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Crítica | Meu Primo Vinny

O jeitinho Gambini.

por Luiz Santiago
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Eternamente lembrado por ter possibilitado o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Marisa Tomei, Meu Primo Viny é uma daquelas comédias com a maior cara dos anos 1990, mesclando a tradicional abordagem de “filmes de tribunal” com um enfoque técnico (legislativo) que sempre foi muito elogiado, tanto pela maneira como apresenta e trata as testemunhas, como pela estratégia final de Vinny Gambini, em quatro diferentes camadas de sua defesa: os grãos de aveia, as janelas sujas, os óculos fracos e a reinterpretação dada para as marcas deixadas por um determinado modelo de veículo, na cena do crime.

O roteirista Dale Launer começou a rascunhar o argumento baseado em uma história que ouviu durante o seu período de faculdade, de um advogado que precisou de 13 tentativas para conseguir licença para atuar na área. Seu roteiro, porém, não é a história desse personagem, mas a relação dele com a lei, e como, através de maneiras pouco ou nada legais, conseguiu vencer um caso de acusação de homicídio para o primo Bill (Ralph Macchio) e seu amigo Stan (Mitchell Whitfield). A comédia se desenrola no aspecto dos costumes e dos duplos sentidos, com todos os elementos de troca de perspectiva funcionando muito bem na narrativa. Embora o não-entendimento da real acusação por parte de Bill e Stan seja um ponto engraçado já no início, é apenas com a chegada de Vinny à prisão e com o seu primeiro contato com Stan que o espectador começa a gargalhar e segue em bons momentos cômicos como este durante toda a projeção.

O casal central, formado por Joe Pesci (Vinny) e Marisa Tomei (Mona Lisa Vito) está maravilhoso em cena. Cada um apresenta um estilo diferente de explorar a comédia, e como existe, para além da comicidade alinhada à narrativa de tribunal, uma relação amorosa entre eles, o espectador perceberá esse tempero a mais fazendo toda a diferença. É verdade que o texto termina se perdendo nesta seara, na segunda metade da fita, tornando a relação quase impessoal. Mas diante da participação dos dois no processo, e especialmente pela qualidade das atuações (bem ajustadas para o que o filme precisava: uma dramaturgia falsamente séria), fica impossível não perdoar parte desses tropeços. Vale também citar a excelente presença de Fred Gwynne como o juiz Chamberlain Haller, reforçando esse lado sisudo de um projeto que tinha zero intenção nesse tipo de exposição.

A fraqueza da película está na condução dada a Vinny na última audiência. Estruturalmente, estamos falando de uma das melhores sequências da obra, trazendo a icônica cena do depoimento de Mona Lisa, que analisa com requinte de detalhes o carro e as especificidades do veículo dos verdadeiros criminosos, arrancando risos, cumplicidade e muita empatia de todos. Penso que esta é também a melhor condução da direção no tribunal, e a montagem faz uma troca de posições tão interessante, que adiciona um inesperado componente de suspense ao momento. Já a repentina transformação de Vinny, de um péssimo advogado para alguém que aparentemente dominava com graciosidade todo o jogo de interrogação, mexeu com a unidade e fluidez do filme. O diretor Jonathan Lynn nunca foi de guiar seus projetos de forma chamativa, sempre conseguindo criar comédias esteticamente simples, mas marcantes e eficientes. Este é um desses casos, embora esteja manchado por uma descaracterização milagrosa do personagem de Joe Pesci, que salva o dia, mas termina por minar a qualidade do longa.

Meu Primo Vinny (My Cousin Vinny) — EUA, 1992
Direção: Jonathan Lynn
Roteiro: Dale Launer
Elenco: Joe Pesci, Ralph Macchio, Marisa Tomei, Mitchell Whitfield, Fred Gwynne, Lane Smith, Austin Pendleton, Bruce McGill, Maury Chaykin, Paulene Myers, Raynor Scheine, James Rebhorn, Chris Ellis, Michael Simpson, Lou Walker, Kenny Jones, Thomas Merdis, J. Don Ferguson, Michael Genevie
Duração: 120 min.

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