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Crítica | Mistérios da Vovó Donalda e Outras Histórias

Paródias de Miss Marple.

por Luiz Santiago
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Neste pequeno compilado, trago críticas para quatro capítulos da série dinamarquesa intitulada Mistérios da Vovó Donalda e mais duas outras histórias fora dessa série, com Lobão e Professor Pardal como personagens protagonistas. Todas essas aventuras foram publicadas aqui no Brasil em diferentes épocas, tanto pela Editora Abril, quanto pela Editora Culturama. E dentre elas estão enredos originais da Dinamarca, da Itália e da Holanda. E aí, você conhece alguma dessas histórias? Quais delas mais gostou de ler? Leia as críticas abaixo e deixe o seu comentário ao final da postagem!
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Vovó Donalda: O Caso do Ladrão Faminto

Em março de 2010, o roteirista e desenhista finlandês Kari Korhonen criou uma sequência de histórias para a revista Anders And & Co. (que publica os quadrinhos da Disney na Dinamarca) com a proposta de focar na Vovó Donalda assumindo um papel de investigadora amadora. Essa subsérie recebeu o nome de Mistérios da Vovó Donalda, e O Caso do Ladrão Faminto foi o seu primeiro capítulo. Antes de falar da história, mais especificamente, vale um contexto de referências que certamente torna a saga mais interessante e distribui excelentes piscadelas para o leitor que as conhece. O autor faz aqui uma paródia de Miss Marple, a senhorinha detetive dos romances de Agatha Christie. Mas a brincadeira com esse Universo da literatura policial britânica não para por aí. O Xerife Porcino, que está em seu último dia de trabalho, é grande fã de uma escritora chamada Pata Christmas (inclusive lê um livro chamado Uma Carta Sobre Assassinato) e cita como modelo de investigar um tal de Inspetor Porcot, que é uma referência ao detetive belga Hercule Poirot.

É nesse delicioso mar de referências que chegamos a esta subsérie, iniciando com um sério problema para o Gansolino: ele é acusado de ter roubado objetos importantes dos fazendeiros da região, sem contar uma grande quantidade de tortas. Estela Dina também faz a sua estreia nessa aventura: ela é a policial que irá substituir o Xerife Porcino, e alguém que Donalda conhece há muito tempo. É com essa jovem Xerife que a vovó irá unir forças para fazer uma investigação paralela e tentar descobrir o que de fato aconteceu, salvando Gansolino da prisão indevida. Gosto bastante da brincadeira que o autor faz com a obra da Rainha do Crime, tanto no conteúdo e na forma de apresentar o problema, quanto na brincadeira com o gênero policial dentro da própria obra — e nesse caso, com uma piscadela metalinguística, onde a escritora-estrela é a pessoa que deveríamos ficar de olho desde o início. Uma paródia tensa e cheia de bons momentos investigativos para começar a série com o pé direito.

The Case Of The Hungry Thief / Mysteriet om den sultne tyv / Mysteriet om den sulte tyv – opklaringen — Dinamarca, 23 de março de 2010
Código da História: D/D 2009-002
Publicação original: Anders And & Co. 2010-15
Editora original: Egmont Serieforlaget A/S
No Brasil: Almanaque Disney 381 (2018)
Roteiro: Kari Korhonen
Arte: Kari Korhonen
Capa original: Alessio Coppola
8 páginas

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Vovó Donalda: Duplo Mistério em Alto-Mar

Desta vez eu consegui identificar quem era o criminoso da história, vejam só! Claro que depois de ler algumas aventuras do Superpato a gente tem um pouco mais de facilidade de entender como funciona a dinâmica de alguns mistérios da Disney nos quadrinhos, dinâmica essa que é utilizada aqui, com um bom disfarce em cena e mais outra brincadeira metalinguística de Kari Korhonen nas páginas, agora para a sua própria área de atuação: os quadrinhos. Essa história traz diversas situações de personagens presos em uma embarcação, como no caso de Morte no Nilo. Algumas cenas, inclusive, flertam com momentos icônicos deste livro de 1937, e mostra um pouco da frieza de um personagem ganancioso ou desesperado para se ver livre do domínio de uma tia dominadora.

No começo, eu achei um pouco estranho o fato de Donalda estar viajando com a Xerife Estela Dina, mas em O Caso do Ladrão Faminto a vovó diz que conhece Estela desde que ela era criancinha, e aqui indica uma amizade de Donalda com a tia de Estela, então a viagem se justifica. Só não entendi porque o artista colocou a personagem com o roupão de policial na cena de abertura, quando a vemos na proa do navio. Não faz sentido, já que ela está de férias — e, mais adiante, quando o Capitão pede para que a jovem faça a investigação do sumiço das joias de uma socialite, Estela cita que “nem está de uniforme” o que torna tudo ainda mais estranho. Não sei se foi simples desatenção ou se foi uma escolha consciente do autor. Confirmando-se o segundo caso, digo que foi uma escolha muito ruim. Mas que não tem um peso grandioso para a aventura, que sustenta bem o seu mistério no meio do mar e coloca o leitor para pensar um pouco sobre como o crime realmente aconteceu.

Jewels on the Open Sea / Juveler i rum sø / Juveler i rum sø – opklaringen — Dinamarca, 30 de junho de 2010
Código da História: D/D 2008-006
Publicação original: Anders And & Co. 2010-35
Editora original: Egmont Serieforlaget A/S
No Brasil: Aventuras Disney 2
Roteiro: Kari Korhonen
Arte: Kari Korhonen
Capa original: Francisco Rodriguez Peinado
8 páginas

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Vovó Donalda: A Deusa de Ouro

Mais um capítulo da série Mistérios da Vovó Donalda, esta história chamada A Deusa de Ouro coloca os dotes investigativos da boa velhinha mais uma à prova. Nesta aventura, o escritor e desenhista Kari Korhonen leva Donalda até a mansão de Gansolto, alguém que ela conhece por ter cozinhado para a senhora da casa em algumas ocasiões beneficentes. Quem a acompanha ao jantar é Gansolino, que aqui só faz um cameo, não tendo uma única fala, e também a senhorita Candinha, uma fofoqueira funcionária da prefeitura de Patópolis. O cenário é muitíssimo parecido com o que conhecemos das reuniões aristocráticas vistas em contos de mistério, e o crime da vez também segue o padrão de impossibilidade desafiadora, colocando a vovó e a policial Estela Dina mais uma vez em contato na investigação do caso.

Achei a resolução bastante engenhosa, embora o texto não cubra todas as possibilidades (e impossibilidades) que apresenta no caminho, especialmente no que diz respeito à escalada na parede externa da mansão até a janela onde estão as estátuas de ouro de Gansolto. Mas o processo de pensamento da Vovó Donalda é afiado, olhando aquilo que as pessoas normalmente desprezam no cenário e fazendo jus à velhinha observadora na qual é baseada nessa série. E como de praxe, eu não consegui descobrir quem era o criminoso da vez.

The Golden Goddess / Guldstatuetten / Guldstatuetten – opklaringen — Dinamarca, 8 de outubro de 2010
Código da História: D/D 2008-005
Publicação original: Anders And & Co. 2010-41
Editora original: Egmont Serieforlaget A/S
No Brasil: Aventuras Disney 0
Roteiro: Kari Korhonen
Arte: Kari Korhonen
Capa original: Cèsar Ferioli Pelaez
8 páginas

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Vovó Donalda: O Mistério da Ilha Escarpada

O argumento de Kari Korhonen para esta aventura não me pareceu ter passado por um verdadeiro processo de maturação. Talvez seja o uso de algo tecnológico como princípio do mistério e que não caiu bem aqui, mas o fato é que o autor simplesmente misturou modelos diferentes de narrativas de espionagem com algo a ser investigado por Estela e Vovó Donalda, uma mescla que não conseguiu avançar em termos de qualidade. O primeiro ponto que levanto é em relação à cópia do arquivo. Um arquivo copiado em um pen drive deixando rastros em um computador ultra poderoso é algo específico demais para não ter uma abordagem mais cuidadosa por parte do roteiro, como a indicação de algo ligado a um hacker ou coisa do tipo. O autor coloca essa situação de identificação bastante rigorosa em uma premissa sem nenhum tipo de rigor, e é aí que reside o problema de O Mistério da Ilha Escarpada.

O governo tem projetos secretos desenvolvidos neste lugar, e um deles é capaz de transformar as correntes em torno da ilha em uma poderosa fonte de energia, capacidade que acaba chamando a atenção de alguém no meio da equipe, que faz de tudo para enviar esses arquivos para fora e ganhar algum dinheiro com isso — ao menos é o que o roteiro deixa subtendido. Não gostei muito da forma como o desenvolvimento se deu e a explicação apresentada para a retirada do pen drive da ilha não combina com a atmosfera da história, a meu ver. Aliás, até o processo investigativo de Vovó Donalda parece solto aqui, avançando aos trancos, não mostrando muita coisa boa do método que observamos em outras aventuras. Talvez seja o cenário, talvez seja o conteúdo tecnológico, talvez seja a particularidade do crime, mas desta vez Kari Korhonen não conseguiu criar um bom mistério para esta série.

The Craggy Island Mystery / Mysteriet om usb-nøglen — Dinamarca, 3 de fevereiro de 2014
Código da História: D 2010-129
Publicação original: Anders And & Co. 2014-09
Editora original: Egmont Serieforlaget A/S
No Brasil: Aventuras Disney 5
Roteiro: Kari Korhonen
Arte: Kari Korhonen
Capa original: Bas Schuddeboom (ideia) e Wilma van den Bosch (desenhos)
8 páginas

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Lobão: Plano de Treino

O roteirista Uco Egmond simplesmente colocou o Lobão em seu devido lugar, nessa divertida historinha holandesa de 2016. O personagem segue em sua fixação eterna de pegar os Três Porquinhos, mas acaba percebendo que “está velho demais“. É uma abordagem diferente para o personagem, que se vê diante de duas coisas impensáveis para ele: a fraqueza do corpo e a impossibilidade de seguir a vida rústica, dura e selvagem que sempre viveu. Numa análise mais crítica, poderíamos ver aqui um texto símbolo ao tipo de indivíduos que recusam qualquer tipo de recaída de saúde ou mesmo impossibilidades colocadas pelo corpo, a partir de um certo momento da vida. Pessoas que não aceitam que possuem limites e fazem de tudo para encobrir e seguir negando isso.

Mas o caminho que o autor toma para resolver a situação toda acaba nos levando para um outro tipo de reflexão. O lobo passa a malhar e se sente muito confiante, acreditando que, em breve, estaria pronto para dar o bote em seus inimigos — e nem se importa quando descobre que eles também estão se aprimorando e treinando na mesma academia. Mais uma rodada de leituras críticas pode ser feita a partir daí, se a gente pensar bem, coroando essa reflexão com a boa piada do desfecho, quando o Lobão é enganado e, só então, percebe que está querendo abocanhar algo maior do que ele pode mastigar.

Lobão: Plano de Treino (Midas Wolf: Conditie) — Holanda, 18 de fevereiro de 2016
Código da História: H 2014-301
Publicação original: Donald Duck nº 2016-08
Editora original: ?
No Brasil: Aventuras Disney 0
Roteiro: Uco Egmond
Arte: Oscar Martin
Capa original: Francisco Rodriguez Peinado
5 páginas

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Prof. Pardal e Peninha: Radiante Traquinas

Eu já comentei em diversas críticas de quadrinhos aqui no site (e até em uma da Disney, chamada Patos no Supermercado, que segue o mesmo modelo) o quanto eu amo histórias com poucos ou nenhum diálogo. Aventuras em que os autores se valem muito mais da arte e da ajuda de algumas onomatopeias ou pequenas sílabas para fortalecer aquilo que eles querem contar. Existem muitos exemplos disso nas HQs e, aqui no site, temos críticas para diversas dessas histórias, que você pode conferir no link de quadrinhos silenciosos, do qual esta presente trama, Radiante Traquinas, faz parte. Escrita e desenhada por Enrico Faccini, ela mostra como uma das muitas e maravilhosas invenções do Professor Pardal pode sair de controle da maneira mais fofa e “atentada” possível.

A máquina que ele coloca em cena é capaz de rejuvenescer quem é exposto aos seus efeitos. Pardal usa para tornar um cachorro sênior em um filhote, mas o distraído Peninha passa no momento em que o raio dispara novamente e… temos então o grande “problema” da história, com o cientista e inventor tendo que lidar com um bebê Peninha que não para quieto. Este é o tipo de aventura que se vale muito da movimentação dos personagens e também do fator fofura de ter um bebê mexendo em tudo. O desfecho segue brincando com a máquina e suas transformações, indicando pelo menos duas coisas importantes: este não é um dia de sorte para o Pardal e ele precisa tomar mais cuidado com os botões das máquinas que inventa.

Archimede e il raggio della verdissima età — Itália, 15 de março de 2017
Código da História: I TL 3199-3
Publicação original: Topolino (libretto) 3199
Editora original: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: Aventuras Disney 0
Roteiro: Enrico Faccini
Arte: Enrico Faccini
Capa original: Lorenzo Pastrovicchio (arte), Casty (cores)
8 páginas

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