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Crítica | Moby Dick (1956)

A versão cinematográfica de John Huston para o romance homônimo de Herman Melville.

por Leonardo Campos
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Volumoso clássico da literatura que ganhou o devido olhar da crítica e do público apenas no século XX, bastante tempo depois de sua publicação em 1851, Moby Dick também ganhou uma versão para o cinema em 1956, sob o olhar de John Huston, cineasta que teve como direcionamento, o roteiro de Ray Bradbury, outro grande nome da produção industrial cinematográfica da época. O mote da narrativa continua semelhante ao que é proposto pelo ponto de partida, o livro de Herman Melville, tendo as questões filosóficas e de complexa tradução para imagens extraídas, ficando como conflito a aventura dos baleeiros e a insana busca do Capitão Ahab, aqui interpretado por Gregory Peck, por vingança após os incidentes com a baleia da espécie cachalote, responsável por arrancar a sua perna e o deixar marcado para o resto da vida. São 116 minutos de monólogos, algumas reflexões e certa dose de adrenalina.

Narrado por Ishmael (Richard Basehart), Moby Dick traduz para o cinema com muita eficiência a presença dos símbolos que permeiam a perspectiva literária: o mar que rege a vida dos cidadãos de Nantucket, a brancura da baleia que se apresenta numa relação de dualidade com Ahab, no velho e rentável conflito do homem diante das forças da natureza, além dos aspectos religiosos, políticos e socioeconômicos que estabelecem a contextualização do filme. Há alguns monólogos que quebram o ritmo de muitas passagens, mas em linhas gerais, para a época em que foi concebida, a produção consegue entregar doses consideráveis de entretenimento, sem esvaziar as propostas oriundas da escrita de Herman Melville, apenas condensando algumas coisas e ajustando outras para que este exercício de tradução funcionasse bem enquanto cinema.

Aqui, o ator Leo Genn assume o papel de Starbuck, um dos destaques da produção, juntamente com Queequeg, o elo de questionamento dos valores da civilização, personagem maquiado e preparado para a cena com muita dedicação, interpretado por Friedrich von Ledebur. O diretor conseguiu um elenco formidável para o desenvolvimento desta produção, perdendo a mão muito rapidamente apenas nalgumas passagens de Peck, ator de grande porte que, entre um acontecimento e outro da narrativa, recai diante do recurso da caricatura, mas nada que seja predominante, um fator que não prejudica os valores do filme. Com trilha sonora de Philip Sainton, Moby Dick conta com bons efeitos visuais, assinados pela equipe de Charles Parker, o responsável pela presença da baleia em cena. Ademais, a direção de fotografia e o design de produção cumprem adequadamente as suas demandas, entregando ambientação e movimentação de câmera conforme as necessidades dramáticas do roteiro da narrativa.

Transcendentalismo e preceitos do movimento romântico literário estadunidense enredam a tessitura narrativa dirigida por John Huston, um realizador de renome, conhecido por outros grandiosos clássicos do cinema de sua época, figura também reconhecida por suas narrativas que estudavam com afinco as fraquezas da humanidade, potencializando-as ao máximo para extrair o melhor dos desempenhos dramáticos de seu elenco, bem como organizar as significações da estrutura que apresenta ao seu público. Destaque aqui para o sermão do Reverendo Mapple, interpretado por Orson Welles, uma exposição curiosa sobre questões bíblicas, em especial, a desobediência seguida de punição de Jonas, conhecido pela história envolvendo um grandioso animal marinho e sua segunda chance diante do divino.

Sobre as peculiaridades, destaco o estabelecimento do Capitão Ahab e de Ishmael, o primeiro insano e inconsequente, guiado pelo desejo profundo de caçar a sua baleia e, por sua vez, domar as forças da natureza, um exercício hercúleo que faz a produção ganhar intensidade dramática. O segundo, mais arredio, transcende ao longo da narrativa, evoluindo diante de sua realidade e, assim, garante a sua sobrevivência numa jornada repleta de alegorias interessantes. Sobre Ahab, vale destacar também a sua onipresença em muitas cenas, representada pelo bater da perna de marfim no convés do navio baleeiro, denunciando que mesmo não estando diante das câmeras, os recursos sonoros adotados dão conta de reforçar a sua magnitude enquanto personagem firme e pronto para fazer as coisas acontecerem em Moby Dick. No geral, um filme eficiente, com quebra de ritmo nalgumas passagens, mas satisfatório, num merecido posto de clássico.

Moby Dick (Idem/Estados Unidos,1956)
Direção: John Huston
Roteiro: Ray Bradbury, John Huston
Elenco: Gregory Peck, Richard Basehart, Leo Genn, Harry Andrews, Frederick Ledebur, Joan Plowright, Orson Welles
Duração: 116 min.

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