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Crítica | Missy – 1ª Temporada

por Luiz Santiago
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Equipe: Missy
Espaço: Indeterminado / Londres / EUA
Tempo: Indeterminado / Século XVI / Século XIX / Século XX

Missy é uma das poucas personagens recentes da Nova Série que conseguiu um constante bom trabalho nos roteiros, sólido desenvolvimento de sua personalidade (e evolução!) além de grande amor do público, tudo isso durante o período em que esteve na série regular, entre Deep BreathThe Doctor Falls. Em fevereiro de 2018, a BBC Books publicou a antologia The Missy Chronicles, chamando a atenção dos whovians para histórias inéditas com a personagem, o que de fato rendeu muitos comentários positivos e confirmou aquilo que todos já sabíamos: Missy é um verdadeiro chamariz de público. A Big Finish também não poderia ficar fora desse filão e, mesmo diante de um estreito cronograma (a atriz Michelle Gomez estava totalmente ocupada com as filmagens de O Mundo de Sabrina), conseguiu que o produtor David Richardson criasse uma dinâmica de exceção e gravasse a 1ª Temporada da série Missy, pensada desde o início para chegar ao público em fevereiro de 2019.

O interessante de toda essa história de produção é que mesmo tendo uma estrutura de gravação completamente distinta do que a Big Finish estava acostumada, o resultado final foi uma verdadeira obra-prima e a projeção para o lançamento também deu certo: a antologia foi oficialmente lançada em 5 de fevereiro de 2019. Nessa Primeira Temporada de Missy temos quatro histórias, três delas com personagens não recorrentes da série e uma delas com O Monge (sim, aquele lá de The Time Meddler), desta vez, numa encarnação interpretada brilhantemente por Rufus Hound, a mesma de histórias como The Black Hole, The Rise of the New Humans e The Side of the Angels.

A primeira coisa que precisamos destacar aqui é o quão imensamente divertida e dramaticamente impecável é a atuação de Michelle Gomez como Missy. Ao longo dos 4 ótimos episódios o espectador está num verdadeiro céu de cinismo, ironias, demonstrações de maldade e estranhas e inesperadas bondades vindas dessa gloriosa encarnação do Mestre. Começando com A Spoonful of Mayhem, temos Missy recebendo uma punição por um crime que ela ainda iria cometer, no melhor estilo Minority Report. Todavia, como estamos falando de Missy, o exílio dela na Londres vitoriana se torna apenas uma pedra no caminho para um intricado plano de fuga. O roteirista Roy Gill soube exatamente como escrever as maluquices para Missy, tendo o cuidado de colocá-la em contato com uma coisa de cada vez, fazendo jus à introdução da personagem nos áudios e dando o tom da temporada com criaturas mágicas e alienígenas sob a orientação de Missy como governanta/tutora dos irmãos Davis, agindo como uma espécie maligna de Mary Poppins que nos diverte do começo ao fim.

O segundo episódio, Divorced, Beheaded, Regenerated, se passa no século XVI e coloca o Rei Henrique VIII em cena, além do Monge, num exercício cômico e inteligentíssimo de John Dorney, autor de outras maravilhosas histórias para a BF, como Requiem for the Rocket MenThe Crooked Man e Solitaire. Só o fato de termos o Monge interagindo com Missy já é algo impressionante, mas isso, evidentemente, de nada serviria se o texto não fizesse jus aos dois personagens. Não é o caso, porém. Dorney faz um soberbo trabalho de “Guerra dos Sexos” dentro de um conceito temporal ligado aos Gramoryans (que se alimentam de paradoxos) e dá a oportunidade de Michelle Gomez e Rufus Hound brilharem. Além do significado historicamente importante, esse episódio funciona como uma espécie de trama de gato-e-rato que faz tudo ficar ainda melhor. É o meu episódio favorito da antologia, empatado com o igualmente maravilhoso The Broken Clock.

Do mesmo autor de Omega, o terceiro episódio dassa série é certamente o mais inteligente. Um programa de rádio anuncia: “Hoje à noite, em os Assassinos Mais Impossíveis da América, de Dick Zodiac, o detetive Joe Lynwood vai à caça do assassino mais impossível de sua carreira!“. Com base nesse anúncio, entramos em um funil de situações que apresentam no Universo de Missy algo que já havíamos visto na série e que certamente nos explodiu o cérebro. Aqui percebemos até um refinamento da dinâmica de viagens temporais, da relação entre as mortes e os “corpos impossíveis” com a presença de Missy e a trama detetivesca que é realmente uma delícia de acompanhar. O tempo inteiro eu fiquei com medo de o roteiro dar um passo em falso, já que a linha dramática é bem difícil de se desenvolver e manter em alta, mas Nev Fountain realmente logrou sustentar sua ideia até o fim. E que ideia, senhoras e senhores!

Finalizando o projeto (a parte ruim das melhores coisas: o fim) temos The Belly of the Beast, uma história que irá deixar muitos espectadores com uma pulga atrás da orelha, em termos de cronologia e possibilidades para Missy, algo colocado de maneira tão divertida e tão… Missy… na história que só conseguimos pensar: “era óbvio que isso iria acontecer! Estamos falando de Missy, afinal!“. Aqui, Jonathan Morris escreve a melhor coisa que eu ouvi dele para a Big Finish até o momento, concluindo de maneira praticamente impossível (e nada óbvia, devo dizer) a jornada iniciada com o exílio da protagonista na Terra… Eu confesso que não esperava muita coisa dessa série além de uma interpretação mítica de Michelle Gomez, mas que presente foi receber histórias tão inteligentes, engraçadas e que capturam sem forçar a barra a essência de Missy (e do Monge!) em todos os episódios. Mais um triunfo da BF e um baita presente para o público de Doctor Who. Hey, Missy!

Missy: Series One (Reino Unido, 5 de Fevereiro de 2019)
Direção: Ken Bentley
Roteiro: Roy Gill, John Dorney, Nev Fountain, Jonathan Morris
Elenco: Michelle Gomez, Rufus Hound, Oliver Clement, Bonnie Kingston, Simon Slater, Dan Starkey, Beth Chalmers, Maggie Service, Leighton Pugh, Graham Seed, Kenneth Jay, Guy Paul, Ryan Forde Iosco, Daniel Goode, Abbie Andrew, John Scougall, Lucy Goldie, Jason Nwoga, Jamie Laird
Duração: 50 a 61 min. cada episódio

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