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Crítica | Menino Maluquinho – O Filme

A verdadeira infância antes das redes sociais.

por Arthur Barbosa
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Se você foi uma criança que brincou na rua antes da ascensão das redes sociais, saiba que o seu período infantojuvenil foi feliz. Contudo, infelizmente, com o passar dos anos, ele não vai voltar nas mesmas configurações; pelo menos, o novo ato de brincar é diferente: as telas dos computadores e, com maior adesão, a dos celulares, roubaram a cena. Já no passado, a rouba bandeira, o pega-pega e o futebol encantavam as diversas brincadeiras entre a meninada. Elas foram abordadas de forma exemplar no clássico infantil Menino Maluquinho – O Filme (1995), inspirado na obra homônima do cartunista brasileiro Ziraldo (1932 – 2024).

Com uma história atemporal até os dias de hoje, a qual encanta crianças e adultos, o protagonismo é vivido por Samuel Costa (que voltaria em Menino Maluquinho 2 – A Aventura), interpretando o nosso querido Menino Maluquinho. Embora não saibamos o verdadeiro nome do personagem, conseguimos ser cativados pelas peripécias do garoto arteiro, seja dentro de casa, seja na escola. E por ter essa pureza e essa simplicidade infantil, o filme, ao meu ver, é a melhor retratação da infância brasileira antes da existência massiva da internet, uma vez que os atores mirins, além de estarem atuando, estavam vivendo o que eles sabiam fazer de melhor: serem indivíduos do público infantil na mais natural forma possível, isto é, inocentes sonhadoras crianças!

Além disso, a “brasilidade” e o regionalismo do Estado de Minas Gerais (MG) estiveram presentes em todas as cenas. A Rua Congonhas, no bairro Santo Antônio, em Belo Horizonte, e as vielas da cidade histórica de Tiradentes, por exemplo, foram espaços utilizados para as gravações, características que deixaram o longa com um charme especial e encantador. Ademais, as cores dos cenários nos remetem a um passado que não volta mais: fachadas das casas coloridas, ônibus escolar amarelo e a vida sem o universo digital. Realmente, só quem viveu sabe como era uma época boníssima e, se pudéssemos escolher jamais desejaria ser adulta, e sim ser eternamente uma criança do final dos anos 1990 e início dos anos 2000.

Em meio a tantas brincadeiras da criançada, como carrinho de rolimã e bente-altas, tivemos uma mesa farta de doces e guloseimas da roça, assim como o ato de roubar fruta do pé. Será que a mocidade de hoje sabe o que isso significa? Inclusive, se os papais e a mamães não esclarecerem as referências citadas no filme, os filhos deles vão ficar sem entender algumas falas, desde o grupo musical britânico, os Beatles, com o Bocão cantando Yellow Submarine, até a menção à histórica Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Sem contar, é claro, na nostálgica música-tema na voz do querido Bituca, o cantor Milton Nascimento, pois “vida de moleque é vida boa” e “vida de menino é maluquinha”.

Outra característica marcante de o Menino Maluquinho – O Filme é a naturalidade e a facilidade de o garotinho brincar com o tempo. Ele fazia o próprio tempo acontecer, transparecendo que as 24 horas diárias eram insuficientes em meio a imensidão de energia e de ideias do personagem, já que “(…) o tempo para ele faz horas: horas a mais!”. Esse excedente de tempo vimos em duas cenas emblemáticas: no mágico sonho que ele teve com a Moça do Tempo, com ele agarrado ao pêndulo do relógio, e o salvamento na árvore realizado pelo Vô Passarinho (Luiz Carlos Arutin de Tieta), o qual virou um divertidíssimo passeio de balão no interior mineiro. 

Portanto, assim como outras obras brasileiras lúdicas, como a série Castelo Rá-Tim-Bum, o filme – repleto de poesia – representa verdadeiramente a pura infância brasileira, repleta de diversão, de cores e, principalmente, de alegria. Essas produções nacionais contagiam crianças, adultos e idosos, ou seja, é um conteúdo familiar, destinado para todas as idades. Menino Maluquinho – O Filme é a eterna criança guardada em nossos corações. O filme só me deixou com um pequeno questionamento na minha mente: qual será o verdadeiro nome do Menino Maluquinho? Alguém aí, arrisca um palpite? Acredito que isso não foi revelado, pois o Ziraldo desejou representar a criança brasileira, que, apesar de ser “maluquinha”, era uma criança tentando ser feliz.

Menino Maluquinho – O Filme | Brasil, 1995
Diretores: Helvécio Ratton, Tarcísio Vidigal
Roteiristas: Alcione Araújo, Helvécio Ratton, Maria Gessy, Ziraldo
Elenco: Samuel Costa, Patrícia Pillar, Vera Holtz, Roberto Bomtempo, Luiz Carlos Arutin, Samuel Brandão, João Romeu Filho, Hilda Rebello, Cristina Castro
Duração: 80 minutos (01h20)

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