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Crítica | Meu Namorado de Natal: A Série Completa

Produção norueguesa comprova que narrativas natalinas não precisam ser irritantemente estereotipadas..

por Leonardo Campos
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Uma série inteligente e cativante. Assim podemos definir Namorado de Natal, produção norueguesa disponibilizada pelo streaming Netflix em duas temporadas. Pelo título e proposta inicial, pensamos ser mais uma daquelas narrativas natalinas óbvias demais, com diálogos expositivos e personagens caricatos, mas o engano diante das impressões preambulares é um deleite para o espectador que contempla, em suas temporadas de seis episódios cada, um argumento clichê adornado por atuações inspiradas e diálogos inteligentes. Os temas de sempre da dinâmica natalina estão todos por lá: a separação de um casal com casamento longo, a solidão, as cobranças para quem ainda não casou, as disputas entre irmãos, as decepções do cotidiano, dentre outros tópicos temáticos que se manifestam com mais intensidade na época natalina, haja vista os habituais encontros entre familiares, repletos de cobranças, comparações e demais embates entre seres humanos com pontos de vista distintos, um lugar em potencial para o estabelecimento da violência simbólica. Lançada entre 2019 e 2020, a série é uma grata surpresa para aqueles que esperavam, como já havia dito, o mais do mesmo.

Com episódios entre 26 e 30 minutos, dirigidos por Anna Gutto e Per-Clav Sorensen, Namorado de Natal nos apresenta tudo aquilo que é parte integrante da estética natalina: ambientes cobertos de neve, enfeites por todos os lados, muitas luzes vibrantes, atmosfera fria (norueguesa), dentre outros aspectos da linguagem deste subgênero dos filmes dramáticos e românticos. Com direção de fotografia de Havar Karlsen, a câmera em todos os episódios passeia pelos espaços concebidos de maneira eficiente pelo design de produção de Kristine Wilhensen, setor que capricha na direção de arte e na cenografia, mergulhando o espectador no clima de natal que é parte das questões dramáticas da narrativa. Na mencionada fotografia, temos instantes inspiradores, que revelam, como na cena do buquê no desfecho da primeira temporada, as coisas em camadas, não entregando tudo de qualquer jeito para o público, dando um tom de esmero estético para as situações mais aprofundadas abordadas pelo texto.

Ademais, em sua trilha sonora, diversos clássicos do período natalino são entoados pelos personagens ou apresentados em suas versões originais, amplificando ainda mais o clima da produção. Além disso, apostando no realismo, a série investe em personagens multiculturais, como é de fato a dinâmica do nosso mundo globalizado, inserindo também comentários políticos, xingamentos sem filtros, tópicos de gênero e sexualidade da contemporaneidade, sem cristianizar o desenvolvimento de suas tramas e subtramas, evitando a hipocrisia e radiografando personagens de “carne e osso”, isto é, fincados na realidade, todos com suas inseguranças, dilemas, etc. Seu mote principal é Johanne (Ida Elise Broch), uma enfermeira que está na entrada da casa dos 30 anos e se encontra aflita com a chegada do jantar de natal. A sua família provavelmente vai cobrar coisas sobre casamento e filhos e a sua ansiedade a faz se comprometer: ao alegar que está namorando alguém, ela se envolve numa série de encontros para arrumar um cara e apresenta-lo aos pais, irmãos e demais membros da família.

Assim, acompanhamos a sua saga com experiências divertidas e transformadoras. Expectativas são estabelecidas o tempo inteiro, reviravoltas sem excesso são contempladas nesta jornada entre o drama e a comédia romântica que nos faz abrir um imenso sorriso em sua caminhada narrativa. Trapalhadas, paixões antigas, situações inusitadas e tantos outros desajustes demarcam a saga da jovem, numa série com pé no realismo, mas proposta geral otimista no bojo dos relacionamentos. Incompatibilidades são tratadas como inevitáveis, algo que torna Namorado de Natal uma demonstração carismática de como a temática natalina não precisa ser tão irritantemente clichê como geralmente tem disso nas produções da própria Netflix e de canais como Hallmark. Dentre as situações mais divertidas, temos o encontro com os pais numa sauna, a experiência lésbica com uma médica, o reencontro com o ex-namorado, agora casado e com filhos, além dos momentos casuais com um novinho de 18 anos. Na seara reflexiva, temos a situação de seus pais, em desgaste, como debate para a protagonista repensar as suas próprias escolhas, o que envolve o término com um médico pernóstico e o desaceleração na busca por um amor quase fabricado, algo que talvez tenha que ser, como na vida real precisamos acreditar, fruto de um processo natural do encontro entre duas pessoas que se conheçam e passem a se gostar. A falaciosa magia natalina comum aos filmes natalinos, aqui, passa longe.

Namorado de Natal: A Série Completa (Home for Christmas, Noruega – 2019-2020)
Desenvolvimento: Amir Shaheen
Direção: Anna Gutto, Per-Olav Sørensens
Elenco: Ida Elise Broch, Eric Curtis Johnson, Gabrielle Leithaug, Mads Sjøgård Pettersen, Hege Schøyen, Courtenay Taylor, Oddgeir Thune, Allegra Clark, Arthur Hakalahti, Ghita Nørby
Duração: 26-30 min. por episódio (12 episódios no total)

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