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Crítica | Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1 (Com Spoilers)

Franquias sempre sobreviverão?

por Felipe Oliveira
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Quando olhamos para filmes como Viúva Negra ou para a saga de ação mirabolante de Velozes e Furiosos é fácil apontarmos para o que diria ser o “efeito missão impossível” ao vermos uma logística de cenas de ação desenfreada e perseguições com veículos em diferentes locações muito semelhante ao estilo da franquia estrelada por Tom Cruise. No caso do filme solo da espiã do MCU, a sacada com embates corpo a corpo e caos pelas ruas de Budapeste funcionaram, já que para se desvencilhar da sua fórmula autocontida, aos poucos, o MCU foi trazendo outras referências para dar um estilo diferente ao seu universo.

Se tratando de Fast, saga conhecida também de beber de outras referências conforme ia produzindo novos longas, a ação descabida passou a ser vista como algo absurdo, no pior sentido da “descaração e mentirada” com que Vin Diesel e sua família protagonizaram. Por servir de modelo, a franquia quase intacta – quem gosta do segundo filme ? – de Missão: Impossível é encarada por um prisma de seriedade, muito pela qualidade da produção em si e do entretenimento embalado em níveis intensos de tensão toda vez que o seu rastro se coloca em risco para superar a insanidade anterior de suas cenas.

Por isso, Efeito Fallout apresentou um clímax perfeito contando com um roteiro que reconhecia a ação movida pela franquia, um charme excitante e direção habilidosa de Christopher McQuarrie num capítulo que colocava seu protagonista em um teste autorreflexivo: era possível Ethan Hunt ser um herói quase infalível? Partir dessa premissa fez do sexto filme ser o ápice não só para o gênero, mas também da saga ao propor uma leitura de personagem numa trama que não cansava de usar seus tropos de maneira inteligente. Era McQuarrie fazendo bonito e provando que podia autoparodiar a franquia e ainda oferecer um entretenimento refrescante, eficaz em sua qualidade.

Dito isso, o sétimo capítulo chega para ser ambicioso, óbvio, partindo de uma base simples e triunfar em torno da ação. E de fato, Acerto de Contas – Parte 1 consegue, é um filme de M:I buscando ser cada vez maior até em duração, mas também traz um resultado diferente quando o estilo característico da saga agora insere tendências que fazem média com o público. Um bom exemplo disso é a cena de fuga entre improvisos e troca de veículos que termina com um número cômico entre Grace (Hayley Atwell) e Ethan rodando em círculos com um fusca pelas ruas de Roma e Veneza. O ponto aqui é: qual filme não quer fazer seu momento engraçadinho? E M:I partia de outros meios para trazer humor do seu jeito, mas aqui, fica evidente as pausas que o longa dá para inserir piadas além do habitual. Porém, o que disfarça isso, é por McQuarrie não perder de vista a tensão no meio da ação, e não coloca os personagens para autoconfirmar que estão no “momento piada” da narrativa.

Porém, é válido perceber que a cena em si serve como uma espécie de autopiada sobre como deveria ter sido o trajeto na fuga, e depois de dar um vislumbre ao telespectador do que a dupla iria encarar, McQuarrie faz graça e aproveita o cenário de forma lúdica, cafona, tirando o absurdo excitante que seria ver Grace e Ethan movimentando um fusca por escadarias. De tantas construções ridículas que filmes do gênero fazem em prol do humor, é interessante como Dead Reckoning se propõe a fazer média entre as variações dos gêneros: há um pouco de romance além timing cômico, convenhamos; e se Efeito Fallout trouxe takes insanos de pancadaria, M:I 7 experimenta cenas de ação com toques melodramáticos, planos em travelling e uma montagem ágil de Eddie Hamilton, e  que embalado pela trilha sonora de Lorne Balfe, trechos como a morte de Ilsa (Rebecca Ferguson) foi visto quase como um número de dança de luta épico em que Ethan lutava contra o tempo para impedir o pior contra sua grande amiga e aliada.

Chegar no sétimo longa da série e ouvir o “você aceita essa missão?” é tão emblemático tanto quando toca a música-tema, e nisso McQuarrie encapsula a ideia de missão, de uma partida que uma vez iniciada, só termina quando alcança a última fase. A exemplo da extensa cena de abertura, agora a sensação de ação em constante movimento pode ser percebida também nos diálogos pela maneira que a direção contempla a dinâmica entre os personagens, o que serviu para dar cadência e tirar o tom didático do roteiro explicando que a ameaça que Ethan precisa lutar está em todos os lugares, a denominada Entidade, uma IA capaz de controlar toda tecnologia existente. McQuarrie compreende tão bem a tradição da saga e possui um controle impressionante com o roteiro que M:I 7 é só mais uma prova que o futuro da franquia está em boas mãos.

Se Black Widow assim, como as técnicas que David Leitch usa em sua direção – inclusive, tudo que ele tentou fazer com Trem-Bala, McQuarrie fez na primeira hora na longa dança de conspiração no aeroporto – remetem ao estilo de ação e ambientação de M: I, com Acertos de Contas – Parte 1 chega o momento de McQuarrie trazer o molde MCU e celebrar a saga em alto nível. E da mesma maneira que um filme é ponte para outro, Dead Reckoning também transita por essa tendência Hollywoodiana, contudo, entrega uma experiência completa com um entretenimento ambicioso, empolgante e arriscado. Já bem sabemos que, para cada novo capítulo, Tom Cruise trará um risco maior como desafio, e se Ethan Hunt detém um ego heróico quando se trata de salvar seus amigos e o mundo, Cruise prova que os saltos mais insanos, a adrenalina como entretenimento é algo que só será visto nessa franquia, tanto que a esperada cena em que salta ele de uma montanha com uma moto faz você prender a respiração por alguns segundos pela tensão e empolgação. Mas como um filme que segue encadeado em levels da missão iniciada, McQuarrie conseguiu reservar ainda mais surpresas, mesmo que com outras apelações melodramáticas, o clímax com o trem desgovernado atinge um eficiente desfecho para esta primeira parte. 

Como um filme de legado, mesmo oferecendo o entretenimento que é tradição da saga, Dead Reckoning parece apontar para um encerramento de um ciclo enquanto quer experimentar novos ares para a franquia, e isso pode ser observado com Atwell e Cruise dividindo o protagonismo ao mesmo tempo que ela consegue ter um destaque sólido com sua personagem. Porém, que essa adição não seja sinônimo de substituição para Ilsa e que vejamos Grace ganhar muito mais espaço. Com um final que aponta cenas subaquáticas, a julgar que McQuarrie disse que a Parte Dois não será o fim desse legado, seria possível ter um filme protagonizado pelas excelentes personagens que tem girado em torno de Ethan? 

Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1 (Mission: Impossible – Dead Reckoning Part One) — EUA, 2023
Direção: Christopher McQuarrie
Roteiro: Bruce Geller, Erik Jendresen, Christopher McQuarrie
Elenco: Rebecca Ferguson, Tom Cruise, Hayley Atwell, Pom Klementieff, Vanessa Kirby, Simon Pegg, Shea Whigham, Cary Elwes, Rob Delaney, Indira Varma, Ving Rhames, Esai Morales, Henry Czerny, Charles Parnell, Mark Gatiss, Mariela Garriga, Yennis Cheung, Greg Tarzan Davis, Frederick Schmidt, Ioachim Ciobanu, Mikhail Safronov
Duração: 163 min.

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