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Crítica | Monarch: Legado de Monstros – 1X01 e 02: Aftermath / Departure

Ambição monstruosa, mas com monstros de menos.

por Ritter Fan
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Depois de quatro longas cinematográficos lançados a partir de 2014 (Godzilla, Kong: A Ilha da Caveira, Godzilla II: Rei dos Monstros e Godzilla vs. Kong) com mais um prometido para 2024 (Godzilla x Kong: O Novo Império) e de uma série animada (A Ilha da Caveira) em parceria com o Netflix, pode-se dizer que a Legendary, ao lado da Warner e da Toho, conseguiu consolidar seu universo compartilhado de monstros – o MonsterVerseà la Marvel Studios, ainda que sem a mesma magnitude que a franquia interconectada de super-heróis teve em seu começo. Monarch: Legado de Monstros, série live-action em parceria com o Apple TV+, é o mais novo capítulo dessa história que não para de ganhar mais corpo e detalhes intrigantes para alimentar uma franquia cuja ambição parece ser ainda maior do que os monstros que retrata.

Como dois episódios foram lançados no dia da estreia, Aftermath e Departure, fizemos as críticas de cada um deles separadamente e sem que o segundo tivesse sido assistido antes da redação do primeiro texto. Confiram, então, nossos comentários sobre cada um dos dois primeiros capítulos da série.

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Aftermath

Obviamente que a pessoa certa para escrever as críticas de Monarch seria nosso especialista em monstros de borracha, especialmente a lagartixa atômica, Luiz Santiago, mas ele infelizmente não pode se comprometer com o projeto, ainda que eu consiga ouvir de longe seus grunhidos ininteligíveis de frustração e arrependimento. Pessoalmente, acho os filmes japoneses que vi da franquia bastante divertidos, mas não particularmente especiais e eu e o Luiz temos o que posso chamar de uma das poucas visões inconciliáveis sobre o MonsterVerse: enquanto ele preferiria a pura pancadaria entre monstros, ou pelo menos grande destaque a ela, eu acho que a dimensão humana é essencial para eles funcionarem, ainda que, talvez, o equilíbrio não tenha sido alcançado. Além disso, eu sinceramente considero a escala dos monstrões da Legendary completamente impraticável mesmo para as telonas dos cinemas, o que leva os cineastas a trabalharem demais com a câmera lenta.

Feitos esses comentários iniciais, Aftermath também não encontra o tão almejado equilíbrio entre monstros e humanos. Muito longe disso até, pois, de monstros mesmo, só vemos duas sequências em flashback, uma delas que abre o episódio em 1973, com John Goodman revivendo seu personagem William “Bill” Randa em algum momento durante Kong: A Ilha da Caveira, em que ele arremessa uma bolsa com o logotipo da Monarch ao mar e outra muito breve com filhotes recém-nascidos de monstros insectoides, em 1959, nas Filipinas. Mesmo que sejam boas sequências que dão ideia do escopo e da qualidade técnica da série, talvez seja pouco demais para um início que deveria prezar mais pelo impacto visual, até porque, guardar segredos sobre os monstros, a essa altura do campeonato, não faz sentido algum.

No entanto, eu não chegaria a reclamar muito disso se o lado humano fosse uniformemente bem realizado. Infelizmente, porém, a ação que se passa em 2015, que é o presente da série, ou seja, logo após o “Dia G”, ou a revelação para o mundo de que monstros existem conforme vimos no longa original de 2014, e que lida com a chegada de Cate Randa (a neta de Bill vivida por Anna Sawai) à Tóquio para tentar descobrir o paradeiro de seu pai Hiroshi (Takehiro Hira), é consideravelmente cansada. Como o flashback com Bill, o uso de Cate como uma traumatizada sobrevivente do ataque à São Francisco cujo pai parece ter alguma ligação com a Monarch, o que o roteiro faz é trabalhar em cima de retcons – ou continuidade retroativa -, inserindo fatos não mostrados antes para poder construir sua própria história que, por escolha da produção, se passa nos primórdios do tal Dia G.

Enquanto o uso de retcons era inevitável e eles até que funcionam aqui, diria que a ação em 2015, com Cate descobrindo que seu pai tinha duas famílias, e que ela tem um meio-irmão Kentaro Randa (Ren Watabe) é um draminha muito novela da Globo demais para ser levado a sério e para as sequências nos tempos modernos valerem a pena. É muita indignação por parte de Cate e de Kentaro, com direito a biquinhos, pezinhos batendo no chão e muitos conflitos familiares que não levam a lugar algum. A coisa melhora um pouco, mas só mesmo um pouco, quando Kentaro leva as fitas encontradas por Cate no cofre do escritório de seu pai e que estavam naquela bolsa arremessada ao mar em 1973 que é achada em 2013 (bolsa boa essa, hein?), para serem analisadas por sua ex-namorada e especialista em áudio/informática May Olowe-Hewitt (Kiersey Clemons), pois a atriz é um pouco melhor que seus pares e sua função no episódio, mesmo que clichê, é automaticamente mais interessante do que o conflito familiar que faz os olhos rolarem.

A sorte é que a história não se passa apenas em 2015. Em paralelo, vemos a ação também transcorrer em 1959, com um trio de personagens caçadores de monstros trabalhando para a Monarch chegando a uma usina nuclear abandonada no Cazaquistão. Esse trio é composto por Bill Randa, só que agora interpretado por Anders Holm, sua esposa cientista Keiko Miura (Mari Yamamoto) e o “vela” (que, ao que tudo indica, já teve um caso com Keiko) Lee Shaw (Wyatt Russell) e tudo nele funciona melhor do que com o trio na Tóquio de 2015. Não só a ambientação e atmosfera é mais interessante, como os três atores são consistentemente melhores, com os mistérios esse passado longínquo da Monarch sendo efetivamente mais interessante (e trágico) do que o passado mais recente da mesma agência secreta.

Aftermath, mesmo sendo capaz de indicar ao espectador que Monarch: Legado de Monstros é uma produção televisiva com ambição de ser cinematográfica, não faz muito para realmente acender o interesse na história que quer contar. Com metade da linha narrativa sendo dragada para baixo por um drama bobo e repleto de clichês mal resolvidos e a outra metade lutando para salvar o conjunto, o episódio inaugural da série é bem menos monstruoso do que deveria ser. E isso é um problema.

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Departure

Não seria muito longe da verdade se eu dissesse que Departure é um pouco melhor do que Aftermath porque ele conta com uma participação de Kurt Russell (vivendo Lee Shaw no presente da série, mesmo personagem que seu filho na vida real vive nos anos 50) por um ou dois minutos em seu final. Isso seria até uma boa notícia, na verdade, pois o veterano ator de ação, com toda sua canastrice bonachona, é uma presença inegavelmente carismática que pode efetivamente melhorar a linha narrativa de 2015 na série na medida em que a versão mais velha de Shaw se consolida em episódios posteriores.

Afinal, mesmo considerando que a ação no presente melhora um pouco na medida em que o trio de jovens passa a ser perseguido por Tóquio pelo particularmente incompetente Tim (Joe Tippett) e sua sidekick consideravelmente mais útil Duvall (Elisa Lasowski), ambos da Monarch, que querem recuperar as fitas que eles acharam, a trama não anda muito e acaba perdendo tempo demais com resquícios do dramalhão familiar sem graça que o criador e showrunner Chris Black realmente achou que era o proverbial “ó do borogodó” narrativo. Mas, para além do problema mais sensível, falta algo ali, seja uma química maior entre os três jovens atores, seja uma abordagem menos genérica para a trama de mistério na linha do “onde está o papai?”, ou, ainda, menos aleatoriedade nos atos de todos os envolvidos que mais parecem terem ganhado páginas de roteiro de séries diferentes que por acaso se passam na capital nipônica.

Novamente, o melhor mesmo ficou reservado para o passado, desta vez mais para o passado ainda, especificamente 1953, com Shaw sendo destacado para escoltar a Dra. Miura até um lugar no meio do nada com coisa nenhuma das Filipinas para ela investigar sinais de uma radiação estranha. É o prelúdio das sequências em 1959 do primeiro episódio, que também introduz Bill Randa aos dois outros como um criptozoólogo que por acaso está exatamente no lugar que eles no meio do mato. A trinca de atores funciona mais uma vez e traz charme para a série e uma linha de mistério – agora sobre as origens da Monarch – que é bem mais interessante de se seguir do que a outra, com direito a um passado intrigante para Randa, que é revelado como o único sobrevivente de um navio de guerra americano que desaparecera em 1943, e a aparição de um monstrengo feioso que não é lá muito inspirado, mas que funciona como a cereja no bolo dos bons momentos no interior do navio que, por alguns segundos, lembra Aliens, o Resgate.

Os valores de produção continuam altos, especialmente nas sequências na floresta tropical filipina com computação gráfica de respeito usada de maneira moderada e um cenário prático do interior do navio que só não é melhor porque é usado por pouco tempo, merecendo um pouco mais de calma para a construção de suspense. A Tóquio do presente também funciona muito bem daquele jeito limpo, quase asséptico de ser, que contrasta eficientemente com os flashbacks mais caóticos, por assim dizer. Em outras palavras, Monarch: Legado de Monstros tem toda a sua parte técnica funcionando muito bem, faltando “apenas”, acertar de verdade em 100% dos núcleos humanos e oferecer um pouco mais de kaijus para a diversão destrutiva de todos.

Monarch: Legado de Monstros – 1×01 e 02: Aftermath e Departure (Monarch: Legacy of Monsters – EUA, 17 de novembro de 2023)
Criação e showrunner: Chris Black
Direção: Matt Shakman
Roteiro: Chris Black
Elenco: Anna Sawai, Kiersey Clemons, Ren Watabe, Mari Yamamoto, Anders Holm, Wyatt Russell, John Goodman, Kurt Russell, Joe Tippett, Elisa Lasowski, Takehiro Hira, Qyoko Kudo
Duração: 49 min. (1X01), 46 min. (1X02)

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