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Crítica | Meu Policial

Eterna apatia.

por Felipe Oliveira
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É de maneira relativamente óbvia como Michael Grandage apresenta My Policeman ao telespectador, estabelecendo um “desconcertante mistério” para ser questionado: por que a presença de Patrick (Rupert Everett) incomoda Tom (Linus Roache)? A abertura ao som de Memories Are Made of This de Dean Martin só serviu como ironia a um casal que Tom e Marion (Gina McKee) deixaram de ser: o distanciamento, a forma ríspida com o que conversam e o olhar perdido com que Marion encara um antigo retrato de casamento só denunciam o desamor que restou de uma relação.

A sacada é para que a audiência indague essa configuração entre os personagens conforme a narrativa se divide entre duas linhas de tempo: passado e presente. Embora a composição acinzentada e até mesmo pálida no presente ofereça um contraste ao que o trio se tornou, o tiro sai pela culatra quando a frieza, a melancolia pretendia se faz uma característica que causa estranhamento. Certo que conhecemos esses personagens em um momento de indiferença entre eles, porém, esse aspecto mais transmite artificialidade numa dramatização sem emoção do que consegue despertar curiosidade.

Em meio a flashbacks, somos transportados a Inglaterra no final dos anos 50, para o início dos encontros amorosos entre o jovem policial Tom (Harry Styles) e a professora Marion (Emma Corrin). A dinâmica do casal começa a mudar quando Tom conhece o artista e curador de museu Patrick (David Dawnson), alguém que começa a despertar sua sexualidade reprimida, numa época que a homossexualidade era vista como um crime.

Embora tenha sido vendido como um filme com triângulo amoroso, Meu Policial não é sobre a bissexualidade de um policial dividido entre dois amores, longe disso. É curioso notar como a narrativa alterna entre pontos de vistas diferentes com os personagens, mas que nunca consegue tornar essa dinâmica minimamente interessante. Inicialmente, vemos o aflorar da paixão de verão nas memórias de Marion, quando ela começa a se apaixonar por Tom e passa a ter amizade com Patrick. O recorte não deixa de soar protocolar e até mesmo apressado, o que piora no momento que parece interromper esse prisma, quando na linha presente, 40 anos depois, Marion lê os diários de Patrick, agora debilitado devido a um derrame.

Ao transitarmos pela perspectiva de Patrick, é notório como a mudança injeta um pouco de carisma, isso por conta da performance de Dawson. Mas se a narrativa se divide pelas versões de Patrick e Marion, Tom se torna um mero coadjuvante dessa história graças ao zero talento de Harry Styles como ator. A sua química com Corrin e Dawson é inexistente, porém, é válido como as cenas de sexo oferecem um olhar para como a repressão da época agia. Com Marion, a troca é de forma mais engessada e por adequação, com Patrick, esboça o sexo movido pela paixão, do amor longe da condenação.

A essa altura, a proposta de abordagem psicológica de Grandage se mostra bastante dispersa e incapaz de expressar um equilíbrio emocional, visto que a ideia era fazer toda a dança de memórias repercutir na linha presente, algo que também requer utilizar da percepção do telespectador para preencher as lacunas do que trouxe o retorno de Patrick anos depois, mas tudo em sua direção soa apático, teatral e apelativo: a impressão é que a linha presente se trata de personagens diferentes dos flashbacks, a julgar pela atmosfera letárgica e texto condensado. E arrastar um suposto mistério dessa organização é um dos pontos mais fracos do longa, que ainda insiste em um discurso raso e melodramático de vidas marcadas por arrependimentos e repressão. 

Chega a ser decepcionante que apesar de dispor de elementos simbólicos a exemplo do uniforme mesmo sendo queimado, não liberta Tom de viver reprimidoMy Policeman não sai da sombra de algo insosso. E o arco de perdão e redenção que define o retorno de Patrick, tentando encerrar a narrativa de maneira esperançosa e comovente, só prova que o cinema medíocre e ensaiado de Grandage não conseguiu ser: um filme sobre viver em repressão.

Meu Policial (My Policeman – EUA – Reino Unido, 2022)
Direção: Michael Grandage
Roteiro: Ron Nyswaner (baseado no livro de Bethan Roberts)
Elenco: Harry Styles, Emma Corrin, Gina McKee, Rupert Everett, Linus Roache, David Dawson, Freya
Duração: 114 min.

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