Home TVTemporadas Crítica | Mestres do Universo: A Revolução – Parte 1

Crítica | Mestres do Universo: A Revolução – Parte 1

Bagunçado, mas ainda interessante.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas das demais temporadas. 

Se Kevin Smith já planejava o retorno de He-Man ao protagonismo da série ou se A Revolução é uma correção estratégica depois de reclamações da turma do “estragaram minha infância”, pouco importa. O que realmente importa é que, depois dos acontecimentos de Salvando Etérnia, parece perfeitamente natural e lógica a reinserção do loiro bombado de tanga como destaque da continuação (ou, pelo menos, um dos destaques), algo que Smith faz sem esquecer de todos os personagens que alçou ao estrelato anteriormente. E isso seria ótimo se essa primeira parte de A Revolução tivesse sido escrita e realizada de maneira a caber no apertado tempo dos cinco episódios que tem à sua disposição, mas a produção, infelizmente, acaba tropeçando na maneira como insere novos personagens, reconta histórias do passado e lida com as duas linhas narrativas principais.

Começando, então, pelas tais linhas narrativas, na primeira delas Teela (Melissa Benoist dando voz à personagem anteriormente de Sarah Michelle Gellar), agora a Feiticeira, tenta reconstruir Pretérnia de maneira que as almas dos heróis caídos possam ir para algum lugar, tendo que, para isso, dominar os tipos diferentes de magias ancestrais do planeta. A segunda é a boa e velha luta de He-Man (Chris Wood) contra seu arqui-inimigo Esqueleto (Mark Hamill), ou melhor, a versão tecnológica dele rebatizada de Esqueletek, desta vez trabalhando para a Placa-Mãe (Meg Foster) que, por sua vez, executa um plano cheio de peças móveis para facilitar a invasão de Etérnia por Hordak (Keith David). São duas histórias que pouco se interpenetram nessa primeira parte, com os roteiros deixando-as apenas tangenciarem, a ponto de os núcleos serem completamente separados, um contando com Teela e Maligna (Lena Headey) e a outra com He-Man e todo o restante depois que o Rei Randor (Diedrich Bader) morre e a coroação de Adam como o novo rei é interrompida pelo retorno do Príncipe Keldor (William Shatner), meio-irmão dado como falecido rei.

Mas o tangenciamento narrativo nem é um problema muito grave, pois a convergência pelo menos parcial acaba acontecendo ao final. A questão é que Kevin Smith não se contenta com essas duas histórias e as usa como desculpa para rechear os episódios de vislumbres de personagens antigos e novos para vender bonecos, referências à animação original dos anos 80, inclusive com os traços simples e clássicos, toda a presença corrida de Hordak, com menções indiretas até à She-Ra e até mesmo a inserção de ninguém menos do que Gwildor (Ted Biaselli), o thenuriano introduzido originalmente no longa-metragem live-action de 1987 que é oficialmente trazido para o cânone com os diálogos diretamente referenciais entre Duncan (Liam Cunningham) e o pequeno ser orelhudo de habilidades tecnológicas. Apesar de tudo ser válido e até bacana, acaba sendo coisa demais para tempo de menos (até Granamyr – voz de John De Lancie – dá as caras!) e o resultado é uma história fragmentária que se perde entre momentos de ação e outros de marasmo, além de, por vezes, trair o que o próprio Smith construíra, ou seja, algo menos bobalhão do que a série original, o que fica particularmente evidente pela maneira como He-Man e basicamente todo mundo em Eternos imediatamente acredita nas óbvias esparrelas contadas por Keldor para ser coroado rei ou como as transformações finais pecam pela breguice estética extrema que estaria perfeitamente em casa na outra série do He-Man do Netflix, aquela decididamente infantil e excelente, por sinal. Senti-me voltando para a década de 80 e não de uma forma boa…

Por outro lado, há genuinamente bons momentos em A Revolução. Apesar de repentina, a morte do Rei Randor é bem conduzida e tem peso dramático e o uso de Gwildor tem uma boa lógica interna dentro da temática geral que é o conflito entre tecnologia e magia. Além disso, o embate e, depois, aliança psicológica entre Keldor e Esqueletek é um recurso narrativo muito bem executado que merecia até mais tempo do que teve, nem que fosse para termos mais tempo do Keldor de Shatner manipulando seu alter-ego vivido por Hamill. E, claro, a pancadaria entre Esqueletek e Hordak funciona corretamente, ainda que tenha um final apressado, que parece fácil demais, outro problema criado por essa primeira parte ter material suficiente para duas. Finalmente, apesar de não gostar do tom carnavalesco imposto pelas “evoluções” das aparências dos personagens principais, a alongada batalha que encerra a Parte 1 também merece destaque, com o roteiro cavando espaço para todos, inclusive os extras famosos, mas silenciosos que estão ali somente para justificar o comércio de figuras de ação, a razão de ser da criação de Lou Scheimer, vale lembrar.

Mestres do Universo: A Revolução se atrapalha na afobação de fazer muito em pouco tempo e teria se beneficiado ou de uma temporada maior ou de roteiros menos ambiciosos e menos recheados de referências desnecessárias para impulsionar a narrativa. Continua sendo uma ótima forma de subir o nível da série original oitentista, trazendo-a para uma nova era, e de organizar a bagunça geral que seguiu de sua criação, com narrativas conflitantes e incompletas. E, no final das contas, será um feito muito interessante e bem-vindo se Kevin Smith ainda for capaz de efetivamente introduzir a irmã do Príncipe Adam nessa salada, como parece apontar a segunda cena do epílogo. Vamos ver até onde ele vai com essa história!

Mestres do Universo: A Revolução – Parte 1 (Masters of the Universe: Revolution – EUA, 25 de janeiro de 2024)
Desenvolvimento: Kevin Smith (baseado em obra de Lou Scheimer)
Direção: Adam Conarroe, Patrick Stannard
Roteiro: Kevin Smith, Tim Sheridan, Diya Mishra
Elenco: Chris Wood, Melissa Benoist, Mark Hamill, Lena Headey, Tiffany Smith, Liam Cunningham, Diedrich Bader, Gates McFadden, Stephen Root, Griffin Newman, Susan Eisenberg, Kevin Michael Richardson, Henry Rollins, Tony Todd, Danny Trejo, Meg Foster, Keith David, John De Lancie, Ted Biaselli, William Shatner, Tim Sheridan, Harley Quinn Smith, Brett Rash, Jakari Fraser, Cam Clarke, Jeffrey Combs, Grey DeLisle
Duração: 129 min. (cinco episódios)

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