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Crítica | Mickey e o Castelo da Lua

Um mistério lunar.

por Luiz Santiago
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O fascínio do homem para com a Lua já vem sendo explorado na ficção há muito tempo. No Ocidente, pelo menos desde a publicação de História Verdadeira, no ano 175, por Luciano de Samósata, temos um registro literário que exercita a imaginação sobre aquilo que poderia ter acontecido na Lua em tempos remotos ou que esteja acontecendo por lá, na atualidade, de alguma forma oculto aos nossos olhos. Entre o final dos anos 1950 e ao longo dos anos 1960, na Corrida Espacial (um dos capítulos da Guerra Fria), o assunto esteve em máximo destaque, uma vez que a dita “corrida espacial” teve, como objetivo final — não necessariamente assumido; mas foi nesse caminho que a conjuntura histórica se orientou –, a “conquista da Lua“. Nesta aventura de 2019, Casty retoma os históricos conflitos de disputa pelo nosso satélite (porém, não mais sustentado por União Soviética e Estados Unidos) e faz com que Mickey e Pateta visitem um enigmático castelo ali construído.

O autor cria uma boa interação entre o conflito lunar (a presença do castelo e dos exploradores que simplesmente desaparecem, no início da Parte Um) e um ponto cômico na Terra, protagonizado por Paá Teto (que é tio do Pateta), personagem que faz a sua estreia aqui. Inventor maluco e fascinado por aventuras no espaço (uma espécie Professor Shonku dos quadrinhos Disney), ele será a salvação dos terráqueos à deriva na Lua, também ajudando de forma prática na luta contra Raposo Cósmico e sua empresa de extração de Hélio Três, uma areia que deve substituir o petróleo como energia primária na Terra. No desenvolvimento do roteiro, o autor trabalha com a exploração financeira desmedida de um recurso natural por um mega empresário, assim como fez em A Ilha de Quandomai. Esse olhar puramente industrial, apenas focado no lucro para si mesmo e, no caso, sem nenhum benefício da humanidade, é o que torna Raposo Cósmico um vilão básico dos nossos tempos, o “mega industrial sem ética que faz qualquer para se tornar mais poderoso, passando por cima de tudo o que vê pela frente“. Esse tipo de ideia não tem nenhuma mentira em si (os bilionários de nosso mundo estão aí para provar), mas convenhamos que já é um conceito que precisa de histórias mais contextualizadas para funcionar bem, senão fica “barato demais“.

O autor estabelece uma interação notável dessa aventura com a “literatura lunar“, explorando o fato de que o tio do Pateta é um ex-astronauta que se torna um escritor. Suas histórias evocam elementos de contos de fada, e é justamente por esta linha que o texto segue, na segunda parte, trazendo-nos uma atmosfera nova, um pouquinho de fantasia para a ficção científica que, na verdade, é uma missão de resgate improvisada. As criaturas e os mistérios elencados em cada bloco chamam a atenção e deixam o leitor se perguntando como aquele problema será resolvido. Os trajes sem um corpo dentro, por exemplo, me trouxeram um episódio de Doctor Who (Oxygen) à memória, e as criaturas Caranguejax e Mubik flertam com várias criações interessantes do gênero, cada uma agindo com um propósito diferente (Mubik, por exemplo, parece Rico, o robô arcônida de alto desempenho, da série Atlan).

O final de O Castelo da Lua é mais simples e festivo do que deveria ser. O autor volta a falar do livro autografado por Paá Teto, que Pateta dá de presente a Clarabela (que faz um simples cameo na história), e traz uma briguinha entre Mickey e Minnie, que é de onde vem a piadinha para o encerramento da trama. Agora podemos contar com a possibilidade de retorno de Paá Teto (rejuvenescido pela tecnologia da princesa na Lua) em uma aventura que nos mostra um pouco mais de suas viagens pela Galáxia. Casty contribui aqui para mais uma porta aberta à exploração espacial nos quadrinhos Disney. Espero isso que nos traga bons frutos no futuro. Paá Teto pode ser um bom correspondente ou ajudante em aventuras futuras, quem sabe envolvendo alguma história da subsérie Máquina do Tempo?

Mickey e o Castelo da Lua (Topolino e il castello sulla luna) — Itália, 17 e 24 de junho de 2019
Código da História: I TL 3321-1P
Publicação original: Topolino (libretto) 3321 e 3322
Editora originai: Mondadori, Disney Italia, Panini Comics
No Brasil: O Grande Almanaque Disney (Culturama) 2
Roteiro: Casty
Arte: Casty
Arte-final: Luca Giorgi
Capas originais: Giorgio Cavazzano, Andrea Cagol, Alessandro Perina, Valeria Turati
67 páginas

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