A condução narrativa de Marjorie Liu nos últimos dois volumes de Monstress, principalmente neste aqui, tem me preocupado. A autora continua arquitetando uma guerra colossal entre os diferentes povos e raças do universo, dos Ancients até os gatos, das bruxas da Cumea até os Arcanics. Considerando a fantástica construção de mundo da obra, é extremamente encantador acompanhar o desenrolar da trama, o que irá acontecer com Maika e Zinn, e qual será o destino do conflito. No entanto, para isso, o roteiro no quarto volume é, em termos gerais, uma extensão da preparação de Refúgio, oferecendo ao leitor um banho informativo de contextos históricos para os eventos futuros.
É um molde compreensivo para trazer estofo ao cenário de guerra, além de que Liu sempre organizou o enredo em torno de pequenos e grandes enigmas, e uma constante busca por respostas do passado misterioso que circula a sociedade deste mundo, sendo que cada grupo, raça, povo e indivíduo guarda diferentes segredos. Explicações serão, portanto, necessárias. Mas assim como disse na crítica do terceiro volume, Liu exagera a mão nas explanações, trazendo diversos diálogos expositivos aqui em torno do pai de Maika explicando seu passado, sua ancestralidade, assim como os vários esclarecimentos de mitologia que recebemos em grandes doses no volume, seja com os poderes de Kippa, as Cortes ou o passado dos Monstrum.
Felizmente, o universo é rico o suficiente para que tudo seja envolvente, mantendo os vários mistérios da trama agradavelmente intrigantes, assim como a arte de Takeda continua um deslumbre a cada virada de página, especialmente nos momentos mais oníricos e surreais, como da imagem acima. Mas é perceptível como a condução narrativa de Liu tem sido menos fluida e substancialmente mais cansativa com a overdose de balões de conversas. Para citar um exemplo, em O Sangue, as informações históricas foram dinamizadas na aventura da Ilha dos Ossos, trazendo contexto junto com uma sensação de movimentação e de uma leitura de fantasia épica sedutora, se aproveitando dos visuais de Takeda e do sentimento tragicamente poético que acompanha a jornada de Maika.
Em A Escolhida, porém, temos uma narrativa mais burocrática e estagnada. Nada remotamente ruim, mas a série está gradativamente perdendo excelência, se tornando levemente maçante com tantos dados e pouca espontaneidade. No entanto, algumas informações são recompensadoras, como o conflito interno de Zinn e Maika com seus respectivos passados e a verdadeira identidade de Vihn, assim como a introdução do malicioso Doutor e o desenvolvimento de personagens cada vez mais interessantes como o Lorde Corvin e a própria Kippa que ganha uma mini-aventura e um papel narrativo além de ser um combo de fofura. Também gosto quando Liu assume um tratamento político, tanto nas cenas dos chefes de Guerra do Lorde Doutor quanto na trama da Baronesa. A caída de qualidade é preocupante, mas também sinto que Liu está preparando um terreno fértil para quando a guerra possivelmente começar.
Monstress – Vol. 4: A Escolhida (Monstress – Vol. 4: The Chosen, EUA – 2018)
Contendo: Monstress #19 a 24
Roteiro: Marjorie Liu
Arte: Sana Takeda
Letras: Rus Wooton
Editora original: Image Comics
Páginas: 152