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Crítica | Lady Killer (Mistérios do 87º Distrito #7), de Ed McBain

Construção de amizades em uma investigação bem diferente.

por Luiz Santiago
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Lady Killer é um experimento de Ed McBain no andamento da série Mistérios do 87º Distrito. Nessa ocasião, o autor escolheu um procedimento policial que se passa das 8h da manhã às 20h, numa quarta-feira insuportavelmente quente, dia 24 de julho de 1957 — um mês depois dos eventos de A Recompensa do Assassino. Ou seja, em vez de estabelecer uma investigação ao longo de dias ou até mesmo de semanas, o autor experimenta elencar toda a ação num único dia, e ainda com contagem de tempo, começando com um garoto entregando a um policial uma carta com letras recortadas de jornais que dizia “eu vou matar a dama hoje à noite às 8. O que você pode fazer sobre isso?”; e terminando com a resolução pouco impressionante do caso.

A primeira reflexão levantada na obra é sobre os trotes recebidos pela polícia. No presente caso, alguns policiais discutem se aquela carta dava conta de uma ameaça real ou se era apenas uma “brincadeira” de mal gosto. Em situações assim, a polícia não pode simplesmente ignorar a denúncia, até mesmo por uma questão de protocolos internos e pelas pessoas envolvidas nos dois lados da moeda. Se resolvem ignorar e o crime acontece, além da perda de uma vida, o impacto jurídico, moral e emocional será grande. Por isso é que a equipe resolve investigar a ameaça da carta. Mas como iniciar o processo? Quem é a tal dama (“the lady“, no original), que o criminoso cita?

Um dos pontos importantes desse livro está na construção do possível assassino agindo nas sombras, verificando se os policiais deram bola para a sua carta e, em dado momento da história, trocando tiros com os policiais e conseguindo fugir deles… duas vezes. Quem é essa pessoa? É um homem ou uma mulher? Por que essa pessoa quer ser pega? Um componente psicológico é levantado no livro, tendo essa pergunta em consideração, mas o avanço da investigação acaba não dando tanta atenção ao conceito e termina por abandoná-lo. Como não há nenhuma pista sólida que possa guiar os policiais, opta-se por trabalhar com a única coisa palpável: o cerco à possível vítima. Quem, na cidade, é conhecida como “a dama” e tem inimigos o bastante para receber essa ameaça?

Ao longo da investigação, McBain elenca outros problemas que acontecem na delegacia ou nas ruas da cidade, preenchendo esse espaço com distrações cômicas, sanguinolentas e procedimentais que fazem total sentido no momento em que aparecem, dando-nos a sensação de serem coisas recorrentes no dia a dia dos policiais. Posso citar a hilária cena como a mãe do garoto que entregou a carta para os policiais. Os irmãos, donos de uma loja de binóculos, que achavam muito engraçado um homem chupar um pirulito. O detetive Meyer Meyer socando a cara de um homem detido (não lembro outras vezes de um personagem querido da série protagonizar um ato de brutalidade policial). E o momento mais bacana do livro, onde passamos algumas páginas acompanhando o trabalho de um artista forense recebendo as indicações para fazer o retrato falado do possível assassino, apagando e refazendo os detalhes da face até que ficasse “bem parecido” com o homem, segundo avaliação dos que o viram.

Ainda sobra tempo para momentos de maior interação entre os policiais e, em última instância, isso serve para que uma atmosfera de amizade seja firmada. Até mesmo o lado do possível assassino é marcado por esse componente fraterno, e mesmo que não tenhamos aqui uma boa conclusão, em termos de motivo para o personagem (achei a justificativa fraca, diante do grande peso dado ao “the lady” no decorrer de todo o volume), encontra um reflexo nas muitas relações que o autor estabeleceu em seu enredo. A despeito do título, da seriedade e dificuldade da investigação, Lady Killer é um livro leve, com bons momentos cômicos e maior proximidade entre Carella e Cotton Hawes, o policial bonitão recém transferido para o 87º Distrito e que aqui se apaixona por uma viúva de guerra, na casa dos 30 anos, dona de uma livraria na cidade. Como se vê, houve tempo para desenvolver questões pessoais também. Este é mesmo um dos livros mais leves da série nessa, sua primeira fase.

Mistérios do 87º Distrito (87th Precinct) – Livro 7: Lady Killer (EUA, 1958)
Autor: Ed McBain
Edição lida para esta crítica: Allison & Busby, 2007
235 páginas

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