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Crítica | A Busca Pelos Elementais (Monstro do Pântano #101 – 109)

Doug Wheeler sem saber o que fazer com o Pantanoso.

por Luiz Santiago
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Doug Wheeler começou a escrever para o Monstro do Pântano em 1989, na edição #88 do título, substituindo Rick Veitch no contexto de toda a polêmica aventura onde o protagonista deveria encontrar-se com Jesus Cristo, durante os eventos do arco Irmãos em Armas. O trabalho de Wheeler começou de maneira estranha, seguindo a ideia da Era anterior, de uma viagem do Avatar do Verde pelas Eras históricas, aprendendo coisas e lançando e colhendo sementes para a essência da flora no planeta Terra. Apesar de ser um princípio interessante de enredo, a maneira como o autor expõe isso no arco Sobrevivência do Mais Apto nos faz questionar as escolhas e o encaminhamento narrativo dele, algo que segue acontecendo em Tóxico País das Maravilhas, a aventura que aborda o desenvolvimento de Tefé, a filha do Monstro do Pântano com Abby. E as coisas, infelizmente, não melhoram aqui na despedida do autor, intitulada A Busca Pelos Elementais.

O arco conta com uma “edição solta”, que não é escrita por Wheeler, mas por Andrew Helfer (a edição #101), uma das piores coisas que li em todo o título do Pantanoso até o momento. É uma daquelas revistas “tapa-buraco”, até que o autor oficial entregue a próxima aventura. Não perderei tempo analisando em detalhes essa bobagem, mas digo que a melosa redenção inconsequente de um abusador psicológico de uma criança autista e sua mãe é nojento em todos os sentidos. Bem, após isso, temos dois volumes que introduzem a tal “busca pelos elementais”; primeiro, colocando o Cinza no centro das atenções, e depois, lidando com a existência da pequena Tefé, ainda sem corpo físico/carnal. Essa introdução termina na edição #103, com um enredo que soa meio repetitivo — flertando com coisas introduzidas durante a fase Alan Moore e exploradas no início da fase Rick Veitch) — mas ainda assim, mantém o leitor animado para o que vai acontecer a seguir. E o que vai acontecer é (mais uma) guerra entre as forças que controlam a vida na Terra, nesse caso, o Verde (a flora saudável) e o Cinza (o reino fungi).

Para ser sincero, as edições de desenvolvimento deste arco são muito boas. Eu realmente achei que Doug Wheeler conseguiria encerrar sua jornada com o Monstro do Pântano de forma louvável, porque víamos muitos indicativos disso no miolo da saga. Após a enrolação com o corpo espiritual de Tefé se resolver e ela conseguir um corpo físico novamente, a história progride bem na maioria de suas nuances. A única parte intragável é Abby, que se torna uma chata, reclamando de tudo, querendo entender coisas “sobrenaturais” e opinar sobre um mundo que está fora de seu controle. O roteiro tenta forçar uma “vida de casal” aqui, mas com uma perspectiva maluca apenas por parte de Abby, ou seja, ela fica parecendo a mulher louca de ciúmes pelo seu marido vegetal. É um absurdo mesmo, e indica o teor estruturalmente machista de um autor dos anos 1990 escrevendo uma personagem feminina que só serve para cuidar da filha, reclamar de tudo e correr atrás do marido chorando e lamentando em pelo menos 80% dos quadros em que aparece.

À parte essa construção reprovável, a disputa entre Verde e Cinza e toda a jornada de Matango, o grande vilão do arco, transcorre como deveria: um conflito com uma longa história de formação, influenciado pela viagem anterior do Pantanoso até as Eras iniciais da vida vegetal na Terra e marcado por uma noção de domínio que não parece barata e nem plano raso de “cientista maluco“. Mas aí chegamos ao final do arco e… o autor parece perder completamente o interesse pelo que estava desenvolvendo até ali. Nem o bom projeto artístico dos desenhistas Mike Hoffman e Bill Jaaska, em edições diferentes, reacendem a nossa impressão positiva para a história. Os diálogos são redundantes e irritantes, querendo mostrar um lado filosófico para o qual o leitor não dá a mínima — especialmente porque apareceu tarde demais na trama. É como se o autor atirasse para vários alvos possivelmente interessantes, tentando fechar sua Era de maneira épica, mas não acertando em nenhum. E isso justamente na revista de conclusão. Definitivamente não tem como defender.

A propósito: o epílogo com Cavalheiro Brilhante (Shining Knight) é um absurdo sem par. Consegue piorar algo que já estava ruim, porque o personagem não aparecia há muitas edições e ninguém se lembrava mais a qual linha narrativa ele se ligava. E depois, o cálice de Matango, portando os fungos que deveriam dominar o Verde, não surgiu na aventura como um objeto detentor de grande poder. Para quê, então, se importar tanto com isso, a ponto de fazer um epílogo entregando o tal cálice para “alguém competente” levá-lo para longe? É aquele fechamento de janela narrativa que não deveria acontecer, mas que o autor acha que tem alguma importância e coloca no roteiro. Me pergunto como Karen Berger e Stuart Moore, editores do título, deixaram isso passar.

Monstro do Pântano #101 a 109: Exodus e A Busca Pelos Elementais (Exodus / The Quest for the Elementals) — EUA, novembro de 1990 a julho de 1991
Roteiro: Andrew Helfer (apenas edição 101), Doug Wheeler (102 a 109)
Arte: Mike Hoffman, Bill Jaaska
Arte-final: Alfredo Alcala, Peter Gross, Doug Hazlewood, Mickey Ritter, Bill Jaaska
Coras: Tatjana Wood
Letras: John Costanza
Capas: John Totleben, Simon Bisley, Matt Wagner, Ian Miller
Editoria: Karen Berger, Stuart Moore
216 páginas

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