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Crítica | Monstro do Pântano (Swamp Thing) – 1X01: Pilot

por Luiz Santiago
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  • Há SPOILERS. Leia aqui as críticas dos outros episódios. E aqui as críticas dos quadrinhos do Monstro do Pântano.

Era uma vez uma revista pulp, lançada em agosto de 1940. Em seu interior, o conto It!, de Theodore Sturgeon, que pela primeira vez juntava elementos do folclore das regiões ao sul dos Estados Unidos e criava uma história sobre uma criatura senciente que nascida dos pântanos, coberta de folhagens, galhos e lodo. No decorrer dos anos, os quadrinhos reproduziram essa ideia em diversos personagens, começando com The Heap, em 1942, e seguindo por um lista que traz o nosso Monstro do Pântano além de Solomon Grundy, Homem-Coisa, Bog Swamp Demon e por aí vai. Criado em 1971 por  Len Wein e Bernie Wrightson, nas páginas da revista House of Secrets #92, o Monstro do Pântano teve uma movimentada história editorial, da qual nos interessa aqui o primeiro título mensal que durou 24 edições, o filme de Wes Craven lançado em 1982 e um segundo título solo do personagem, primeiro com 19 edições escritas por Martin Pasko e então a passagem para as mãos de Alan Moore, na edição #20, intitulada Pontas Soltas.

Foi justamente nesta fase composta por 45 edições que Gary Dauberman e Mark Verheiden focaram para conceber Swamp Thing (2019), a terceira série live-action do DC Universe. Com um time de produção fortemente ligado ao terror, bom orçamento e um tom completamente diferente em relação às outras séries do serviço, Swamp Thing promete ser, caso continue nesta toada, uma forte concorrente em qualidade para a excelente Doom Patrol, o que já é algo incrível e difícil de se imaginar.

Este Piloto, dirigido por Len Wiseman e escrito pelos criadores da série, faz aquilo que todo primeiro episódio de série faz: nos introduz ao Universo do show, nos apresenta personagens e nos dá as primeiras nuances da trama principal. Aqui, entendemos qual é o gênero e a linguagem que o diretor e os produtores utilizaram para contar essa história, assim como notamos pitadas de mistérios (de diversos tipos) e uma linha investigativa que em breve irá se juntar à jornada do Monstro do Pântano. Vale dizer que nos quadrinhos, o Pantanoso começou como um personagem de terror, mas depois foi se abrindo para fantasia, drama jornalístico e investigativo, drama ecológico, drama místico e, por fim, ficção científica pura. Tudo isso ao longo dos seis arcos da revolucionária fase de Alan Moore à frente do personagem, a saber: A Saga (1984), Amor e Morte (1984 – 1985), A Maldição (1985), O Assassinato dos Corvos (1985 – 1986), De Terra a Terra (1986 – 1987) e Reunião (1987).

Na série, há uma grande diferença em relação aos quadrinhos na forma como Alec Holland (interpretado por Andy Bean na versão humana e por Derek Mears quando transformado em Monstro do Pântano) morreu e ganhou os seus poderes. As mudanças, porém, combinam perfeitamente com este novo cenário, uma cidade do sul dos Estados Unidos, margeada por um antigo e icônico pântano onde grandes histórias misteriosas são contadas. A direção de Len Wiseman e a excelente fotografia do uruguaio Pedro Luque permitem que o espectador mergulhe nesse cenário de maneira crua, começando pelo princípio ameaçador de uma epidemia que se espalha pela cidade e seguindo com pequenos momentos que nos mostram segredos de personagens, comportamento da cidade e alguns de seus mistérios, dentre eles, a temida e respeitada Madame Xanadu (Jeryl Prescott), que aparece de maneria breve em uma única cena.

Quem conduz a trama é Abigail “Abby” Arcane (Crystal Reed, de Teen Wolf e Gotham), uma importante Doutora dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que é deslocada de uma missão na República Democrática do Congo para sua antiga cidade na Louisiana, onde uma estranhíssima doença em estágio inicial já preocupa os médicos locais. Aliado a Abby, temos Harlan (Leonardo Nam), também Doutor do CDC, que deverá servir de suporte para o núcleo externo da protagonista. O outro componente da dupla central é Alec, mas ele não aparece de imediato e vai pouco a pouco se revelando para o espectador, numa compassada estrutura de apresentação do personagem que eu gostei muito. Como sua versão transformada de Monstro do Pântano só aparece nos segundos finais, vai ser interessante ver como a série irá trabalhar o Musguento em cena. Nos quadrinhos, ele demora um pouco a perceber, mas consegue falar, embora de um jeito bem estranho. Não sei como a série vai representar isso, se através de um efeito de voz (mental ou falada mesmo) ou através de narração. Pelo que deu para perceber aqui, muita coisa seguirá pelo ponto de vista de Abby.

Outros destaques do elenco são o casal Sunderland, vivido pelos veteranos Virginia MadsenWill Patton (ambos maravilhosos em cena), a jornalista Liz Tremayne (Maria Sten) e o policial Matt Cable (Henderson Wade), todos esses com correspondências nos quadrinhos. A partir de uma premissa que mescla ciência, infectologia e drama corporativo ao horror de uma natureza descontrolada, este Piloto dá todas as cartas necessárias para que a gente se importe com os personagens, para que mergulhemos na investigação e tenhamos curiosidade pelo que acontece. A força narrativa e atmosférica são tão grandes (e ajudadas pela trilha sonora macabra, bonita e utilizada de maneira correta, sem didatismo) que tudo aquilo que deve compor um primeiro episódio em termos de abertura para um drama a se desenvolver, ou seja, a conexão desse novo Universo com o público, está presente. As pequenas rusgas que eu percebi na montagem ainda no primeiro ato e um pouco nas cenas do hospital, são detalhes menores diante do divertimento sombrio que o capítulo me proporcionou.

Para terminar, é importante dizer para quem não conhece os quadrinhos, que aqui nós estamos lidando com um reino da natureza, no Universo DC, chamado Verde. Existem vários reinos nos quadrinhos da editora, mas o Verde e o Vermelho são, respectivamente, responsáveis pela vida vegetal e animal no planeta. Ambos escolhem, de tempos em tempos, um representante ou avatar para atuar na manutenção do equilíbrio. O avatar do Verde é o Monstro do Pântano e do Vermelho, o Homem Animal. Lembrando que na DC, outros personagens também possuem acesso ao Verde, mas não são escolhidos como avatares, portanto, não chegam aos pés dos poderes do Monstro do Pântano. Dos mais conhecidos, temos Hera Venenosa e Orquídea Negra. Solomon Grundy arranha a superfície do Verde, mas ele é impedido porque está infectado por outro reino, o Cinza (história para outra ocasião). E podem esperar que a série vai trazer um indivíduo que também terá certo acesso ao Verde, o Homem Florônico. Nos quadrinhos, seu primeiro contato com o Verde não sai nada bem, mas sua segunda versão, como Semeador, tem resultado um pouco melhor, embora não permanente.

Diante disso, tenham em mente que estamos lidando com forças da natureza vs. criações humanas perigosas (especialmente em áreas como química, farmácia, biologia e botânica). E que a natureza pode ser tanto uma bênção e um milagre, quanto uma tragédia e uma maldição, podendo trazer vida e morte. Logo, não se espantem com as cenas de violência causadas pelas árvores nem nada do tipo. E também não esperem que o Monstro do Pântano seja moralmente reto a todo o tempo. Nos quadrinhos, em dado momento, ele chega a se vingar matando de propósito algumas pessoas, por motivos totalmente justificáveis. Pelo que vi nesse Piloto, a série deverá respeitar essa dualidade, o que é ótimo. O DC Universe começa mais uma série com o pé direito. E só em constatar que se trata de uma série do Monstro do Pântano que teve um início sólido, instigante e respeitoso com o personagem, me enche de alegria. Depois de Patrulha do Destino, parece que já tenho a minha dose de expectativa heroica da semana. #vemmonstro

Monstro do Pântano (Swamp Thing) – 1X01: Pilot — EUA, 31 de maio de 2019
Criadores: Gary Dauberman, Mark Verheiden
Direção: Len Wiseman
Roteiro: Mark Verheiden, Gary Dauberman
Elenco: Preston Aranda, Amber Barnes, Jennifer Beals, Andy Bean, John Bishop, Melissa Collazo, Parker Dowling, Kevin Durand, Robert Fortunato, Elle Graham, Monty Hobbs, Shiquita James, David Jimerson, Virginia Madsen, Derek Mears, Leonardo Nam, Will Patton, Jeryl Prescott, Tom Proctor, Crystal Reed, Chasidy Rader, Given Sharp, Charline St. Charles, Maria Sten, Henderson Wade, Gregory Alan Williams
Duração: 60 min.

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