Home QuadrinhosMinissérie Crítica | Monstro do Pântano: Inferno Verde #1 (2021)

Crítica | Monstro do Pântano: Inferno Verde #1 (2021)

O triste futuro da Terra.

por Luiz Santiago
941 views

Que esse planeta está completamente lascado, todo mundo sabe. Em relação à humanidade e em relação ao status de sobrevivência da vida na Terra, por um número muito maior de milênios, eu sou o tipo de pessoa absolutamente pessimista. E daquelas que espera que o homem não consiga colonizar outro planeta, para que não leve pra outro lugar os horrores que conseguiu fazer aqui. Bem, essa nova minissérie em três edições da DC Black Label, protagonizada pelo Monstro do Pântano, foca nessa Bolota Azul do futuro, um lugar muito quente, com oceanos poluídos e em níveis altíssimos; falta de alimento, dificuldades para respirar e diminuição da flora em todo o planeta, assim como o progressivo desaparecimento da fauna.

Em outras palavras, é a Terra que os humanos plantaram ao longo dos séculos: um lugar onde a vida humana é decadente e padece de uma série de problemas que vão da saúde à convivência entre diferentes grupos sociais. O roteiro de Jeff Lemire (que aqui faz muitas referências ao seu belíssimo trabalho à frente do Homem Animal) mostra o cotidiano de uma comunidade nesse planeta condenado, e foca na ocorrência das forças naturais que movem a vida e a decomposição na Terra: o Verde, responsável pela flora; o Vermelho, responsável pela fauna; e o Podre, servo das duas forças anteriores, responsável por decompor matéria orgânica morta. Essas forças travam uma conversa sobre o andamento da existência, sobre a possibilidade de seu desaparecimento caso o homem continue existindo. E é nessa conversa que definem o destino nada legal — e sinceramente, merecedor — da nossa espécie.

SPOILERS!

A reunião desses grandes Reinos Elementais conclui que só o Verde poderia se revoltar contra a carne (o Vermelho não poderia trair sua própria essência) e é assim que um novo Monstro do Pântano é escolhido, não mais moldado através do fogo, como víramos desde a verdadeira origem do personagem (House of Secrets #92), mas através de um simples afogamento, após uma morte violenta. A decisão do Parlamento das Árvores, do Parlamento da Carne e do Parlamento da Decadência é uma decisão emergencial, de “escolha final” para preservarem a si mesmos. O feitiço que Constantine faz, na reta final da edição, acaba sendo a última esperança dos humanos e é o ponto que traz uma verdadeira intriga para a minissérie, agora que Musguento raiz, Alec Holland, foi acordado de seu descanso (fica aqui a dúvida se ele estava no Parlamento das Árvores e também aprovou a criação de um Pantanoso destruidor ou se estava em outro planeta, em outra dimensão) e deverá se opor ao colega avatar.

Vem aqui com o Verdinho, vem!

Já vi gente reclamando da arte de Doug Mahnke para essa edição e acho a reclamação uma bobagem sem tamanho. Tanto o desenho com traços mais irregulares quanto a finalização suja do desenhista são absolutamente perfeitos para esse tipo de realidade, caindo muito bem à história que está sendo contada, desse planeta vivendo por um fio. A mesma coisa podemos falar da inteligente aplicação de cores de David Baron. Na cena de abertura da edição, conseguimos captar a forte sensação de calor e de sujeira da atmosfera e da água que as cores nos passam, da mesma forma que os desenhos de Mahnke indicam uma existência humana plenamente decadente. É aquele tipo de arte capaz de nos fazer sentir cheiro, de nos fazer imaginar com bastante intensidade como é viver no cenário apocalíptico onde essa minissérie se passa.

O debate que o texto de Lemire levanta aqui é justamente a respeito da NECESSIDADE de manter viva uma espécie que, ao longo de toda a sua trajetória, foi ficando muito boa em destruir. E destruir não só a ela mesma, mas também inúmeras outras espécies, de diversos outros Reinos. Discussão mais ou menos similar foi feita em algum momento da Saga do Monstro do Pântano, e aqui ela aparece em seus “finalmentes” práticos. Se forças da natureza realmente pudessem destruir a humanidade, elas o fariam? Aqui vemos a possibilidade desse tipo de atitude intensa de forças que não conhecemos muito bem. E o que fica disso é um alerta. A gente que se prepare. E uma coisa é certa: quando esses reinos realmente se voltarem aberta e diretamente contra nós, uma frase irá ecoar por todos os cantos, em meio aos gritos e ao choro da humanidade moribunda: não foi por falta de aviso.

Monstro do Pântano: Inferno Verde #1 (Swamp Thing: Green Hell) — EUA, 28 de dezembro de 2021
Roteiro: Jeff Lemire
Arte: Doug Mahnke
Arte-final: Doug Mahnke
Cores: David Baron
Letras: Steve Wands
Capa: Doug Mahnke
Editoria: Matthew Levine, Chris Conroy
48 páginas

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais