que venham os próximos monstros!

Monstros da Universal: Frankenstein (Universal Monsters: Frankenstein – 2024)
Contendo: Monstros da Universal: Frankenstein #1 a 4
Roteiro: Michael Walsh
Arte: Michael Walsh
Cores: Toni Marie Griffin
Letras: Becca Carey
Editoria: Alex Antone
Editora: Skybound Entertainment (Image Comics)
Datas de publicação: 28 de agosto, 25 de setembro, 23 de outubro e 27 de novembro de 2024
Páginas: 112

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