A partir de meados da geração passada de videogames (PS3, Xbox 360 e Wii/ Wii U) a indústria passou a ser assolada por versões HD de clássicos dos consoles anteriores. A cada novo título, inúmeras outras remasterizações são lançadas, síndrome essa que, também, afeta Hollywood. O problema dessa manobra não está em tornar acessível determinados títulos para aqueles que se livraram dos antigos videogames e sim na falta de inovação dessas obras, que não passam de velhos jogos com leves melhorias nos seus filtros – os gráficos ou até a jogabilidade não é alterada de maneira alguma, chegando ao absurdo de jogos já disponíveis digitalmente ganharem versões “HD” com pouquíssimas diferenças, revelando, pois, a estratégia de marketing das desenvolvedoras em meramente relançar seu produto.
Voltemos um pouco no tempo, para 2004, e contemplemos um remake de verdade, que deveria servir como base para todas as remasterizações (sim, são coisas diferentes, mas ambas deveriam seguir a mesma “receita”). Refiro-me a Metroid: Zero Mission, uma obra que não apenas recria, em gráficos atualizados, todo o Metroid original, como introduz novos elementos, áreas a serem exploradas e história, surpreendentemente superando o primeiro da franquia em todos os sentidos possíveis, não desconsiderando sua importância histórica, claro.
Em essência, o jogo, lançado originalmente para Gameboy Advance, atualmente disponível no Virtual Console do Wii U, traz a mesma trama do primeiríssimo da série, com adições de cutscenes e narração em texto a fim de melhor encaixar tal obra com suas muitas sequências. A caçadora de recompensas, Samus Aran, é enviada para o planeta Zebes para destruir Mother Brain, líder dos Piratas Espaciais e acabar com todos os metroids do local. Após uma breve sequência da aterrissagem da nave, começamos o jogo exatamente da mesma forma que o original, conseguindo, inclusive, a primeira melhoria, a morph ball, logo nessa sala inicial.
Em termos de gameplay, Zero Mission funciona da mesma maneira que o primeiro Metroid: devemos percorrer o extenso mapa de Zebes, dividido em diversas áreas específicas, em crescente grau de dificuldade, adquirindo melhorias da armadura que garantem novas habilidades e permitem acesso a novos lugares. O game, porém, não se mantém no óbvio, apenas atualizando os gráficos, ele utiliza diversos dos elementos icônicos introduzidos ao longo da história da franquia, além de possibilitar movimentos antes inexistentes no jogo original. Em razão disso, mesmo que essa seja a primeira aventura de Samus, sentimos como se estivéssemos jogando a fórmula de Metroid no seu auge, com direito a toda a evolução pela qual a franquia passou desde 1986.
É importante notar, porém, como essas mudanças são feitas de tal forma a não comprometer a atmosfera do jogo base. A sensação de solidão, tão presente naquele, retorna em Zero Mission, mesclado com uma certa empolgação por estarmos vendo o mesmo game, apenas melhorado. Aliás, não podemos deixar de falar sobre a trilha sonora, toda composta pelas músicas originais (com algumas adições para os trechos inéditos) – essas icônicas e inesquecíveis melodias certamente afetam a experiência de maneira significativa, de tal maneira que nos sentimos compelidos a jogar com fones de ouvido para melhor escutar tais faixas, as quais perfeitamente se encaixam com a narrativa do jogo.
Em termos gráficos, a obra não deixa nem um pouco a desejar, fazendo bom uso de desenhos em 2D, mesclados com os sprites do jogo, garantindo, assim, chefes perfeitamente detalhados, inimigos com características próprias facilmente identificáveis e, é claro, uma protagonista cujos movimentos dialogam diretamente com a fluidez da jogabilidade, essa que, jamais, nos deixa na mão, funcionando de maneira intuitiva, simples e funcional. Vale lembrar que as mecânicas demonstradas aqui são fruto de avanços das prévias entradas da série, desde Metroid II: Return of Samus, passando por Super Metroid, até o excelente Fusion.
O único verdadeiro “porém” dessa obra é a sua duração. O Metroid original se tornou um favorito dentre os speedrunners, com jogadores chegando a zerar o jogo em aproximados quinze minutos – fator que é incentivado pela presença de diferentes finais, determinados pelo tempo gasto para chegar até o final da história. A intenção da Nintendo nesse remake é claramente a de manter esse espírito vivo, fazendo de Zero Mission um game consideravelmente curto para os padrões atuais (eu, por exemplo, terminei o jogo com 57% em mais ou menos três horas). Isso pode desmotivar alguns jogadores e, sim, mais conteúdo poderia ter sido adicionado, mas a essência da franquia está tanto no seu valor de replay quanto na exploração – garantir os 100% certamente irá custar algumas horas, contrabalanceando a curta duração da história, que, aliás, chega a ser expandida com um ato adicional após a derrota de Mother Brain.
Mesmo com essa característica em mente, fica difícil não enxergar Metroid: Zero Mission como uma obra que beira a perfeição, uma verdadeira aula de como se fazer um remake, dando um verdadeiro “tapa na cara” das desenvolvedoras que apenas pegam o mesmo jogo, colocam um filtro e vendem como versão HD. Capturando toda a essência da primeira entrada da franquia, adicionando elementos de destaque, frutos da evolução dessa série, o game não apenas supera o original, como demonstra ser a versão definitiva da primeira missão de Samus Aran.
Metroid: Zero Mission
Desenvolvedora: Nintendo
Lançamento: 9 de fevereiro de 2004
Gênero: Ação, aventura, plataforma
Disponível para: Gameboy Advance, Virtual Console