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Crítica | Minha Vida com Liberace

por Luiz Santiago
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estrelas 4

Liberace foi um pianista de grande sucesso nos Estados Unidos entre as décadas de 1950 e 1970. Com formação clássica e muita prática ao piano durante a infância e adolescência, Lee (como era chamado pelos mais íntimos) se afastou do piano clássico na vida adulta, pelo menos no sentido mais comum do que se considera um pianista clássico. Suas apresentações em Las Vegas ficaram famosas pelas experimentações e arranjos para músicas conhecidas e outras façanhas de tema e variação que ele fazia ao piano, em diversos ritmos e tempos musicais.

O telefilme Minha Vida Com Liberace, dirigido por Steven Soderbergh, aborda um espaço de tempo na vida deste showman, um período que vai de 1971 até a sua morte, em 1987. Desde muito cedo percebemos que a intenção de Soderbergh era trazer para a tela a as duas facetas do personagem: a do artista que se apresentava vestido de maneira espalhafatosa e que escondia sua sexualidade para o público e a do homem que mantinha relações com seus pupilos e fazia de tudo para esconder sua orientação sexual da imprensa.

O roteiro de Richard LaGravenese consegue fazer essa ponte entre o homem público e sua vida privada de maneira bastante tranquila, escorregando apenas no caráter episódico dentro de cada bloco “anual”. Esses pequenos pulos entre os eventos incomodam o espectador, primeiro, porque sua passagem não é tão orgânica quanto a montagem faz parecer, depois, porque as indicações dos anos mostradas nos intertítulos já bastariam como fronteira dentro da obra, não sendo preciso criar mais um elemento de divisão temporal ou de eventos esparsos em cada bloco, mesmo que fossem de forma muda e através da edição.

Michael Douglas dá um show de interpretação como Liberace, encarnando com muita veracidade o excêntrico pianista americano. Seu tom de voz, sua forma de andar, seus gestos e tiques são perfeitamente executados pelo ator, cuja excelência de interpretação é tão grande que acaba ofuscando o também ótimo Matt Damon, que entrega aqui uma interpretação para se aplaudir de pé. O elenco de apoio acompanha os protagonistas também em alto nível de qualidade, tendo espaço para personas dramáticas e cômicas durante o longa, como o assessor geral de Liberace interpretado por Dan Aykroyd, ou cirurgião plástico que viciava seus pacientes em drogas, interpretado por Rob Lowe.

O cuidado estético da equipe de produção pode ser visto desde o plano de abertura do telefilme e, dentre todos os setores técnicos, a direção de fotografia, a direção de arte e o responsável pela trilha sonora saem na frente. Também destaca-se a recriação dos figurinos de época e as variações de roupa de Liberace durante suas apresentações ou em seu cotidiano.

Mesmo que tenha problemas isolados na edição, Minha Vida com Liberace é uma produção interessantíssima e muito bem realizada. Não é segredo para ninguém que Soderbergh já vinha planejando essa obra a um bom tempo, e que recebeu um notório “não” dos estúdios, quando procurou patrocínio – “é muito gay”, disseram-lhe os produtores. Ainda bem a HBO aceitou a proposta de levar o filme adiante e, como é típico das produções da emissora, conseguiu lançar um produto realmente notável, que deu o que falar em Cannes e saiu do Emmy com um total de 11 prêmios. Nada mal para uma produção que quase não saiu do papel.

Minha Vida com Liberace (Behind the Candelabra) – EUA, 2013
Direção: Steven Soderbergh
Roteiro: Richard LaGravenese (baseado na obra de Scott Thorson e Alex Thorleifson).
Elenco: Matt Damon, Michael Douglas, Scott Bakula, Eric Zuckerman, Eddie Jemison, Randy Lowell, Tom Roach, Shamus Cooley, John Smutny, Jane Morris, Garrett M. Brown, Pat Asanti
Duração: 118 min.

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